Resenha Crítica do livro de João W. Geraldi e Rodolfo Ilari intitulado: "Semântica"

RESENHA

ILARI, Rodolfo & GERALDI, João W. (2006) Semântica. Serie Princípios, volume oito - São Paulo: Ed. Ática

“Os limites movediços da semântica”

No primeiro capítulo do livro “Semântica” de Ilari e Geraldi – “Os limites movediços da semântica” - os autores nomeiam três limites para introduzir a leitura: uso da metalinguagem, análise semântica através de analises sintáticas e forma das expressões, e fatos da língua sob certo ponto de vista ou teoria, limitando-se a não prolongar o número de hipóteses sobre o mesmo assunto. O livro foi muito bem elaborado sob o ponto de vista da problemática do campo semântico .

São postos em questão, ao invés disso, os problemas que a Semântica tem como disciplina científica Sem uso de termos técnicos Ilari e Geraldi trazem discussões sobre a reflexão da significação devido ao fato de semântica ser um “domínio de investigações de limites movediços” (p. 7) não podendo ser tratada como um tema fechado e isolado.

“A Significação das Construções Gramaticais”

O segundo capitulo intitulado “A Significação das Construções Gramaticais” vai lidar como os seus subtítulos já dizem das relações sujeito-predicado e sua ligação e problematização . Os autores descrevem a relação sujeito-predicado, desde a Lógica de Port-Royal, onde é falado das três classes de palavras: nome, verbo e conjunção, passando por Frege (que é considerado por eles um dos maiores nomes quando se fala de semântica) e pela gramática de casos, tudo bem superficialmente, não se prendendo, portanto, a detalhes específicos, mas lidando de maneira coerente e coesiva á didática, com diversos exemplos.

Ilari e Geraldi comentam que o estereótipo oração = sujeito + predicado não é sempre válido. Por outro lado, não cabe inutilizá-lo como recurso para montagem de orações, já que na maioria das vezes é essa ordem que prevalece.

Vale ressaltar que os autores trazem na página 25: “os verbos simplesmente estabelecem a relação, e os papéis e que são substancialmente significativos”. Dizem também que “apenas as orações relacionais do segundo tipo permitem a inversão entre os dois papéis exercidos pelas expressões nominais”.O que eu discordo veemente uma vez que uma vírgula é acrescentada, o sentido se manteria, já que teríamos somente um sujeito deslocado, mas ainda ali presente e exercendo sua função.

“Operações Semânticas sobre Construções”

No terceiro capitulo” Operações Semânticas sobre Construções” são a negação e a modificação do verbo pelo advérbio. Abordando primeiramente o que é a negação segundo a gramática, e partindo para muitos outros detalhes que mudam a orientação de que o advérbio (de negação) modifica o verbo, Ilari e Geraldi demonstram que a influência modificadora Negação – tenta-se, aí, “abandonar a idéia de que a negação só modifica o verbo” (p. 30). Ilari e Geraldi são felizes em lembrar que a negação pode ser feita também com o uso de sufixos como –in, -des, e variantes do advérbio não, como nem sempre ou nem muito, por exemplo. Referente à negação pode também se aplicar às idéias de restrição, totalidade e necessidade que vai além dos verbos, se aplicando também a outras expressões da oração. Mais adiante, é interessante como os autores comentam sobre a ordem dos elementos usados nas orações. Segundo eles, os semanticistas usam essas “diferenças de ordem para ilustrar diferenças de escopo da negação, isto é, diferenças quanto aos conteúdos que a negação afeta, dada à maneira como se insere na construção do sentido global da oração” (p. 33). Ainda no capitulo três eles vão tratar da questão do uso do advérbio como modificador das orações dentro de uma enunciação. O capitulo deixa diversas duvidas onde nós leitores temos que recorrer a outros artifícios para obter a resposta do mesmo.

“A significação das palavras”

O quarto capítulo – “A significação das palavras” – é reservado às relações semânticas de oposições, relações e implicitude. Os autores buscam fazer uma “semântica da sentença”, adaptando o significado das palavras no sentido das sentenças como um todo. Trata especificamente da sinonímia (lexical e estrutural), paráfrase, consequência e hiponímia, contradição e antonímia, ambigüidade e polissemia, e pressuposição. No quarto capítulo, os autores se voltam para os temas semânticos mais tradicionais, descrevendo relações de sentido entre palavras e entre construções gramaticais capitulo bem claro e obvio tratando do tema com sutilidade e muito bem detalhado e explicado como nos exemplos que os autores citam.

“Significação e contexto”

O quinto capitulo intitulado “Significação e contexto”, inicia com os dêiticos, “palavras que mostram” (p. 66). É dado um extenso e eficaz exemplo nos parágrafos iniciais, explicando a funcionalidade da dêixis na linguagem. Porém, mais adiante os autores ressaltam que esses elementos fazem as frases serem interpretadas somente em “estreita conexão com situações determinadas, e a informação que transmitem varia com o variar dessas situações” (p. 67). Uma expressão referenciada por um dêitico hoje pode não ter nenhum sentido daqui a dez anos, por exemplo. Aqui cabem os conceitos de referência e sentido, variáveis conforme o contexto utilizado. Este é o capitulo que antecede a conclusão, é mais relacionado aos fenômenos semânticos que requerem situações com fala, analisados de acordo com a contextualização. São abordados os fenômenos da dêixis, dos atos de fala, da escolaridade e das implicaturas, para, finalmente, chegar à semântica argumentativa, que procura estudar como as frases trazem argumentos pressupostos, de certa forma escondidos nas sentenças. O fenômeno da dêixis, que aponta para um contexto situacional, dá grande desenvoltura à língua, podendo ser interpretada apenas em estreita conexão com situações determinadas anteriormente. Também relacionado ao contexto, a anáfora consiste em identificar objetos, pessoas, momentos, lugares e ações por alguma referência antecipadamente mencionada no discurso . Nos atos de fala, que podem ser exemplificados ao se opor uma narração de determinada ação a sua realização verbal, traz exemplos de frases-feitas, frases conotativas e performativas. O ponto central da concepção de Austin e sua principal contribuição são de que a linguagem deve ser tratada como uma forma de ação e não de representação da realidade.

Sobre a Conclusão do livro:

Os autores concluem que a dispersão da disciplina revela diferentes concepções do campo da semântica, da metodologia de análise e até mesmo da linguagem.Tenho que corroborar que a conclusão é de grande valia para o leitor, já que junta a idéia inicial do livro com as noções explicitadas durante o mesmo. Tenho para mim que a expectativa dos autores, de fazer os leitores, com este livro, terem uma visão mais abrangente da Semântica para assim partir para uma análise mais aprofundada na área foi alcançada. O livro, é perfeito para a Série Princípios.

Sobre o vocabulário critico

Além disso, o vocabulário crítico que aparece depois da conclusão é de grande ajuda, como auxílio durante a leitura. Vale lembrar que o livro também é destinado àqueles que são somente interessados em estudos semânticos, e não exclusivamente aos profissionais de Língua.

Uma sugestão seria lê-lo antes da leitura do livro, bem como sempre que os termos aparecerem podendo auxiliar também em outras leituras do mesmo gênero.

Sobre a Bibliografia comentada

A bibliografia comentada dá ao leitor a possibilidade de prosseguir seus estudos na área desejada, já que os comentários descrevem o que é relevante na leitura de cada obra. A bibliografia, que faz observações sobre cada obra citada, os leitores podem também encontrar dicas para o aprofundamento que os autores indicam na conclusão.

O livro Semântica, por ser sua primeira edição de 1985, não aborda toda série de estudos mais recentes, como a área da semântica cognitiva, que têm sido de grande importância nos estudos recentes sobre o significado. No entanto, as semânticas formal, lexical e argumentativa foram especificadas com maestria.

O livro Semântica, por ser sua primeira edição de 1985, não aborda toda série de estudos mais recentes, como a área da semântica cognitiva, que têm sido de grande importância nos estudos recentes sobre o significado. No entanto, as semânticas formal, lexical e argumentativa foram especificadas com maestria.

A leitura é recomendada para quem deseja entender alguns aspectos da semântica, podendo servir como leitura inicial sobre a matéria. O estudante, principalmente o da área de Letras e Pedagogia, se beneficiarão muitíssimo deste livro, pois aborda o assunto de forma clara e concisa. A semântica é bem detalhada por Rodolfo Ilari e João Wanderley Geraldi, de maneira bem exemplificada e didática.

Gel Africo
Enviado por Gel Africo em 06/09/2012
Código do texto: T3867812
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