Por que um tributo a Joana, a Papisa?

Lançado em 2009 pela editora Geração Editorial, o livro Papisa Joana, de Donna Woolfolk Cross, escritora inglesa, mestre em literatura, pôs em debate um segredo que a Igreja Católica buscou esconder por séculos.

Considerado por uns como uma lenda, pura ficção, e por outros como pano de fundo de uma história vivenciada na “Idade das Trevas” o livro ganha créditos de uma história épica.

Joana - a única mulher a ter chegado ao papado no ano de 855 - superou a pobreza, os maus-tratos do pai, a ignorância da mãe, a hipocrisia velada nos monastérios, o fado a que todas as mulheres nascidas à época estavam destinadas (de não representarem absolutamente nada para a sociedade, excluídas das escolas e impedidas de buscarem o conhecimento fora delas, subjugadas por seus senhores e maridos, mortas na fogueira “santa”) – merece ser lembrada e entrar para os anais da história (porque dela foi abortada).

Que os mais crédulos duvidem – é um direito, mas a Igreja Católica volta e meia se apresenta de forma obscura. Só para ilustrar lembremos que há poucos meses, em maio deste ano, ao lançar o livro “Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI”, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi foi acionado pelo Vaticano como se tivesse praticado um crime. Nomeado como o maior vazamento de documentos na história recente do Vaticano, o episódio ficou conhecido como “Vatileaks” por descrever manobras e confabulações dentro do governo central da Cúria Romana. Episódios assim minam a credibilidade da Igreja. Por que ela não apagaria a história de uma mulher que por sua inteligência superior e coragem, numa época de obscurantismo, chegou ao posto máximo de chefe supremo dessa instituição?

Nascida no ano 814, em Engelheim, Alemanha, Joana ainda criança demonstra sinais de uma inteligência notável. Filha de um cônego inglês que via no filho mais velho o seu quinhão. Como era proibido às mulheres aprender a ler e escrever, a menina convence seu irmão mais velho, Matheus, a adentrá-la no universo do conhecimento. Anos mais tarde, acometido pela peste o irmão querido morre e Joana passa a ser instruída por um tutor, que tendo chegado a sua casa para educar o irmão mais novo, João, encanta-se pela menina de aparência frágil, mas que aprende com rapidez o latim e grego.

Depois da partida de seu tutor, chega à pequena aldeia um emissário com uma carta do bispo (um pedido de seu antigo tutor) solicitando a presença de Joana na escola para futuros padres. Seu pai não permite e envia João, mas a menina não conformada com as limitações impostas por seu pai foge a noite e por um milagre junta-se ao irmão. Na Catedral de Dorstadt, Joana é testada diuturnamente, mas logo reconhecida a sua perspicácia. Vários anos se passam e um amor ilícito entre Joana e Gerald, um cavalheiro que cuidava da guarda do bispo, se faz presente e forte.

No entanto, o povoado de Dorsdat é atacado e todos mortos, exceto Joana, por ter fingido estar morta, e Gerald, pois estava ausente. Joana se disfarça de homem, assumindo a identidade do irmão morto e parte sozinha para o monastério de Fulda, onde se torna o monge João Anglicus, que se destaca como intelectual e médico. Mesmo diante da total ausência e notícias sobre Gerald, Joana jamais o esqueceu; e com o passar do tempo vê-se ameaçada por seu disfarce e com medo de ser descoberta parte para Roma.

Em Roma, a ascensão de Joana ao trono papal ocorre em meio a perigosos interesses políticos, momento em que Gerald a reencontra e deseja fugir dali para viverem aquele amor guardado há anos. Mas Joana com determinação opta por continuar a frente do Vaticano e toma Gerald como seu amante e guarda pessoal. No entanto, durante uma pomposa procissão e em meio as conspirações de seus inimigos, Joana sente as dores do parto – o que jamais fora imaginado por alguém – e morre muito próximo de Gerald, também morto em uma emboscada.

Sinceramente, considero a história de uma beleza ímpar e a personagem uma das mais fascinantes já lidas por mim. Papisa Joana é um livro encantador, são 491 páginas de um lirismo pungente. Joana nasceu para ser grande e dona do próprio destino e assim o fez. O livro foi transformado num grande filme épico, uma adaptação alemã ainda no ano de 2009. É excelente a produção, mas o filme – embora maravilhoso – deixa escapar detalhes que moldam a história de Joana de maneira peculiar. Joana, como ela própria diz, nasceu para ser livre e independente, quis ter a vida que mulher alguma, na idade Média, ousou ter.

RosalvaMaria
Enviado por RosalvaMaria em 12/10/2012
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