Resenha: Física do dia a dia - Regina Pinto de Carvalho
Fora da escola
A cultura escolar no mundo ocidental apresenta um conjunto de formalidades no processo de transmissão do saber, em que os alunos adquirem habilidades e competências necessárias a sua formação tanto profissional quanto científica. A escolarização é, portanto, fundamental para o acesso à ciência e à cultura, processos milenares que caminham juntos. Adota-se uma política de ensino forte, que objetiva transformar crianças e jovens em cidadãos eficientes e conscientes do que os rodeia. Como membro do universo escolar, a aposentada docente de Física da UFMG Regina Pinto de Carvalho dedica-se numa paixão admirável à instrução social, fato que pode ser melhor exemplificado através da publicação de sua mais recente obra literária ‘Física do Dia a Dia’ em que abraça a tarefa de explicar fenômenos e acontecimentos cotidianos que, apesar de banais, nos intrigam.
Através de 104 perguntas que certamente já nos perguntamos um dia, a autora vai desvendando mistérios de forma leve, objetiva e dinâmica, o que torna a obra quase que um guia rápido de curiosidades. A estruturação adequada em capítulos é outro ponto positivo em termos estéticos.
O primeiro capítulo, de temática musical, faz jus ao título e explica situações adversas e instigantes presentes em letras de músicas aclamadas nacionalmente, no qual, munindo-se da Teoria da Relatividade Restrita, explica porque a luz entra primeiro quando se abre a porta (O Portão- RC). Regina muda então para outro tópico de enorme relevância: a culinária, repleta de transformações físicas e químicas. O esclarecimento sobre o mágico estouro da pipoca - basicamente efetuado pela diferença de pressão – é cativante, bem como sobre a técnica de verificação do cozimento de um ovo a partir da análise de sua casca. Em construção e arquitetura, mostra-nos a imensurável aplicabilidade da física no tijolo e argamassa. Há inúmeros perguntas que convergem para um mesmo embasamento científico: a dilatação térmica, justificação para as fendas entres os pátios cimentados, trincas nas paredes, entre outros. Além disso, a informação de que o ar funciona como excelente isolante térmico pode vir a ser descoberta para muitos. A reverberação, propriedade do som também abordada aqui discute por que a ausência de mobília altera a sonoridade de um espaço, deixando-a desagradável.
A contextualização digital é também feita com maestria pela autora, que dedica-lhe um capítulo exclusivo repleto de perguntas realmente interessantes do mundo tecnológico. Digno de destaque é o rompimento do mito de que o celular causa dano à saúde, cultura urbana maciçamente difundida na atualidade. Sem descartar a participação física na promoção de lazer através de esportes e ainda falando de moda, Regina acentua a eficácia dos tecidos dry-fit na roupa de atletas, cujo material hidrofóbico empurra o suor do corpo para fora do tecido espalhando-o por uma maior superfície corporal, diminuindo o desconforto causado pela própria transpiração e maximizando o rendimento dos esportistas. Numa outra facção do tema, entendemos no livro o motivo do chuveiro ser o maior revelador de talentos musicais : este cria um ambiente perfeito de propagação sonora, uma caixa de ressonância que nos agrada muito.
A típica sensação que mantém alerta os pedestres da aproximação de um carro é explicada pelo Efeito Doppler. Aproximando-se do fim da obra, tem-se o capítulo do espaço, em que encontramos a resposta para a fatídica pergunta de toda criança: por que o céu é azul? O capítulo final contém o esclarecimento de algo que permeia a imaginação de todos; o fato de que o passarinho não se queima na rede elétrica porque não fecha um circuito, pois sua superfície de contato é muito pequena.