RASCUNHOS EXISTENCIAIS
- Valdon Nez.
O Ostracismo dá vida a dois personagens que o mundo, "num momento qualquer", os reuniu: Nuvem e Relâmpago. Ela, “sem qualquer reflexo acerca do futuro”. Ele, partícipe das “partículas vivenciais” que, “entulhadas na criatura”, os tornaram singulares. Nuvem e Relâmpago simbolizam o comum existencialismo, também pertinente ao cotidiano de todos nós.
Águas Barrentas tingem metáforas do narrador-personagem, observador circunspecto. A confluência de mundos e instâncias a desaguar na memória que o leva à contemplação, quando “os meninos descalços se jogam da ponte, na água barrenta deste rio insistente”. As “Máscaras” do mundo tiram as máscaras da vida. Pela “rua tumultuada” segue um “Eu” absoluto, introspectivo e tangente às fantasias: o carnaval parece-lhe a alegoria da própria vida, que o põe numa inserção imaginativa e inquietante. Um “Buquê Humano” liricamente se assemelha às flores de “belos jardins lapidados”, em cidades como Paris, Madrid, Rio de Janeiro. Há uma associação de sentidos, aromas e cores em que o narrador diz povoar-se o universo de “Violetas, Verônicas, Cristianes, Cláudios, Vanessa, Lírios, Margaridas, Valdonez...”.
“Outros Caminhos” retomam o itinerário do lirismo existencial. O “Eu” a evidenciar-se emotivamente em subsequentes narrativas permeadas de prosa poética:"O símbolo fica longe de ser apenas em si mesmo; é nada mais que um ponto de partida e quando o autor descreve pensamentos, eu posso atravessar além do meu pensamento.” [...] Alguns passos enveredando filosoficamente: “A mim dói pensar no quão pouco é simplesmente apreciar o objeto, como o é claramente e posicioná-lo dentro daquilo que comporta”. Uma metáfora lancinante: “Jogo o lençol sobre o meu corpo, mas não sobre a minha mente”.
A orla de Copacabana deixa na areia as pegadas de um personagem secular. “Olhos de um Século” fotografaram a vida solitária de um homem que não se sente só, para quem a vida é “engraçada” e “magnânima”. Um homem que “segue o seu passeio até mais adiante. Até onde a vida possa lhe oferecer mais degustação”.
Todas as narrativas partem da introspecção e se abrem para o lado exterior da vida, em que o existencialismo acompanha os passos de um contista e a própria história. "Maria Arcanja”, a mãe que lhe formara o caráter, a sensibilidade perceptível em ‘O Invasor”, “Contos Reais”. Em “Duas Épocas”, a nostalgia impregnada em suas raízes imorredouras: “Ouço o grito do vaqueiro nos longínquos pastos, que todos os dias, por estas mesmas horas, agrupa o gado para trazer ao curral; escuto o cantar das cigarras que anunciam o fim do dia e contemplam a chegada da noite”. “O latido do Bob anuncia que ele se deparou com algum bicho desafiador, quem sabe um tatu.” Rastros e cheiro de quem leu Graciliano.
Prossegue o existencialismo em “Desgarrado”, “Dorival”, “Viagem ao Desconhecido”, “Recomeço”, e o ponto culminante em “O Vazio do Ser”, algo confessional, das entranhas do íntimo realismo-naturalismo:
“Estou sendo invadido constantemente. Algo vive e deforma o meu corpo.” [...] “Seguem os vermes não visíveis a roerem as minhas carnes...” O volátil da vida, o diário, o rotineiro não mais interessa”. E ”Sobre as Fendas do Sol” brilham os contos valdonezianos, um autor que após “ter apreciado o florescer da vida em todos os lugares, o desfilar do sol sobre o oceano, os pássaros que voam livres no céu, as árvores verdes que embelezam a paisagem, as pessoas desconhecidas que se cruzam e que a qualquer momentos podem com partilhar mistérios”, rascunha a sua existência compartilhando-a com seus próximos "companheiros de viagem”: seus leitores. Valdo Nez me faz refletir igualmente, em seus Rascunhos Existenciais: “Não sei quando fui picado por este inseto que não me deixa descansar. Assim, cavo constantemente a existência”.
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LIVRE EXPRESSÃO EDITORA
Rio de Janeiro -2011
Valdon Nez publica textos no Recanto das Letras.
- Valdon Nez.
O Ostracismo dá vida a dois personagens que o mundo, "num momento qualquer", os reuniu: Nuvem e Relâmpago. Ela, “sem qualquer reflexo acerca do futuro”. Ele, partícipe das “partículas vivenciais” que, “entulhadas na criatura”, os tornaram singulares. Nuvem e Relâmpago simbolizam o comum existencialismo, também pertinente ao cotidiano de todos nós.
Águas Barrentas tingem metáforas do narrador-personagem, observador circunspecto. A confluência de mundos e instâncias a desaguar na memória que o leva à contemplação, quando “os meninos descalços se jogam da ponte, na água barrenta deste rio insistente”. As “Máscaras” do mundo tiram as máscaras da vida. Pela “rua tumultuada” segue um “Eu” absoluto, introspectivo e tangente às fantasias: o carnaval parece-lhe a alegoria da própria vida, que o põe numa inserção imaginativa e inquietante. Um “Buquê Humano” liricamente se assemelha às flores de “belos jardins lapidados”, em cidades como Paris, Madrid, Rio de Janeiro. Há uma associação de sentidos, aromas e cores em que o narrador diz povoar-se o universo de “Violetas, Verônicas, Cristianes, Cláudios, Vanessa, Lírios, Margaridas, Valdonez...”.
“Outros Caminhos” retomam o itinerário do lirismo existencial. O “Eu” a evidenciar-se emotivamente em subsequentes narrativas permeadas de prosa poética:"O símbolo fica longe de ser apenas em si mesmo; é nada mais que um ponto de partida e quando o autor descreve pensamentos, eu posso atravessar além do meu pensamento.” [...] Alguns passos enveredando filosoficamente: “A mim dói pensar no quão pouco é simplesmente apreciar o objeto, como o é claramente e posicioná-lo dentro daquilo que comporta”. Uma metáfora lancinante: “Jogo o lençol sobre o meu corpo, mas não sobre a minha mente”.
A orla de Copacabana deixa na areia as pegadas de um personagem secular. “Olhos de um Século” fotografaram a vida solitária de um homem que não se sente só, para quem a vida é “engraçada” e “magnânima”. Um homem que “segue o seu passeio até mais adiante. Até onde a vida possa lhe oferecer mais degustação”.
Todas as narrativas partem da introspecção e se abrem para o lado exterior da vida, em que o existencialismo acompanha os passos de um contista e a própria história. "Maria Arcanja”, a mãe que lhe formara o caráter, a sensibilidade perceptível em ‘O Invasor”, “Contos Reais”. Em “Duas Épocas”, a nostalgia impregnada em suas raízes imorredouras: “Ouço o grito do vaqueiro nos longínquos pastos, que todos os dias, por estas mesmas horas, agrupa o gado para trazer ao curral; escuto o cantar das cigarras que anunciam o fim do dia e contemplam a chegada da noite”. “O latido do Bob anuncia que ele se deparou com algum bicho desafiador, quem sabe um tatu.” Rastros e cheiro de quem leu Graciliano.
Prossegue o existencialismo em “Desgarrado”, “Dorival”, “Viagem ao Desconhecido”, “Recomeço”, e o ponto culminante em “O Vazio do Ser”, algo confessional, das entranhas do íntimo realismo-naturalismo:
“Estou sendo invadido constantemente. Algo vive e deforma o meu corpo.” [...] “Seguem os vermes não visíveis a roerem as minhas carnes...” O volátil da vida, o diário, o rotineiro não mais interessa”. E ”Sobre as Fendas do Sol” brilham os contos valdonezianos, um autor que após “ter apreciado o florescer da vida em todos os lugares, o desfilar do sol sobre o oceano, os pássaros que voam livres no céu, as árvores verdes que embelezam a paisagem, as pessoas desconhecidas que se cruzam e que a qualquer momentos podem com partilhar mistérios”, rascunha a sua existência compartilhando-a com seus próximos "companheiros de viagem”: seus leitores. Valdo Nez me faz refletir igualmente, em seus Rascunhos Existenciais: “Não sei quando fui picado por este inseto que não me deixa descansar. Assim, cavo constantemente a existência”.
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LIVRE EXPRESSÃO EDITORA
Rio de Janeiro -2011
Valdon Nez publica textos no Recanto das Letras.