50 Tons de Cinza - foi somente sexo
Tinha prometido a mim mesma que iria parar de ler livros que não fossem relacionados com o Direito. Mas quando “50 tons de cinza” foi lançado, e virou febre, não me contive e acabei lendo os três livros da série em apenas um mês. O novo aspecto que a autora trouxe me deixou intrigada, curiosa e impressionada. Erika L. James desenvolve um romance entre a jovem inocente e recém-formada Anastácia Steele e Chritian Grey, um jovem e belo empresário que possui hábitos sexuais “diferentes” e um passado obscuro. Tratar do sadomasoquismo com tanta naturalidade, este assunto que mesmo em nossa sociedade liberal ainda é um tabu para a maioria da população, foi de fato surpreendente para mim. O lado sexual, e certamente apelativo, foi o que mais se destacou por todo o livro, fazendo com o que inexperiente público alvo, adolescentes em sua maioria, se deleitasse em cada descrição detalhada de sexo. Mas não posso deixar de mencionar as senhoras, sim, senhoras, que se frustraram secretamente por perceber o quão longe estão dos orgasmos de Anastácia em seus casamentos, marcados pela rotina e, muitas vezes, apatia. Enfim, várias mulheres se impressionaram, muitas desejaram Christian Grey e, porque não dizer, outras tantas passaram a ter novos fetiches. James abriu muitas mentes, mas não foi muito original em sua história. Você deve estar pensando qual outro livro de sucesso abordara o sadomasoquismo com tanta abertura e naturalidade. No entanto, não é disso que se trata. Crepúsculo e 50 tons de cinza, não há como não notar as semelhanças. Sim, um inventa um mundo mágico cheio de criaturas míticas, outro é realista e fala de sexo sem pudor. Mas vou lhes mostrar que existem mais aspectos em comum do que imaginam. Bella Swan, uma menina comum, com baixa autoestima, nenhuma experiência em relacionamentos, tímida, tem uma ligação especial com o pai, a mãe tem vários relacionamentos, louca por literatura inglesa, inteligente, desapegada das coisas materiais, e cheia de admiradores que se apaixonam por sua simplicidade. Ela te lembra alguém? Se Bella tivesse olhos claros e já tivesse se formado na faculdade, eu diria que ela é o clone de Anastácia. Edward Cullen tem um passado marcado por falhas, traumas e culpa, foi adotado por pais maravilhosos, ótimo relacionamento com os irmãos também adotados, tem baixa autoestima, não se sente digno de Bella, é extremamente protetor e preocupado, é muito bonito e milionário. Christian e Edward, notáveis afinidades. Chega a ser engraçado. Dois casais que mergulham em relacionamentos profundos e irreversíveis. Que passam momentos difíceis, incrivelmente parecidos também, mas se amam acima de todas as coisas, incondicionalmente. E ainda existem muitos outros pontos iguais, entretanto vou parar por aqui, servindo apenas para iluminar o começo de sua análise entre as duas séries. Não tiro o mérito da autora, mas Stephenie Meyer, além de maior originalidade, sem dúvidas tem uma narração de maior qualidade, envolvendo o leitor com muito mais intensidade na história. Nos detalhes, na descrição dos sentimentos, ações e reações, das personalidades dos personagens, Meyer é indiscutivelmente melhor. A repetição enfadonha, a falta de ligação plausível entre os acontecimentos, e o vocabulário escasso, marcam “50 tons de cinza” e os livros seguintes. Contudo, antes que eu me esqueça, admiro James por ter acrescentado um terceiro personagem para atrapalhar o casal apenas no terceiro livro, conseguindo manter o foco praticamente apenas entre Christian e Anastácia durante os dois primeiros. Isso foi impressionante, e Stephenie Meyer poderia ter tentado algo parecido, não colocando uma grande ameaça ao romance a cada novo lançamento.
O que eu posso dizer? Valeu a pena pelo sexo.