Currículo, Cultura e Sociedade
MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, SILVA, Tomaz Tadeu da. (orgs). Currículo, Cultura e Sociedade. Tradução de Maria Aparecida Baptista. 4 ed. São Paulo, Cortez, 2000.
Credenciais do autor:
Antonio Flavio Barbosa Moreira é doutor em Educação pela Faculdade de Londres e professor Titular da Faculdade de Educação UFRJ
Tomaz Tadeu da Silva é doutor em educação pela Universidade de Stanford, Estados Unidos. Atualmente é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Resumo da obra
O livro critica as propostas oficiais de currículo que se desenvolveram ao longo da história de tendências políticas, propõe alternativas que contrapõe a lógica econômica e social, focando o currículo da escola e a formação de professores.
O autor inicia a obra apresentando uma abordagem histórica do currículo, o qual e tornou-se alvo de maior atenção no século XIX, nos Estados Unidos, devido a preocupação com o processo de racionalização e sistematização e controle da escola e do currículo.
Neste período, emergem duas tendências, o escolanovismo e o tecnicismo, as quais em seus momentos iniciais representaram diferentes respostas às transformações sociais, políticas e econômicas porque passava o país e que ainda que de formas diversas, procuraram adaptar a escola e o currículo à ordem capitalista que se consolidava.
Em 1973, como consequência do caráter apolítico e ateórico das tendências tecnicista e escolanovista, surge uma preocupação com a Sociologia do Currículo, que está voltada para o exame das relações entre currículo e estrutura social, currículo e cultura, currículo e poder, currículo e ideologia e currículo e controle social.
O autor argumenta sobre a relação entre ideologia e currículo, afirmando que há muitos conflitos acerca do que se deve ser ensinado na escola, enfatiza que não se trata apenas de uma questão educacional, mas de uma questão intrinsecamente ideológica e política. O currículo e as questões mais genéricas sempre estiveram atrelados à história dos conflitos de classe, raça, sexo e religião, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países.
Antônio Moreira afirma que enquanto não se considerar o envolvimento da educação com o mundo real das alternantes e desiguais relações de poder, estaremos vivendo em um mundo divorciado da realidade.
O livro ainda discute sobre o fato de a educação estar intimamente ligada a política da cultura. O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimento, que de algum modo aparecem nos textos e na sala de aula de uma nação. È produto das tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e econômicas que organizam e desorganizam um povo. Sempre existe, pois, um conhecimento oficial, uma política que exprime um conflito em torno daqueles que vêem simplesmente como descrições neutras do mundo e outros como concepções de elite que privilegiam determinados grupos e marginalizam outros.
O autor baseia-se em Pierre Bourdieu, para argumentar que a forma e conteúdos culturais funcionam como indicadores de classe, a concessão de legitimidade exclusiva a tal sistema de cultura, através de sua incorporação ao currículo centralizado oficial, cria por sua vez, uma situação em que os indicadores de “gosto” se tornam indicadores de pessoas. A escola tornou-se uma escola de classes sociais.
Antônio Moreira, ainda aborda que as escolas seriam uma forma de vida com o objetivo de produzir e legitimar os interesses econômicos e políticos das elites empresariais, ou o privilegiado capital cultural dos grupos da classe dominante, e que ambas as posições representam um ataque à noção de cultura como uma esfera pública, na qual os princípios fundamentais e as práticas de democracia são aprendidos em meio a lutas, diferenças e diálogo. Ao criticar essa questão, o autor defende que a escola é um território de luta e que a pedagogia é uma forma de política cultural, e propõe uma pedagogia crítica que leve em conta como as transações simbólicas e materiais do cotidiano fornecem a base para se repensar a forma como as pessoas dão sentido e substância ética ás suas experiências e vozes.
O autor trata da questão da formação do professor, pois diz que as escolas de formação de professores necessitam ser concebidas como contra-esferas pública, e que estas instituições da forma como existem hoje, estão perniciosamente destituídas não só de consciência social, mas também de sensibilidade social, sendo assim necessário desenvolver programas que eduquem os futuros professores como intelectuais críticos capazes de ratificar e praticar o discurso da liberdade e da democracia.
Apreciação Crítica
Ao abordar o currículo como um elemento que tem história vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e de educação, o autor oferece subsídios para uma reflexão acerca da necessidade de mudança na realidade em que a educação e o currículo estão profundamente implicados em relações de poder, nas quais certos indivíduos ou grupos estão submetidos à vontade e ao arbítrio de outros. Para mudar é necessário incorporar uma análise crítica e sociológica do currículo.
O autor se baseia em diversos teóricos, tornando sua obra bem fundamentada e consistente. O texto apresenta uma linguagem clara e objetiva, sendo indicada para estudantes de modo geral, e em especial, para estudantes e profissionais da educação que buscam uma prática pedagógica transformadora.