OS FILHOS DE NOÉ-AS ORIGENS DO RACISMO


 
“Os filhos de Noé, que saíram da arca, eram Sem, Cam e Jafé. E Cam é o pai de Canaã. Estes são os três filhos de Noé, e por eles se propagou todo o gênero humano sobre a terra.” Gênesis, 9;18
 
 
 
 
Três foram os filhos do piedoso e nobre Noé.
Com as esposas, acompanhando o patriarca,
Foram as pessoas que entraram naquela arca.
Eles se chamavam Sem, Cam e o caçula Jafé.
 
Dos três se originou a nova espécie humana.
Sem foi pai dum povo conhecido por semita.
Cam gerou a raça que foi chamada de camita,
De Jafé, o Ário, saiu a raça chamada de ariana.
                                                            
Pelo Oriente Médio suas tendas espalharam,
Os semitas morenos de perfis bem definidos.
Os camitas de tez escura a África habitaram.
 
Para leste e para oeste imigraram os arianos.
Homens de guerra, eles são hoje conhecidos,
Por ter antecedido a nobre raça dos romanos.
                            
 
Quando as águas do dilúvio baixaram, Noé abriu as portas da arca e soltou os animais para que eles repovoassem a terra. A  Noé e seus três filhos, Deus abençoou dizendo: "Sede fecundos, , multiplicai-vos e enchei a terra. Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles vos são  entregues em mão. Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde. Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue. Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao homem {que matar} o seu irmão, pedirei conta da alma do homem. Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem. Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente." Gênesis, 9;1 ...7.
 
Se Deus disse mesmo tudo isso a Noé e seus filhos é difícil de saber. Mas que era exatamente isso que os cronistas bíblicos queriam ensinar ao mundo, isso não resta dúvidas. Pois nesses preceitos está toda a filosofia sobre a qual a tradição do povo de Israel está assentada. É a filosofia do Deuteronômio. Nela está também boa parte do fundamento do Decálogo. Aí está, por exemplo, o preceito que justifica a punição do assassinato e a lei de talião, que toma olho por olho e dente por dente. 
 
Disse também Deus a Noé e seus filhos: "Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade, assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra." Deus disse mais: "Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras: Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Quando eu vir o arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra.
 
A idéia de que o povo de Israel era o povo preferido de Deus sempre foi um preceito defendido pelos israelenses com unhas e dentes. Nem quando sofriam as mais acachapantes derrotas e eram submetidos ás mais terríveis dores, eles deixaram de acreditar nisso. Criaram uma estranha teologia para justificar o fato de Israel nunca ter conseguido se tornar uma potência, nem ficar a salvo de seus inimigos, que volta e meia, invadiam seu território e escravizavam seus habitantes. Para eles, essas vicissitudes da História eram a vontade de Deus. Deus os favorecia quando eles eram fiéis e os castigava quando eram infiéis.
Essa passagem em que Deus faz uma aliança com Noé e sua descendência é a própria semente do alicerce da idéia plantada pelos israelenses, a respeito do seu direito de herança como povo dileto de Deus. Essa aliança seria renovada de tempos em tempos, primeiro com Abraão, depois com Moisés, com Davi, com Zorobabel, e nunca deixaria o imaginário do povo de Israel, culminando com a emblemática história do Messias, que alguns judeus ainda esperam até hoje, pois eles nunca aceitaram que Jesus fosse personagem.
Agora, porque será que Deus, ser onipotente, onividente, onipresente, precisaria por um arco colorido no céu para se lembrar da aliança que estava fazendo com a nova humanidade que estava criando a partir da família de Noé? Essa é uma informação que parece estar despregada no contexto da tese.
Que esse trecho tem claras conotações ideológicas parece não haver dúvidas. Mas porque o arco-íris?Porque Deus usaria uma ilusão de ótica- pois tal é o arco-íris- para se lembrar de um compromisso que Ele estava assumindo, como se fosse um marido esquecido que se esquece do aniversário da esposa?
É evidente que se trata aqui de um simbolismo que está conectado com antigas crenças solares, oriundas principalmente das religiões onde o sol era o símbolo da divindade. A idéia de que o arco-íris era um sinal dos deuses era uma crença comum a vários povos antigos, que nele viam uma manifestação da divindade na terra. Eles não tinham, evidentemente, a noção de que se tratava de um fenômeno natural provocado pela refração da luz do sol nas gotas de chuva, provocando um espectro de cores, pois essas descobertas só foram feitas no início do século XVIII, quando cientistas como Newton e Descartes estudaram o fenômeno e o descreveram em termos científicos.
Até então o arco- íris era considerado uma manifestação divina sobre a terra, e cada povo o associava a um elemento da sua tradição. Os gregos, por exemplo, diziam que ele era uma deusa chamada Íris, aquela que trazia as mensagens dos deuses para os homens; na mitologia dos vikings e dos povos nórdicos, ele era uma ponte entre a terra e o céu. Uma lenda irlandesa afirmava que era o reflexo do ouro escondido na terra pelos duendes; para os chineses, a luz do arco-íris provinha de uma abertura feita no céu por uma deusa chamada Nun Wa.
Assim, é possível imaginar que os cronistas bíblicos tenham escolhido o arco-íris para simbolizar a aliança entre Deus e a família que iria iniciar a genealogia do povo de Israel, com um “anel de luz”, já que o costume de formalizar alianças com um anel (um anel de ouro, como é ainda hoje no casamento), tenha parecido aos criativos rabinos de Israel a fórmula mais apropriada.
 
A Bíblia diz que os filhos de Noé que saíram da arca eram Sem, Cam e Jafet. Cam foi o pai de Canaã, que deu origem aos cananeus, figadais inimigos de Israel. Teria dado origem também aos povos de pele negra, que imigraram para a África.Sem foi o pai dos povos chamados semitas, como tais chamados os povos que habitaram o chamado Crescente Fértil, ou seja, a região dos vales dos rios Tigre e Eufrates, entre os quais se incluem os israelitas, os persas, os assírios e outros antigos povos que habitaram aquela região. Jafet, o caçula, teria dado origem aos povos do oriente, como os hindus e também imigraram para o ocidente, dando origem aos gregos e outros povos que habitaram a Anatólia, atual Turquia, de onde sairia, um dia, os antecessores dos romanos, através dos sobreviventes da destruída Tróia.
A forma como essa povoação se deu é contada pelos cronistas bíblicos de uma maneira bem bizarra. Seria bastante imaginativa se não contivesse nela uns componentes de odioso racismo, que até hoje vem contaminando as relações entre os povos da terra.
Essa informação está em Gênesis, 9;18, Ali se diz que Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido muito vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus irmãos. Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre os seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas. Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que lhe tinha feito o seu filho mais novo, amaldiçoou-o, dizendo: "Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!" E acrescentou : "Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e Canaã seja seu escravo! Que Deus dilate a Jafet; e este habite nas tendas de Sem, e Canaã seja seu escravo!"
Essa não seria, certamente, uma prescrição que o próprio Deus faria, nem consentiria que Noé fizesse para uma humanidade que estava justamente naquele momento começando vida nova. Seria uma condenação extremamente severa para uma travessura que um filho comete contra um pai bêbado. Certamente Nem Noé, por suposto um homem justo, pois assim Deus o considerou, lançaria sobre o próprio filho uma maldição dessas. Mas os judeus, em relação aos cananeus, certamente o fariam, pois estes sempre foram os seus piores inimigos. Não é a toa que as crônicas bíblicas, em sua maior parte, contem libelos acusatórios e terríveis imprecações feitas pelos israelitas contra os seus belicosos vizinhos.  Ainda hoje é assim em relação aos descendentes dos cananeus, os palestinos.
 
Dessa forma, a história dos filhos de Noé, conforme descreve a Bíblia reflete a ideologia de Israel em relação aos seus vizinhos e justifica a sua pretensão de povo escolhido de Deus.É, claramente, uma visão política e ideológica de um conflito que até hoje não se resolveu.
Talvez Noé não tenha dito nem pensado nada disso que a Bíblia atribui a ele. Mas os sábios cronistas que a escreveram pensaram e criaram um mito de terríveis conseqüências para o futuro da humanidade e, principalmente do seu próprio povo.  Talvez não imaginassem que essa mesma ideologia, cunhada e defendida pelos cronistas de Israel, com a finalidade de dar ao seu povo uma origem divina e uma genealogia nobre, viria lhes trazer muitos incômodos no futuro. Pois foi exatamente essa idéia de origem distintiva do povo de Israel que os nazistas iriam explorar, milhares de anos depois, para tentar eliminar o povo de Israel da face da terra. Mas esse é outra história. 

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O TESOURO DOS SÁBIOS- NO PRELO
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/11/2012
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