Resenha do Livro "Nisia Floresta" de Constância Duarte
Nísia Floresta Brasileira Augusta, ou melhor, Dionísia Gonçalves Pinto, nasceu em 12 de Outubro no Rio grande do norte em 1810 e, deve ser lembrada com orgulho, pois foi uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do “lar” e a publicar diversos textos, inclusive em jornais, o que na sua época não era comum, pois não víamos muitas mulheres instruídas além das “prendas do lar” necessárias para uma boa moça, que seria boa esposa e boa mãe, sua contribuição para a educação feminina no Brasil é inquestionável. Vale a pena ressaltar que ela viveu e desenvolveu um respeitável trabalho como educadora e escritora no Rio de Janeiro Imperial, algo incomum em sua época, em se tratando de uma mulher. Pelo seu pioneirismo na fundação de um colégio para meninas, o colégio Augusto, cujo currículo possuía uma proposta inovadora no que concerne as disciplinas lecionadas, colocou seu estabelecimento de ensino no nível dos melhores colégios masculinos da Corte, e sua produção literária foi colocada na posição de precursora dos ideais feministas no Brasil, levando-se em consideração que em sua época a maioria das mulheres era analfabeta, Nísia era uma mulher erudita que militava pelo direito da mulher ao acesso à educação, contudo mantendo os limites do seu “bom senso”. Essas militâncias estiveram presentes em sua obra, fato que provocou desconforto na sociedade patriarcal na qual vivia, como nos conta magistralmente Constância Duarte.
Contextualizando-nos, em relação à época em que Nísia viveu Constância nos esclarece, “Para a sociedade burguesa, o século XIX representava o ápice da civilização e, não era mais admissível que metade da população estivesse em situação tão inferior à outra metade, aos poucos foi se construindo um consenso em torno da ideia de que uma sociedade não poderia evoluir se não cuidasse da educação feminina, e não “treinasse” a mulher para participar, junto com o homem, dos progressos da técnica e das ciências, cabe mencionar aqui que a relação intrínseca entre o cuidado com a educação feminina e o adiantamento de uma nação foi a tese defendida por Nísia Floresta em “Opúsculo humanitário”, o progresso social de uma nação dependeria do grau de emancipação feminina e do lugar reservado às mulheres na sociedade, era o novo lema.”(DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta.Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)( alguns acréscimos meus)
Continuando a sua análise, Duarte afirma que “A educação passou a ser considerada, sobretudo na segunda metade do século, como o primeiro passo a ser dado para tirar as mulheres do estado de inferioridade em que a ignorância as havia colocado. As ideias liberais que circulavam em nossos meios políticos fizeram com que, após a independência, os primeiros legisladores do império estabelecessem o ensino primário gratuito e extensivo aos dois gêneros, como sendo uma responsabilidade do Estado. Mas as dimensões do país, as distâncias e o desacerto entre as províncias, contribuíram para dificultar sua implantação e motivaram a criação do ato adicional de 1834 que delegava a cada província a responsabilidade com o ensino primário e secundário, ficando a união responsável pelo superior. Tal medida foi decisiva para a desarticulação do ensino das primeiras letras no país, antes mesmo que este ensino estivesse realmente assimilado pela sociedade.” (DUARTE Constância Lima.Nísia Floresta.Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.) ( alguns acréscimos meus)
Entretanto, essa ideia de “novo lugar da mulher” e de “valorização da educação feminina” merece análise e questionamento, “Poucos foram os colégios que se arriscaram a oferecer cursos de instrução a nível secundário para meninas. Além disso, o número de interessadas era tão pequeno que logo eles eram obrigados a reformular os cursos ou mesmo fechar as portas. As jovens de elite continuavam recebendo educação em suas próprias casas através das preceptoras ou sob a orientação dos pais, as demais ainda que houvesse a possibilidade de estudar numa escola pública, raramente o faziam, permaneciam em casa, em pleno meio do século XIX, condenadas à mesma sorte de suas antepassadas.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)( alguns acréscimos meus)
Constância Duarte afirma que “A educação feminina foi idealizada a partir de uma visão romântica, baseada na religião e na moral, necessária para estimular a dignidade e preparar a futura mulher para assumir suas funções de mãe e de esposa, o que distanciava tal projeto de um projeto de formação intelectualizada, reservada ao segmento masculino da população. A elas bastava o ensino primário e o desenvolvimento das habilidades manuais, os cursos secundários e superiores lhes eram vedados.“ (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Por tudo isso a bandeira de luta pela educação das mulheres foi fortemente abraçada por aquelas que conseguiram romper o preconceito e se destacaram, como era o caso de Nísia Floresta. De um lado estavam as mulheres mais conscientes que pretendiam, solidariamente, estender às companheiras as benesses da instrução e do conhecimento de si mesmas e até como forma de ajudá-las a ver com novos olhos o mundo em que viviam. De outro estavam os homens, filósofos, moralistas, jornalistas, políticos e até médicos, que também pareciam envolvidos na mesma bandeira e imbuídos da necessidade urgente de dar às mulheres uma condição mais digna na sociedade.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
De acordo com Constância “O que vai ocorrer então é que os ideólogos do patriarcalismo terminaram por se apossar das palavras de ordem feminina e por determinar segundo seus interesses, os novos comportamentos da mulher, seus direitos e deveres. O redimensionamento do papel da mulher consistirá, então, basicamente, na supervalorização das figuras da esposa e da mãe elevadas à categoria de “Santas”, uma vez que lhes cabe a “divina” missão de serem as guardiãs privilegiadas da família.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
Sendo assim, para Duarte “As expectativas femininas de acesso à instrução foram atendidas, portanto através do novo estatuto que lhes trazia louvações, considerando a mulher como a única responsável pela família e capaz de operar a “regeneração social”. Tanto mulheres burguesas aceitariam o prestígio implícito no título de mãe, que muitas veicularam em seus escritos a normatização do “novo” papel, contribuindo para sua consolidação e para fechar um novo círculo em torno das mulheres. A esta nova mãe de família cabia zelar pela paz doméstica, pela sobrevivência e educação dos filhos e filhas, assim como pela vigilância da moralidade.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“No momento em que as escritoras propagaram as diferenças ditas naturais entre os dois sexos, elas permitiram que se aprovassem medidas que ao invés de proporcionar à mulher condições de superar as desvantagens advindas do fato de ter sido um dia colocadas em segundo plano, servem antes para consagrar essas mesmas desvantagens, (esse é mais um dos motivos de minhas dúvidas) Na segunda metade do século XIX não havia mais dúvidas quanto à necessidade de se educar e instruir a mulher, até para que ela pudesse desempenhar a contento esses encargos. Era preciso, apenas, torná-la consciente de suas responsabilidades e, sobretudo, plenamente realizada e esquecida de que poderia pretender um pouco mais. Dentro desse raciocínio, as mulheres deviam estudar não por elas próprias, mas para que melhor exercessem seus papéis previamente estipulados, isto é, “servir a outros”.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“O que me deixa “deveras” intrigada é o fato de uma mulher como Nísia Floresta ter se dedicado a escrever, além dos textos maravilhosos como o poema “lágrimas de um caeté”, onde o ponto de vista não é o do índio guerreiro e destemido e sim do índio vencido, derrotado e inconformado com a opressão do homem branco, colonizador, como também devemos levar em consideração que os escritos de Nísia Floresta apresentaram uma peculiaridade, como textos que se situam entre a ficção didática e o doutrinarismo, misturando gêneros diversos: ensaio, novela e crônica, por exemplo, em alguns, a forma ensaística prevalece, caso encontrado em “Opúsculo humanitário”, que, desde o título, parece recuperar um fio militante e panfletário que era comum aos opúsculos, uma publicação intermediária entre o livro e o jornal. Em outros escritos, ao lado de questões teóricas acerca da educação, como “conselhos à minha filha” e o “discurso às educandas”, encontram-se também elementos da vida pessoal de Nísia Floresta, os quais dão aos textos um certo ar de autobiografia. Talvez essa certa dúvida que permeia meu pensamento acerca desta mulher brilhante, seja explicada pelo fato de que se Nísia Floresta defendesse uma educação que permitisse maiores conquistas para mulheres, certamente não teria obtido a concordância de muitos críticos, entre eles do crítico Luís Felipe Leite em 1856. E bem outra poderia ter sido sua reação, assim como a de alguns que ironizavam o ensino do colégio que manteve por 17 anos no Rio de Janeiro. Mas a autora manteve seu pensamento dentro do “bom senso” desejado, isto é, como não propõe alterações substanciais no status quo feminino merece elogios.” (DUARTE Constância Lima.Nísia Floresta.Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Em “Os direitos das mulheres”, segundo Constância, a autora rejeitava a ideia de uma revolução radical nos costumes, no opúsculo humanitário será diferente, e ela expressa o desejo de uma completa transformação no sistema educacional. Chega inclusive a afirmar que não poderá haver no Brasil uma boa educação da mocidade “enquanto o sistema de nossa educação quer doméstica, quer pública não for radicalmente reformado. A autora tem consciência de que os preconceitos arraigados no espírito do brasileiro eram ainda muitos. A fraqueza física, a incapacidade de reflexão e o natural gosto pelo adorno, citados pelos homens, seriam apenas pretextos para que as mulheres fossem mantidas em estado de submissão. Os homens não tinham interesse em educá-las para melhor as dominar, pois afinal, é ela quem diz: “quanto mais ignorante é um povo, mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o seu ilimitado poder”.(DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
Duarte afirma que “Nísia estava próxima do pensamento liberal mais progressista, e, por outro lado, limitada por sua formação religiosa aos ditames conservadores do catolicismo. No primeiro caso, defendeu a difusão em massa de escolas de primeiras letras para meninas em igual número das que eram criadas para meninos, exigiu uma fiscalização severa do governo na qualidade do ensino ministrado, protestou pelo impedimento do acesso feminino ao nível secundário de escolarização, denunciou as facilidades concedidas a estrangeiros para abrirem escolas, e ainda lamentou o baixo nível intelectual da maioria das professoras. A autora defendeu as modernas teorias higienistas ao defender a necessidade de uma educação física para mulheres e crianças, e aproveitou para condenar a reclusão feminina que impedia a muitas um “higiênico passeio cotidiano”. Os médicos, e não só a urbanização, foram também responsáveis pela retirada da mulher das alcovas, consideradas por eles, como locais úmidos e mal ventilados que provocavam fraqueza e doenças. Ao defender uma nova organização doméstica e a valorização feminina na família, o poder médico transformou as mulheres em importantes aliadas de seus projetos.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Ao se deixar contaminar por ideias moralistas de fundo religioso, ou mesmo pelo pensamento positivista, a autora terminou por contribuir não para a ampliação do universo feminino, mas, ao contrário, para uma nova delimitação do papel da mulher, aproximando-se perigosamente daqueles teóricos como Rousseau e Gregory, que tentava combater. Aqui minha dúvida é respondida. Senão vejamos: a educação devia se iniciar no berço, com a amamentação feita pela própria mãe. O ideal da educação para a menina é aquela feita no lar sob a orientação materna. A escola atenderia apenas meninas que não pudessem, por qualquer motivo, ser educadas em casa. As virtudes, como a modéstia, simplicidade e caridade deviam ser incutidas desde cedo não só através de palavras, mas principalmente pelo exemplo doméstico. A menina devia ser poupada do contato com escravos e estranhos; bailes, teatros e diversões em geral costumam ser perniciosas na formação da criança – devia-se dar preferência a passeios ao ar livre – e as brincadeiras infantis deviam ser supervisionadas pela mãe. A menina precisava ainda de um horário para dormir, acordar, brincar, fazer refeições, estudar; enfim, para conhecer desde cedo o nobre fim para que foi criada.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“A menina educada em casa e pela mãe seria a “delicada flor da estufa”, enquanto a outra, que respirou brisas diferentes e esteve exposta a influências diversas, apenas uma “flor de jardim”. A ênfase dada à educação moral, entendida como “o guia mais seguro da mulher, a estrela polar que lhe indica o norte”, era necessária até como forma de limitar as opções femininas. Afinal, a moralidade era a garantia dos valores que regulavam a ordem e a vida social; e a religião, a responsável principal pela sustentação dos liames sociais.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, editora Massangana,2010.)
Estranho o fato de esses pensamentos pertencerem a uma mulher que se casou obrigada aos treze anos, e abandonou seu marido, que passou a questionar esta condição de mulher-equipamento, mulher-propriedade, mulher-quase mulher, pensamento tão comum em sua época, sua percepção mais que aguçada, perdeu o pai aos 18 e “amigou-se” na mesma idade sob o olhar duro e frio de uma sociedade arcaica. Nísia criou seus filhos praticamente sozinha, pois seu companheiro morreu jovem, aos 25 anos, dirigiu uma escola para meninas, com uma proposta curricular inovadora para sua época, viajou pela Europa inteira, enfim, foi uma mulher a frente de seu tempo em vários aspectos, e fundamentalmente nos intelectuais, entretanto porque mantinha essa visão conservadora acerca da educação da menina? Defendeu as ideias abolicionistas, os indígenas, o que podemos observar no poema Lágrimas de um Caeté, como uma mulher tão genial poderia defender que um fim mais nobre da educação, da construção do conhecimento não poderia ser por prazer? As mulheres, segundo Nísia, “deveriam instruir-se não por prazer ou para emancipar-se, mas porque um dia seriam responsáveis pela educação dos filhos.” ( Floresta ,1989b, p.134) (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Nísia Floresta identifica-se em parte com Kant, que é citado por ela no opúsculo, quando considera a religião a partir de um ponto de vista subjetivo, como “o conhecimento de todos os nossos deveres como ordens divinas”. Também para Nísia Floresta a religião é poderosa o bastante para garantir a vitória dos valores morais naqueles que a praticam. Daí, sua tendência em definir a educação não do ponto de vista do indivíduo, mas sim da sociedade. Segundo a autora, a religião “fortifica e realça as qualidades femininas, é ela ainda que sustenta e consola todo indivíduo nas circunstâncias mais difíceis da vida, a bússola invariável que lhe indica os seus deveres e o conduz ao exato cumprimento deles.”(Floresta ,1989b, p.134) (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Com tais bases, o conceito de educação feminina proposto por Nísia Floresta termina por não avançar muito no que se refere às possíveis mudanças nas condições de vida da mulher do seu tempo. A cultura geral, enfaticamente discutida, serviria tão somente para melhor preparar a mulher para assumir com responsabilidade o papel da mãe de família, dentro de um rígido controle de sua moralidade. O poder feminino, tão sonhado, limitar-se-ia àquele obtido através da influência junto aos filhos. Também nessas postulações tão contraditórias, Nísia Floresta aproxima-se tanto dos positivistas – que defendiam ao mesmo tempo uma ampla educação para a mulher e a limitação de sua atuação nos domínios do doméstico – quanto dos higienistas, que só julgavam necessária a instrução feminina para aplicação junto aos filhos.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Uma educação permeada pela religião e pela moral que aperfeiçoasse ainda mais a mulher e a tornasse naturalmente devotada ao lar, à família e às tarefas domésticas. E entre os que assim se posicionaram estavam dois positivistas: Miguel lemos e Raimundo Teixeira Mendes, que coerentemente, condenavam qualquer possibilidade de emancipação feminina através da profissão, pois acreditavam que isso seria o princípio destruidor da família e da sociedade.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Nísia Floresta também escreveu livros que se inscrevem na antiga tradição de prosa moralista de intenção nitidamente doutrinária, comum tanto na literatura europeia de séculos anteriores como na brasileira, principalmente pela inspiração dos fascículos do Marquês de Maricá. Esses escritos, intimamente ligados à questão educacional, pretendem transmitir ensinamentos através de exemplos de conduta considerados ideologicamente positivos, ao mesmo tempo em que condenam outros por serem prejudiciais à sociedade. Em “Conselhos de uma mãe-educadora”, quando elege determinadas virtudes como adequadas ao comportamento das meninas, das mulheres e dos jovens, a autora define-se também com relação aos valores que apoia e quer ver normatizados. Tais valores, sabemos, eram principalmente os divulgados pelo moralismo cristão e defendidos pela medicina higiênica, voltados para o controle do corpo e do espírito dos jovens. O poder médico adquiriria importância como condutor dos interesses sociais devido às alianças com os demais poderes e estabilizava a conduta física, intelectual, moral e até sexual dos membros sociais, visando a sua adaptação ao sistema político e econômico.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Nísia Floresta, acompanhando as preocupações dos filósofos, moralistas e médicos da época, abraça também, nesse e noutros trabalhos, o ideal de transformar a mulher indiferente em mãe amorosa e responsável. Por tudo isso se encontra a exaltação da figura materna e a elevação de mãe para o título mais nobre, o que “exprime só todos os sentimentos d’alma, as mais sublimes e puras afeições”, o único capaz de dar a “verdadeira importância à mulher”. A autora atribui ao seu amor materno o gosto pelo estudo, pois tinha a esperança de um dia dar à filha as primeiras lições. As mulheres entenda-se, deveriam instruir-se não por prazer ou para emancipar-se, mas porque um dia seriam responsáveis pela educação dos filhos.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
“Também um aspecto interessante é a evidente autoestima da autora. Mesmo quando parece voltar-se para a filha e estar desempenhando seu papel de conselheira, coloca-se a si própria, todo tempo como exemplo das virtudes que quer incentivar.“Fany ou o modelo das donzelas” deve ser considerada uma novela de cunho didático moralista, pois conserva bem nítida a intenção autoral de servir de leitura para a juventude feminina em geral e, em particular, para aquela do colégio Augusto. Ao final da narrativa, aliás, encontra-se explícita esta intenção “possam todas as donzelas e principalmente aquelas para quem escrevi estes ligeiros traços da história de Fany, imitar suas virtudes e exercitarem uma pena mais hábil que a minha para descrevê-las.” Provavelmente foi o que hoje se denomina uma leitura paradidática, isto é, leitura indicada como atividade escolar, que por longo tempo esteve vinculada à pedagogia, pois pretendia contribuir na formação dos educandos(as) através da estereotipia dos bons “exemplos morais”.” (DUARTE Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco , editora Massangana,2010.)
Teria Nísia Floresta sido oprimida pelo seu tempo, vendo-se obrigada a ceder ao tal “bom senso”? Pelo que sabemos de seu tempo, e o que sabemos do nosso, é claro que sim, ela era uma mãe, educadora, viúva, como mencionei anteriormente casou-se aos treze, abandonou o marido e aos dezoito perdeu seu pai de forma trágica, passou a morar com outro homem que foi seu companheiro por pouco tempo, falecendo jovem aos 25 anos, e ficou responsável por uma casa só com mulheres e crianças, ora, ela estava sujeita ao julgamento da sociedade, até mesmo para manter-se tanto como educadora, tanto como mulher respeitável, então manteve sempre o chamado "bom senso" da época, ora se hoje muitos e muitas cedem aos preconceitos e as pressões provenientes destes, até mesmo nossa presidenta... Imagine esta mulher em sua época? Om tempo sem tolerância e onde mulheres eram figuras secundárias na sociedade...