ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. Ed. Ática. São Paulo. 1989.
A obra Estética da Recepção e historia da literatura se divide em capítulos, nos quais a autora Regina Zilberman, uma das maiores especialistas em literatura infanto-juvenil, busca apresentar aos respectivos leitores as principais teorias da Estética da Recepção, doravante ER.
Zilberman na referente obra oferece um caminho a seguir ao seu leitor, para que este não se dissocie diante da leitura a experiência estética e hermenêutica literária. Não deixando de lado a parte artística da literatura, que surge tanto o ato da sua produção quanto o da sua interpretação.
Assim como na obra A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção, organizado por Luiz Costa Lima(1979), que contém capítulos sobre Hans Robert Jauss, de Wolfgang Iser, de Stierle e Gumbrecht, capítulos básicos para o entendimento dessa teoria. Zilberman aponta os mesmos teóricos, porém vai além, pois ela propõe uma reflexão acerca da historia da Literatura e da Estética da Recepção. Após conceituar as teorias referentes à ER, a autora propõe colocar em pratica a teoria de Jauss na obra Helena de Machado de Assis.
Com relação à ER, Zilberman (1989) aponta que para Jauss, a história da literatura era baseada nos referenciais de padrões antigos e ultrapassada. Jauss queria promover uma nova teoria da historia da literatura.
A entrada da estética da recepção no palco da teoria da literatura é assinada pela conferência ministrada por Jauss na Universidade de Constança, em 13 de abril de 1967 [...] Desde o título original (“O que é e com que fim se estuda história da literatura”) ao que veio a ter depois (“A história da literatura como provocação da ciência literária”) e passando pelo foco dado ao problema, o Autor parece ter a intenção de polemizar com as concepções vigentes de história da literatura. (ZILBERMAN, 1989, p.29)
Cabe ainda ressaltar que essa proposta da Estética da Recepção visa à ênfase e o enfoque no leitor.
Zilberman (1989, p.33-37), aponta que Jauss, divide a ER em sete teses, sendo que as quatro primeiras são as premissas. Na primeira, a literatura, tem uma natureza histórica que possibilita a atualização da obra, por meio da relação dialógica entre leitor e texto; a segunda entende da recepção e efeito de uma obra, abrindo os horizontes de expectativas do leitor; a terceira leva a reconstituição do horizonte de expectativas de acordo com a percepção estética que a obra é capaz de produzir. Na quarta, examina a relação do texto com a época de seu aparecimento.
Qual é o papel do leitor diante da obra literária? Seria perceber as sutilezas da obra, preencher seus "vazios" textuais, reconstruir as perguntas às quais devem ser respondia. A relação dialógica entre o texto e o leitor cabe para resgatar e analisar os significados atribuídos ao texto. Sendo esta uma das teses proposta por Jauss, um texto nunca é monológico ou atemporal, pois sempre ocorrerá a atualização no ato da leitura.
Essa relação, não é única, sendo que as leituras mudam a cada época. E ainda o leitor interage com a obra a partir de suas experiências anteriores, isto é, ele carrega consigo uma bagagem de leitura e cultural que interfere na recepção literária.
Zilberman(2008, p.96), aponta que a Estética da Recepção necessita da ação do leitor:
A Estética da Recepção aposta na ação do leitor, pois dele depende a concretização do projeto de emancipação que justifica a existência das criações literárias. E, ao registrar seu débito para com Aristóteles, completa o circuito histórico dentro do qual se localizam as pesquisas que privilegiam a recepção e a leitura no âmbito da Ciência da Literatura.
Seguindo esta linha que Zilberman encerra a parte teórica do livro, aplicando a forma didática com analise da obra Helena(p. 74-98). A autora aponta ainda que, ao se debruçar sobre essa obra, manteve-se "dentro dos limites da metodologia sugerida por H. R. Jauss [...]" (p. 99).
Com relação ao capitulo voltado à obra Helena,
O texto motiva o retrospecto, obrigando o leitor a interpretar os acontecimentos. Não basta acompanhar a linearidade cronológica com que os eventos são apresentados: enigmas são plantados durante esse percurso e precisam ser reexaminados, a fim de se alcançarem o sentido e a coerência do relato. (ZILBERMAN, 1989, p.76)
Percebe-se que para a compreensão da obra o leitor deve estar atento as pistas e aos enigmas impostos na mesma.
Enfim entende-se ao fim da leitura que a personagem de Helena que coincidi a sociedade moderna, ou seja, a emancipação feminina. Mas como, ainda não pode assumir esse papel em razão de sua época social. Ela tem apenas duas opções: permanece na dependência dos Vale ou se prostitui, como sua mãe, que fez ambas as escolhas.
Conclui-se assim que esta obra é de grande referencial ao estudo da Estética da Recepção. Sendo que a autora utiliza-se de uma linguagem clara e objetiva, sem fugir dos conceitos aplicados pelos grandes teóricos. Cabe ainda salientar que a autora proporciona o momento da aplicação de toda teoria em uma pratica didática, no capitulo Helena: um caso de leitura.
Bibliografia
LIMA, Luis Costa (org.). A Literatura e o Leitor: textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1979.
ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. Ed. Ática. São Paulo. 1989.
ZILBERMAN, Regina. Recepção e leitura no horizonte da literatura. Alea [online]. 2008, vol.10, n.1, pp. 85-97. ISSN 1517-106X.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2008000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 06 jan. 2013.