Quincas Borba - Machado de Assis

Quincas Borba (1891)

Personagens:

Rubião - Amigo do filósofo Quincas Borba; vaidoso, ostentador. Não cumpre enquanto pode, o pedido do antigo amigo de cuidar do seu cão com todo carinho. Apaixona-se por Sofia, compra a amizade de Palha, o esposo, e usa o seu dinheiro para amealhar hipócritas. Termina louco ao lado do Quincas Borba, o cão, que foi mais fiel e generoso que o próprio

Quincas Borba – Filósofo criador da teoria Humanita. Morre e deixa a fortuna para Rubião e dá o próprio nome ao seu cão.

Quincas Borba – O cão, fiel e generoso.

Sofia – Casada com Palha, usa do seu poder de sedução, apaixona-se por Carlos Maria e para não cometer o pecado da traição, casa-o com sua prima. É dissimulada e gosta de ser admirada. Adora ostentar o luxo.

Palha – Ambicioso, fecha os olhos para os galanteios de outros com sua esposa, contanto que, estes tenham algo a lhe oferecer. Toma a fortuna de Rubião a conta-gotas e quando o amigo precisa, nega-lhe ajuda. É egoísta e sem o caráter que a amizade necessita.

Camacho – político, deseja eleger Rubião deputado.

Maria Benedita – morava na roça, prima de Sofia, casa-se com Carlos Maria, aprende bons costumes com a prima.

Carlos Maria - expansivo, franco, bons modos.

Siqueira, o terrível major, sagaz, maledicente.

D. Tonica - filha do major Siqueira, solteirona.

D. Fernanda - simpática; amava os fracos e os tristes, pela necessidade de fazê-los ledos e corajosos.

Resumo

Quincas Borba estava muito doente e ficara hospedado na casa de um amigo, Rubião. Rubião não possuía bens, mas não lhe faltava nada, não era casado e nem era de freqüentar a sociedade. Quincas Borba tinha um cachorro e lhe dera o seu nome. Dizia que era uma forma de se perpetuar depois da morte naquele cão. Quincas Borba era filósofo e não temia a morte, mas Rubião não dava muita atenção às divagações do amigo. Certa vez Quincas lhe conta uma história, onde aos vencedores restavam as batatas. Aos vencedores, as batatas! Repetia Quincas Borba. Rubião ouviu tal história e começou a aceitar a filosofia do amigo e tentar compreendê-lo. Quincas estava muito fraco e passava os dias recolhido em seu leito de enfermo e ao pé da cama, Quincas, seu cachorro. Quincas Borba tratava o Quincas cachorro como de fora humano, dava-lhe tudo do melhor e o cão retribuía com carinho e fidelidade. Quincas resolve ir para o Rio de Janeiro, apesar de toda recomendação médica e as preocupações de Rubião. Nada o faria desistir da idéia, afinal Borba nunca temera a morte. Foi para o Rio de Janeiro, enfrentou a viagem e por lá ficou. Deixou Quincas Borba, o cão, aos cuidados de Rubião. Disse que deveria alimentá-lo, dá-lhe banho constantemente e leva-lo a passeio. Rubião cumpria fielmente o que o amigo filósofo ordenou. Certo dia recebe uma carta de Quincas e nota que o amigo enlouquecera, pois na carta dizia ser o próprio Santo Agostinho e encerrara a carta chamando Rubião de ignaro. A principio achara ser um chiste do amigo filósofo, mas depois percebeu que o amigo enlouquecera mesmo. Passado alguns dias recebe pelo jornal a notícia da morte do amigo, mas na nota dizia que falecera o filósofo Quincas Borba, mas não mencionara o estado de loucura que ele se encontrava. Rubião, então resolve se livrar de Quincas Borba, o cão, pois não queria ser motivo de chacota. Não queria que todos o vissem como um “cuidador” de animal. Leva Quincas para uma comadre, pois ela gostava muito de cães. È quando recebe a notícia de que Quincas, o filosofo deixara a fortuna para quem tomasse conta de Quincas, o cão, e lhe tratasse com as melhores coisas que o dinheiro pudesse comprar. Imediatamente Rubião vai em busca do cão e resgata o animal que agora representava sua riqueza. Recebe a herança, mas parece não dividir a fortuna com o responsável, o cão, pois não obedece aos apelos de cuidados recomendado por Quincas, o filósofo. Com a fortuna em mãos, Rubião resolve ir para o Rio de Janeiro e no trem encontra Palha e sua esposa Sofia. Sente enorme atração por Sofia, pois a própria era linda e mostrava perfeitamente suas curvas. Conta ao casal que acabara de receber uma herança e que era muito o que herdara. Palha e Sofia tornam-se amigos de Rubião e apresentam a cidade para ele. Rubião começa a confiar sua herança aos cuidados de Palha e o coração à Sofia. A amizade cresce e Rubião se aproxima cada dia mais de Sofia e... certa vez fora convidado para um sarau, onde havia muita gente e, não agüentando mais o amor em seu peito calado ele resolve se declarar para Sofia. Ela houve com desdém, não sente nada por Rubião e sente-se até incomodada ao ouvir dele tal confissão. Rubião se sente envergonhado do que fizera, mas precisava desabafar. Rubião despede-se de Palha e sai antes da festa terminar. Noutro dia recebe a visita do Major Siqueira, que ironicamente cita uma frase que ouvira de Rubião quando se declarava para Sofia. Rubião sente que o major sabe demais, mas finge que não entendera e muda a conversa de direção. Sofia conta para Palha o atrevimento de Rubião, mas este acha desculpas para tal galanteio. Afinal, tinha dívidas a pagar e não tinha dinheiro para saná-las. Fechou os olhos para tal acontecimento e Sofia resolveu esquecer tal ato desvairado de Rubião. Sofia era linda e andava com decotes provocantes e não só Rubião devorava-lhe com os olhos, um tal Carlos Maria também queria possuí-la. Declara-se para Sofia e esta se sente balançada. Passa a noite pensando nas palavras que ouvira e dessa vez não conta nada para Palha. Rubião esnoba com sua fortuna, gasta sem pensar no amanhã e assim desperta a amizade e a cobiça de muitos. O major sonha em casar sua filha, D. Tonica, mulher de quase quarenta anos e que para o pai estava encalhada. Rubião era então o bom partido, mas parece que ele só tinha olhos e o corpo todo para Sofia. Camacho também se aproxima de Rubião, com a finalidade de lhe fazer deputado. Rubião refuta a idéia, a princípio. Certa vez encontra uma carta endereçada a Carlos Maria, enviada por Sofia e isso lhe causa raiva e um sentimento de traição. Resolve tomar satisfação com Sofia e ela pede que ele abra a carta e leia o conteúdo, mas Rubião entrega-lhe a carta e sai com suas dúvidas. Será que Carlos Maria e Sofia estão mantendo um caso? Rubião afasta-se de Palha e de Sofia, já não freqüenta a casa constantemente e o amigo sócio vai até ele e pede que volte ao convívio de seu lar. Rubião volta a freqüentar a casa de Palha, mas Sofia não lhe dá mais atenção, achava-o repugnante e além do mais tinha Carlos Maria no pensamento. Palha diz que o melhor para Rubião era casar-se, mas o próprio só queria a esposa do amigo que lhe aconselhava. Palha pensara até em casá-lo com a prima de Sofia, moça que veio de fazenda mas que aprendeu a se comportar e ter os adjetivos de uma bela dama com Sofia, sua prima. Maria Benedita era a pretendente que Palha queria oferecer para o amigo, mas a própria já tinha despertado o seu coração quando vira Carlos Maria. Sofia a contragosto vê sua prima roubar o homem que por momentos lhe fez pensar em deslizar na moral e estimula a prima a casar-se com Carlos Maria. Casam-se e vão para a Europa e por lá ficam muito tempo. D. Tonica até que tenta sair do dito encalhe, mas o pretendente falecera e ela se conforma enfim com a solteirisse. Rubião começa a pedir dinheiro demais ao sócio, Palha, e este o aconselha a não gastar tanto assim, pois está começando a gastar mais do que ganha. Rubião não aceita o conselho e pede-lhe mais e mais. Quincas, o cão, agora não passa apenas de um cachorro, que de quando em vez recebe um carinho de Rubião. Rubião, às vezes, pensa que o filósofo Quincas Borba vive no cão Quincas Borba e nota que o cão lhe olha com recriminação. Por isso, quando lembra do amigo, faz um carinho, uma forma de amenizar o desdém com que cuidara do cão que lhe trouxera a fortuna. De repente, sem mais nem menos Rubião perde o prumo e o rumo da lucidez. Num despautério, começa a sair pela cidade com Sofia e no coupé, diz-lhe barbaridades, Sofia fica assustada, preocupa-se com o que poderia pensar quem os visse andar sozinhos, pede que Rubião pare o coupé e que desça, mas ele não atende. Rubião continua a falar-lhe e declarar seu amor. Sofia fica aterrorizada e Rubião desce e sai como se nada tivesse acontecido. Sofia não conta ao marido, mas nota que Rubião começa a perder o juízo. Os dias passam e Rubião piora o seu estado, as crises de loucura aumentam e Palha, seu sócio nos negócios, ficara rico e percebe que o amigo nada mais tem. Resolve desfazer a sociedade, não quer dividir o que ganhara e ainda aconselha o amigo a poupar para o futuro. Com a loucura, todos se afastam de Rubião e só o cão Quincas Borba é seu companheiro. Palha resolver internar Rubião, a pedido de Sofia e D. Fernanda. Sofia e Fernanda levam o Quincas para Rubião, para lhe fazer companhia. Quincas ao ver Rubião, pula e abana o rabo de alegria. Palha e Sofia agora moram num palacete e Rubião dá sinal de melhoras. Palha vendera a última propriedade de Rubião e ao saber da melhora do antigo sócio, vai visitá-lo. Rubião parece mesmo ter melhorado e pede a Palha que o tire dali e também pede algum dinheiro. Passando alguns dias, Rubião desaparece com Quincas, foge e volta para Barbacena, de onde saíra. Volta numa noite fria e chuvosa, sem ter para onde ir e nem o que comer. Os dois indigentes, cão e homem vagam pela noite molhada e se abrigam na igreja. Uma comadre antiga o acode e lhe dá o que comer, mas passando a noite na chuva, Rubião fica doente, arde em febre e começa a gritar: ao vencedor, as Batatas! A comadre não o quer ali, pois não cuidaria de um doido, então o expulsa. Rubião pede que lhe guardem a coroa e murmura: ao vencedor...e morre. Três dias depois, Quincas Borba, o cachorro, morreu. Ganiu, sofreu a procura do dono e assim foi com ele.

Conclusão

O romance mostra o interesse e a venalidade do ser humano. Machado de Assis relata com maestria a sociedade e suas ambições; a amizade construída em balcões de negócio e a beleza seduzindo por interesses venais. Rubião é o reflexo de ações e comportamentos de quem se deslumbra com algo e esquece valores morais e atitudes de boa conduta. Rubião tinha a incumbência de cuidar de Quincas Borba, o cão, para tomar posse da herança, mas, assim que soube da morte do filósofo Quincas Borba deu-lhe e só foi buscá-lo quando soube dessa responsabilidade. Deixa-se ser seduzido pelo dinheiro e não enxerga a compra de amizades e quer comprar com a herança recebida o amor de Sofia. Palha e sua ambição fecha os olhos para as investidas de Rubião em Sofia, sua esposa, tudo para não perder as benesses do que Rubião lhe oferece. Sofia é vaidosa, gosta de jóias e também gosta de ser notada pelos seus atributos físicos. Passeia por festas e saraus desfilando sua beleza, alimentando a esperança de quem a admira. Repudia as investidas de Rubião, contando a ousadia que ele fez lhe flertando, mas quando Carlos Maria também tenta seduzi-la, ela esconde o ato em seu coração. Sofia acha Rubião repugnante, asqueroso, mas sente enorme desejo em Carlos Maria, com quem pensa em ter um relacionamento extraconjugal. Para evitar tal deslize e perder as benesses do dinheiro que Palha amealhou e multiplicou, casa Carlos Maria com sua prima. Sente raiva de tal atitude, mas desfilar a nobreza para ela é melhor que passar despercebida com o amor de sua vida. Palha no começo mostra-se preocupado com a fortuna do Rubião e até aconselha-o a se controlar, mas na primeira oportunidade abandona-o, retribuindo com ingratidão tudo que o amigo lhe fez. Palha fica rico investindo o dinheiro de Rubião, mas não lhe dá os trocos desse desvio. É possível perceber o interesse e as aproximações por interesses vis, ambições e as recepções compradas pelo dinheiro. Nota-se também que sem o poder financeiro logo vem o ostracismo e o silêncio de quem antes bradava a serventia. Rubião é vitima de suas ações, de sua ignorância e o próprio Quincas numa profecia já lhe chamara de ignaro (ignorante). Por ironia do destino e por vingança da vida, morre da mesma maneira que Quincas faleceu. Louco, solitário, mas pobre. De todas as personagens a mais fiel é o cão que, mesmo abandonado por quem deveria ser o seu tutor e não receber as benesses da herança da qual realmente tinha direito, não abandona Rubião e é fiel até na hora da morte, pois assim que o seu tutor morre o cão em seguida falece. Tudo para seguir até o fim o seu dono. Machado ironiza aqueles que acham que ganharam, que foram vitoriosos, com uma frase: ao vencedor, as batatas! Talvez queira dizer que a vitória é apenas conseqüência do que se faz para tê-la e não se pode fazer de tudo para obtê-la. O romance retrata fielmente o jogo de interesses, a venalidade e a ingratidão do ser humano. Mostra que um animal irracional pode ser mais correto e fiel, pois o cão Quincas Borba prova isso com sua amizade a Rubião sem interesse. Não será então o título do livro por causa do cão e não do filósofo? Fica a dúvida!

Frases

Não há vinho que embriague como a verdade.

O homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso,

As dores guardadas no coração doem mais que as outras.

Há entre o céu e a terra muitas mais ruas do que sonha a tua filosofia.