Resenha Livro: A ESCRAVA ISAURA,
de Bernardo Guimarães




A edição a qual tive acesso é um exemplar de 1993, da editora Ática, um verdadeiro clássico, daqueles de lemos nos tempos de colégio. Não importa o quão retratado e televisionado foi, sempre a magia das letras e o encanto das descrições minuciosas dos primeiros capítulos feitas pelo autor, será mais sedutora. Assim como era Isaura.
Nos primórdios do reinado de Pedro II no Brasil, vivia uma quase lúgubre mulata a um frondoso palacete de fazenda, onde pairava o típico território da dupla Casa Grande e Senzala. Inicia com Isaura “cantigando” uma velha canção aprendida dos antepassados, da qual sua senhora esquivou-a, visto parecer que era maltratada. A intenção do autor, lá em 1875, era realmente delatar o aviltamento e a perfídia para com a pessoa humana.
Leôncio, seu senhor, aparece como aquele que sempre insubordinado foi, e que em seu casamento com Malvina, mirava primeiramente a oportunidade de firmar-se na fortuna, o velho jogo ou complô de interesses. Foi atraído a contento pelos encantos da mão de Isaura, Juliana, que teve seu trágico desfecho, espelhado posteriormente na filha.
A contraposição desse tratamento é Álvaro, abolicionista convicto (e o inseparável amigo Geraldo). Acaba interessando-se por Isaura, que já fugida das perseguições de Leôncio, vista em um frondoso baile, é protegida pelo admirador, que jura protegê-la das garras do facínora. Para tanto era um união difícil, pois a negra era propriedade do senhor escravagista. Com a visível falência de Leôncio, aproveita-se da situação adquirindo-lhe os bens e oferecendo-se desposar a Isaura, sobrepondo todos os valores conservadores da época.
Com um relato de personagem pacífico e brando, Isaura mostra-se sempre resignada com sua situação apesar dos fatos reveladores que a cercaram. Seus dotes de espírito eram singulares, todavia singelos. Em sua época de Senzala, suportara inclusive as pressões de sua própria cor, como a escrava Rosa, preterida pelo senhor, em detrimento da outra.
Já no Recife, passa ao devaneio de passar por livre e branca, por encontrar-se perdida a nova condição e ao mesmo tempo limitante situação, como por exemplo, ser apresentada a um salão de baile com o futuro marido. Resigna-se a casar-se com Belchior, outra flor malcheirosa, mistério único do romance, de porque surgir outro a contrapor com Álvaro.
Os demais personagens não surpreendem, comportamentos padrões. A exceção seria Miguel, pois sendo pai da negra Isaura era feitor, apesar dos mais brandos. Martinho de espírito simples por fora, parece corroer um desejo de grandeza afloradíssimo, e bons toques de desconfiança, condizentes a seu aspecto físico pouco agradável.
Os padrões sociais foram muito criticados por aqui. O amor não venceu graças a ele. Um retrato simplista de caprichos do século XIX, que nada diferenciavam a “negra” como citei, apesar do tom claro de sua pele em função da hereditariedade, das demais damas da sociedade local. Bernardo (autor), conhecido como grande contador de casos, expõe quase em forma de conto, essa realidade abrupta que nos faz repensar o reflexo do hoje na situação exposta à época. Revelador ao final das 133 páginas, Leôncio cai baleado, mesmo sobre pedido de Isaura que o algoz não o afetasse e sobre o desespero de Malvina. Álvaro dá cabo a sua vingança maior, totalmente transtornado.

 
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Adam Poth
Enviado por Adam Poth em 12/09/2012
Reeditado em 06/10/2012
Código do texto: T3878155
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