ACOMPANHAR E CONDUZIR

     De certo você já ouviu falar da história dos dois sujeitos presos na mesma cela. Quando olhavam pela janela da cela á noite, um via as estrelas, o outro só via as barras. Isso é assim mesmo. O mundo é um só , mas as formas que ele assume na mente das pessoas são variadas. Para uns ele é pequeno, chato, cinzento, inodoro, insosso. Para outros é imenso, redondo, colorido, saboroso.
O mundo é uma aquarela que cada um de nós pinta a seu modo. Como é que o seu mundo se apresenta em sua mente? Como você o vê? Ele se parece com um rio onde as pessoas têm que nadar de costas com medo das piranhas? Tem gente que vê a coisa assim. O chão que você pisa se assemelha a um território onde você tem que andar de mansinho para não detonar minas? Não são poucas as pessoas que pensam assim. O seu mundo é um lugar onde você tem que ficar construindo proteções contra tudo e contra todos? Tem gente que vive fazendo isso o tempo todo.
     Uma pessoa que vê o mundo dessa forma jamais vai achar que ele seja um lugar seguro e agradável para viver, mesmo que ele viva na Dinamarca, na Islândia, na Suécia, ou qualquer outro lugar onde o alto índice de qualidade de vida é reconhecido por todos.  Por outro lado, encontremos pessoas bastante felizes e se sentindo seguros nas favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Joanesburgo, ou qualquer outra cidade do mundo, onde viver seja reconhecidamente perigoso.
O mundo que nós vivemos é aquele que nós construímos em nossa mente. E ele é feito de sons, cores, aromas, paladares e sensações táteis. Nem sempre nós nos damos conta da forma como ele é construído dentro da nossa cabeça. Para aquele cara que olhava o céu e só via as barras da janela da cela, com certeza o mundo é feito com os sons mais desagradáveis e dissonantes que você poder imaginar; é bem possível que ele tenha colocado no mundo dele as cores mais tristes, mais ou menos brilho, mais ou menos contraste de ambiente ; é possível também que ele seja uma pessoa muito sinestésica, ou seja,  alguém altamente sensível, que quer sentir as coisas, e o mundo que ele construiu dentro de si mesmo é frio, limitado, comprimido, áspero, insípido, inodoro, etc.
     O mundo que a gente vê, ouve, come, cheira e toca não é o que é, mas o que nós pensamos que é. E ele só existe, dessa forma e desse jeito, para nós mesmos. Para ninguém mais ele tem essas mesmas cores, esse mesmo brilho, essa mesma dimensão, essa mesma tonalidade de sons, essa mesma textura, dimensão ou foco. E a maior parte dos conflitos que enfrentamos na vida decorre da nossa incapacidade de aceitar que os mundos alheios possam ser tão verdadeiros quanto os nossos, simplesmente porque eles não têm a mesma aparência interna que o nosso tem. Pense nisso a próxima vez que entrar no quarto do seu filho e perceber aquela bagunça, ou a próxima vez que a sua namorada (o) ou esposa (o) aparecer com aquela roupa que você acha horrível, a próxima vez que ela (e) quiser ver aquele programa de TV, ou filme, que você detesta, ou comer aquela comida que você não gosta.
      O nosso mundo interno é como o quarto em que dormimos ou a casa em que moramos. Cada um de nós o decora de uma maneira. E se fizemos assim é porque é assim que nos agrada ou porque não sabemos fazer de outro jeito. Assim, se você puder ensinar aos outros um jeito melhor de decorar o mundo dele, ensine;  se não puder, não critique o que ele fez.
Aliás, se você quiser manter com qualquer pessoa um relacionamento produtivo, a primeira coisa a aprender será viver a viver no mundo dela primeiro antes de querer obrigá-la a viver no seu. Foi isso que Jesus quis dizer com aquele conselho; “ se alguém quer obrigá-lo a andar mil passos, vai com ele dois mil”. Jesus chamava isso de desprendimento. A PNL chama de acompanhamento. Quer dizer: só aquele que sabe acompanhar terá competência para conduzir.

DO LIVRO “Á PROCURA DA MELHOR RESPOSTA”- ED. BIBLIOTECA 24X7- SÃO PAULO, 2010

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/12/2012
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