Para quem é o Discurso Pedagógico?
“Para quem é o discurso pedagógico?”
ORLANDI, E.P. Para quem é o discurso pedagógico. In: A Linguagem e seu Funcionamento: as formas do discurso. Campinas, SP: Pontes, 2001.
Em sua obra, Orlandi considera a análise do discurso como uma área privilegiada por ser um modo de se produzir linguagem, marcado pelo conceito de social e histórico. Orlandi afirma que todo o discurso é resultado de discursos preexistentes que tenham sentido e formação ideológica determinada, e dessas formações se formam outras interligadas e modificadas.
O funcionamento da linguagem é feito através da relação contraditória entre a paráfrase e a polissemia; onde a paráfrase desenvolve um texto sem alterar as idéias originais, o contrario da polissemia que pode apresentar vários significados a uma mesma palavra. Esta é a relação entre o homem e o mundo, manifestação da pratica e do referente na linguagem.
A autora enfatiza que o discurso pedagógico seria o tipo de discurso, que os professores utilizam para transmissão do saber. Em sua definição, o discurso pedagógico não é apenas transmissão de informação e neutralidade, mas que existiam três tipos de discurso em seu funcionamento: o autoritário, o polêmico e o lúdico.
O discurso autoritário tende para a paráfrase, pois o falante impõe sua vontade sobre o ouvinte sem lhe dar oportunidade de questionar. O discurso polêmico apresenta equilíbrio, pois duas pessoas podem emitir opiniões contrárias, possibilitado a reversibilidade de sentido, e no discurso lúdico a polissemia predomina, o discurso apresenta um grau acentuado de reversibilidade.
Para Orlandi, em nossa forma de sociedade atual, o discurso autoritário é dominante, quando diz: “O DP (discurso pedagógico), sedo um discurso institucional, reflete relações institucionais das quais faz parte; se essas relações são autoritárias, ele será autoritário.”.
Orlandi alega que o professor, porta-voz da ideologia da escola, centraliza o discurso em si mesmo, pois seu ato de ensinar está baseado no “é porque é” e de maneira que ele representa essa figura de “voz firme”, sem erros, o aluno não aprende. Segundo ela seria mais rica uma pedagogia que levasse a sério o fenômeno da contraditoriedade, ou seja, a realidade da escola e do ensino seria diferente com a busca do discurso polêmico, onde o aluno pudesse se colocar no lugar do professor, possibilitando o deslocamento de sentidos, a mudança de posição, o trabalho da memória no processo de ensino-aprendizagem na escola.
O texto expõe de forma objetiva a busca pelo discurso polissêmico, de forma clara Orlandi conceitua a análise do discurso e expõe seu ponto de vista sobre ensino-aprendizagem, tendo em foco as posições do professor para com o aluno. A autora deixa a reflexão sobre as práticas discursivas, incentivando o crescimento do discurso polêmico e lúdico, para uma boa formação dos alunos, tanto na vida acadêmica quanto na formação sócio-cultural.
São muito importantes as relações que a autora estabelece sobre as diferentes formas discursivas, mostrando que deve haver um espaço entre aluno e professor, que possibilite a transferência de sentidos produzidos, de modo que futuramente possa haver a reversibilidade de sentidos.
O texto de Orlandi compreende que cada dia o censo critico é valorizado, e que opiniões contraditórias ou, posições diferentes são válidas na construção de sentidos do indivíduo.
Além de interessante, o texto de Orlandi instiga o estudo e aprofundamento do tema em questão, que é bastante amplo, mostrando que é possível o crescimento de pesquisas relativas ao discurso.
Contudo o texto se foca na busca de uma pedagogia capaz de criar condições ao outro, de expor suas idéias, fluindo entre a produtividade e a criatividade, o mesmo e o diferente, articulando entre a paráfrase e a polissemia. “Minha proposta atual é a de buscarmos, professores e alunos, um DP que seja pelo menos polêmico e que não nos obrigue a nos despirmos de tudo que é vida lá fora ao atravessarmos a soleira da porta da escola.” (Orlandi E.P).
Eni de Lourdes Puccinell Orlandi
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A
Possui graduação em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (1964), mestrado em Lingüística pela Universidade de São Paulo (1970), doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Paris/Vincennes(1976). Atualmente é coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos da Unicamp, professora do mestrado em Linguagem e Sociedade da Universidade do Vale do Sapucaí e professora colaboradora do IEL da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: análise de discurso, lingüística, epistemologia da linguagem e jornalismo científico.
Caren Michele dos Santos Reis
graduanda em Letras (Vernáculas) Universidade do Estado da Bahia; Campus XXI – Ipiaú-BA.