Resenha: O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular.
TOMAZ, Tadeu da Silva. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
Credencial do autor
Tomaz Tadeu da Silva é doutor em educação pela Universidade de Stanford, Estados Unidos. Atualmente é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Resumo da obra
O livro apresenta os estudos sobre currículo desde sua gênese, até as atuais teorias pós-críticas.
O autor inicia o livro fornecendo um panorama da sociedade, em que ocorrem diversos avanços na comunicação, no conhecimento, mas que ao mesmo tempo nesse contexto existe dor, sofrimento e tragédia. Ele diz que vivemos num tempo de afirmação da identidade hegemônica do sujeito otimizador do mercado, num mundo onde zelosos guarda-fronteiras tentam conter a emergência de novas e renovadas identidades e coibir a livre circulação entre territórios- geográficos e simbólicos. Silva (1999) discute que é num tempo como esse que educadores e educadoras pós-críticos devem repensar e questionar o seu papel e sua responsabilidade.
O autor afirma que o trabalho de significação está em curto-circuito neste contexto, pois se encerra numa trajetória circular para repetir incessantemente, indefinidamente, que não há salvação fora do movimento da mercadoria, que o funcionamento da “boa” sociedade é homólogo ao bom funcionamento do mercado, que a identidade pública da esfera da cidadania se confunde com a identidade privada da esfera de consumo. É diante disso que os educadores e educadoras críticos/as têm a tarefa, segundo Silva, de abrir o campo do social e do político para a produtividade e a polissemia, para a ambigüidade e a indeterminação, para a multiplicidade e a disseminação do processo de significação e de produção de sentido. O autor aborda que o currículo pode ser visto como prática de significação, pois também pode ser analisado como uma prática discursiva e produtiva.
Tomaz Tadeu ainda discute sobre uma “crise da representação”, a qual se traduz em uma instabilidade, incerteza que há no centro das epistemologias que uma vez regeram os projetos de domínio da natureza, do mundo e da sociedade. Na perspectiva pós-estruturalista, conhecer e representar são processos inseparáveis. A representação, compreendida como inscrição, marca, traço, significante e não como processo mental, é a face material, visível, palpável do conhecimento. Nesse sentido o autor, afirma que o currículo é também representação: um local de produção de signos. Conceber o currículo como representação significa vê-lo como superfície de inscrição, como suporte material do conhecimento em sua forma de significante. Na concepção do currículo como representação o conhecimento não é a transcrição do “real”: a transcrição é que é real.
O autor argumenta sobre a questão do currículo como fetiche, afirmando que ver o currículo como fetiche significa, pois, evitar um currículo esquizofrênico, em que certos tipos de conhecimento são considerados como sujeitos à interpretação, à divergência, ao conflito, enquanto outros são vistos como relativamente independentes de controvérsia e de disputa, como estando ancorados numa referência objetiva, indisputável. Ver o currículo como fetiche é reconhecer as características comuns de todas as nossas formas de conhecimento. Além disso, considerar o currículo como fetiche significa também restabelecer a ambigüidade, a contradição, a indeterminação, é restaurar a dignidade e a necessidade do fetiche.
Apreciação Crítica
O livro apresenta discussões valiosas acerca das diversas formas de conceber o conhecimento, desde as tradicionais as pós-críticas, e de como cada uma influencia na teorização curricular. Possibilitando uma reflexão sobre o papel dos educadores e educadoras, como profissionais críticos e conscientes da responsabilidade da educação nesse contexto.
O autor se baseia em vários teóricos, tornando sua obra fundamentada e consistente. O texto apresenta uma linguagem objetiva, sendo indicado para estudantes de modo geral, e em especial, para estudantes e profissionais da educação