O Morro dos Ventos Uivantes

De Catherine a Catherine

Não acredito que sejam spoilers se já está familiarizado com a estória do livro, mas está avisado.

Único e clássico romance de Emily Brontë, que certas vezes reflete no modo como cresceu.

Tem quem diga que Heathcliff e Catherine possam ser comparados com Romeu e Julieta, o que faz sentido vendo pelo amor que sentiam um pelo outro, mas o modo como se envolvem e como expressam os sentimentos é completamente diferente. Há aqueles para me chamar de louca, mas considero o amor entre as personagens de Emily muito mais profundo do que entre as de Shakespeare, talvez por não ficar tão explícito e ao mesmo tempo dar a ideia de que pertenciam um ao outro. Não se completavam, eram a mesma pessoa.

A estória começa com Sr. Lockwood, que buscava exílio ao hospedar-se na Granja, chegando ao Morro e conhecendo Heathcliff, Cathy, Joseph, Hareton e a pessoa mais próxima de indiferença entre todos, Nelly Dean. Quando Lockwood acaba pegando uma gripe e é recomendado que fique de repouso, pede a Nelly que o faça companhia e lhe conte um pouco da história que envolve a frieza que todos carregam consigo e não se preocupam em esconder.

Nelly narra tudo detalhadamente e, às vezes, mostra seu ponto de vista. Desde o ponto onde Heathcliff foi levado ao Morro por Sr. Earnshaw (ao mesmo tempo em que bem aceito por Catherine, nem um pouco aceito por Hindley, irmão da garota) foi descrito como um cigano de pele escura, possuidor de um olhar sombrio e, na vista de Nelly, um rapaz bonito que não aparenta por não ser bem cuidado. Catherine já se mostra mimada, interesseira e de beleza única.

Com tantas diferentes personalidades envolvidas e um amor tão mais próximo de ser puro ódio, vários estudiosos - ou mesmo apenas leitores curiosos - tentam revelar o "mistério" por trás da obra. Entre a família Earnshaw, moradores do Morro dos Ventos Uivantes, e a família Linton, moradores da Granja dos Tortos, todos expressam uma quantidade absurda de loucura, ódio e paixão. Ao mesmo tempo em que tudo se encaixa perfeitamente e faz sentido, percebe-se sempre que algo não está certo, pode-se até dizer, que está faltando. Até o último ponto final, essa sensação não passa, e apesar de Heathcliff se destacar um pouco mais entre o meio e o fim do livro, Catherine domina a estória do começo ao fim, consegue interferir em todas as personagens, estando viva mesmo após a morte.

Outro ponto interessante a se destacar: normalmente, o cenário é descrito de acordo com o que sentimento que está sendo passado, contudo, Emily não segue essa regra. Em momentos, descreve um lindo cenário de primavera, detalhando as flores nascentes e pássaros cantantes, enquanto (mais) uma tragédia ocorre. Talvez por esse fator o livro se torne tão melancólico.

Considerei a escrita relativamente fácil de compreender para um livro lançado em 1847, mesmo que, certas vezes fique um pouco enrolado, a profundidade emocional alcançada nessa leitura é algo incompreensível. Isso é, para aqueles que gostam de um pouco de tristeza nonsense. Existem várias possibilidades de conclusão e ninguém nunca irá saber o que a autora pretendia passar, mas as discussões acerca se tornam realmente interessantes. Ainda fica o pensamento de que Catherine e Heathcliff não ficam juntos justamente porque são muito parecidos.

Entre os últimos capítulos encontrei a melhor parte do livro, já com a filha de Catherine (também chamada Catherine, mas sempre referida como Cathy) e sua louca história com Linton/Heathcliff e Hareton. Dá para se dizer que a tristeza se dispersa (mas não se perde) um pouco nesse momento. Algo que merece destaque, é o interessante modo como Heathcliff morre, enlouquecendo assim como Catherine. E como se aprende ao longo do livro, nada que Emily Brontë escreve é por acaso...

Embora tenha entrado em minha lista de favoritos, não é recomendado para qualquer um. É necessário um alto nível de conhecimento na língua portuguesa, paciência e muita (muita) concentração, quatro estrelinhas no Skoob por isso.

Diana Lopes
Enviado por Diana Lopes em 01/12/2012
Código do texto: T4013998
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