O papel do leitor nos estudos teóricos da leitura
Caren Michele Dos santos Reis
Desde muito tempo existem estudos teóricos a respeito do valor atribuído ao leitor na leitura de uma obra. Qual seria, de fato, o papel do leitor? E será que de acordo com os estudos teóricos da leitura poderíamos chegar a uma conclusão para essa pergunta?
Para as correntes teóricas como o positivismo, formalismo, new criticismo e estruturalismo, o leitor ainda se encontrava preso a sua leitura e a obra era definida como uma unidade auto-suficiente, que convinha praticar uma leitura fechada, o leitor era apenas visto como uma função do texto. Assim havia a desconfiança com relação ao papel do leitor, sendo este ignorado e não incluído como elemento importante e fundamental na leitura.
Proust trouxe a tese de que o leitor era livre, e que ao ler uma determinada obra, ele fazia a leitura de si mesmo, mas ainda assim essa liberdade era controlada pelo texto. Mas tarde os estudos de Jauss, enfatizam a relação da leitura e experiência do texto: o que lemos é função de outros textos que foram lidos antes. Esse modelo de análise da leitura foi retomado por Iser, que classificava a obra literária pelo pólo artístico, que é a questão do autor, e o pólo estético, que é a relação efetuada pelo leitor.
O leitor a partir da sua leitura fazia relação à outras experiências de leituras podendo ou não assimilar e esquematizar o texto lido à sua própria forma. Iser ainda dizia que existe o leitor implícito, que seria a construção textual imposta pelo autor, ou seja, o texto automaticamente pede para que o leitor obedeça as suas instruções, diferentemente do leitor real, que não é obrigado a captar o texto. Iser insiste que o leitor real é proprietário de um conjunto de normas sociais, históricas e culturais, na qual ele leva para o texto que lê, e que ele chama de repertório de leitura, sendo de extrema importância para a compreensão de uma nova leitura, dando ao leitor mais importância nos estudos teóricos da literatura. O leitor precisa dar de si próprio para completar e entender o texto. No entanto o leitor ainda não estaria livre, pois ficaria disposto a fazer o jogo do texto, ainda seria regulado para a base modelo da obra que lê.
Humberto Eco aponta uma posição mais livre sobre o leitor do texto, segundo ele toda obra é aberta a um leque ilimitado de leituras possíveis, o que daria mais liberdade ao leitor para compreender e dar seu próprio sentido ao texto. Segundo Robert Jauss o horizonte de expectativas era uma das vertentes da estética de recepção em uma dimensão coletiva. Só depois Fish concede o poder e autonomia do leitor, o que chama de (a autoridade das comunidades interpretativas) e afirma que todo texto é a leitura que fazemos dele, pois todos temos valores, contextos históricos e não somos sujeitos individuais. A literatura está marcada pela comunidade, pelo mundo e não individualmente.
Todos esses estudos sobre o leitor, apesar de dar mais importância a ele e as relações de interpretações do texto, as noções de leitor e texto são separadas e independentes, fazendo com que o leitor seja outro texto. O leitor passa a ser parte do texto, mas não está preso às formas do texto, Cada um faz a sua própria leitura de si e do texto, dando sua interpretação e seu sentido, não individualmente, mas como diz Fish, é de acordo as comunidades interpretativas, ao repertório de leitura e as opiniões coletivas de um contexto histórico sofrido por esse leitor durante toda a sua vida.
Hoje é possível concluirmos que o leitor faz parte do texto, sem ele não existiriam as obras nem as suas leituras. Quem faz a obra é o leitor, pois atribui ao texto um significado próprio, um olhar diferenciado, um mundo de possibilidades interpretativas podem ser geradas a partir de um só texto, pois a literatura nos permite isto e muito mais.