OS CAMINHOS DO MESTRE- RITUAL DA PERDA
Ritualização da perda
As cerimônias reverenciais que marcam os acontecimentos mais importantes de nossa vida (nascimento, casamento, iniciação,
morte) são todas ritualizações de transições. O ritual é um ato consciente de reconhecimento de uma transição na vida, onde fazemos uma cerimônia para honrar e reconhecer essa mudança, oferecendo presentes e intenções sagradas, na presença de testemunhas.
A perda também é uma transição. A nossa relação, a nossa convivência com aquela pessoa, situação ou bem, vai se modificar ou deixar de existir.
Por que não ritualizarmos também as demais transições que resultam em perdas? Afinal, tudo vem e vai em nossas vidas. A vida é como um rio. Por isso os sábios orientais gostam de usar metáforas de rios, lagos e outras alegorias semelhantes, para simbolizar a sua transitoriedade e ensinar aos seus discípulos quão vãos são os nossos anseios e os nossos temores.
Buda (Sidarta Gautama), descobriu que o apego aos bens materiais é o grande inimigo do espírito do homem. Ele o mantém chumbado à roda dos nascimentos e mortes (Sansara, reencarnações). Por isso ele ensinou que a verdadeira liberdade é o Nirvana, ou seja, a total libertação da ditadura dos sentidos.
Os povos mais ligados à sabedoria da natureza costumam praticar o ritual da perda, mediante o qual eles as aceitam com na-turalidade. Inclusive a própria morte (a maior de todas as perdas), é tratada como um acontecimento transitório, no qual o espírito do ente querido passa para o rol dos ancestrais e pode ser consultado através dos rituais apropriados. Assim, a idéia da morte, como uma experiência de extinção definitiva e irrevogável, deixa de existir e no lugar dela entra uma tolerável e até desejável transição.
Em tempos mais remotos, algumas dessas tribos, como os sioux, os cheyennes, os kyowas, os cherokees, por exemplo, costumavam rasgar o peito com uma faca e deixar verter um pouco do seu sangue na terra em respeito aos entes queridos que morreram. Esse era um ritual que simbolizava a parte da vida que a pes-soa perdia quando o ser querido falecia. Um pouco do seu sangue desaparecia com ele e essa seria a garantia de que ambos continuavam unidos e se comunicando.
Espíritos ancestrais
O arquétipo Mestre mostra respeito pelos espíritos ancestrais principalmente porque eles nos ensinam o verdadeiro desapego. Eles já passaram pela angústia da morte, que é experiência suprema de tudo deixar:
Quer acreditemos ou não na existência de entidades espirituais, não podemos negar que temos vínculos indissolúveis com os nossos ancestrais. É deles que recebemos nossa herança biológica e cultural. Eles nos transmitem a totalidade das vidas vividas antes de nós, vidas essas que nos fornecem a estrutura para sermos o que somos
Da mesma forma que as gerações vindouras serão os frutos que nascerão de nós, nós somos os frutos dos nossos ancestrais. Honremo-los, pois, com nossa saudade, com o nosso afeto e até com oferendas materiais, como fazem algumas culturas. Mas sem o apego mórbido que algumas pessoas demonstram quando seus entes queridos deixam esta vida.
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DO LIVRO CÓDIGOS DA VIDA- CLUBE DOS AUTORES, 2011
Ritualização da perda
As cerimônias reverenciais que marcam os acontecimentos mais importantes de nossa vida (nascimento, casamento, iniciação,
morte) são todas ritualizações de transições. O ritual é um ato consciente de reconhecimento de uma transição na vida, onde fazemos uma cerimônia para honrar e reconhecer essa mudança, oferecendo presentes e intenções sagradas, na presença de testemunhas.
A perda também é uma transição. A nossa relação, a nossa convivência com aquela pessoa, situação ou bem, vai se modificar ou deixar de existir.
Por que não ritualizarmos também as demais transições que resultam em perdas? Afinal, tudo vem e vai em nossas vidas. A vida é como um rio. Por isso os sábios orientais gostam de usar metáforas de rios, lagos e outras alegorias semelhantes, para simbolizar a sua transitoriedade e ensinar aos seus discípulos quão vãos são os nossos anseios e os nossos temores.
Buda (Sidarta Gautama), descobriu que o apego aos bens materiais é o grande inimigo do espírito do homem. Ele o mantém chumbado à roda dos nascimentos e mortes (Sansara, reencarnações). Por isso ele ensinou que a verdadeira liberdade é o Nirvana, ou seja, a total libertação da ditadura dos sentidos.
Os povos mais ligados à sabedoria da natureza costumam praticar o ritual da perda, mediante o qual eles as aceitam com na-turalidade. Inclusive a própria morte (a maior de todas as perdas), é tratada como um acontecimento transitório, no qual o espírito do ente querido passa para o rol dos ancestrais e pode ser consultado através dos rituais apropriados. Assim, a idéia da morte, como uma experiência de extinção definitiva e irrevogável, deixa de existir e no lugar dela entra uma tolerável e até desejável transição.
Em tempos mais remotos, algumas dessas tribos, como os sioux, os cheyennes, os kyowas, os cherokees, por exemplo, costumavam rasgar o peito com uma faca e deixar verter um pouco do seu sangue na terra em respeito aos entes queridos que morreram. Esse era um ritual que simbolizava a parte da vida que a pes-soa perdia quando o ser querido falecia. Um pouco do seu sangue desaparecia com ele e essa seria a garantia de que ambos continuavam unidos e se comunicando.
Espíritos ancestrais
O arquétipo Mestre mostra respeito pelos espíritos ancestrais principalmente porque eles nos ensinam o verdadeiro desapego. Eles já passaram pela angústia da morte, que é experiência suprema de tudo deixar:
Quer acreditemos ou não na existência de entidades espirituais, não podemos negar que temos vínculos indissolúveis com os nossos ancestrais. É deles que recebemos nossa herança biológica e cultural. Eles nos transmitem a totalidade das vidas vividas antes de nós, vidas essas que nos fornecem a estrutura para sermos o que somos
Da mesma forma que as gerações vindouras serão os frutos que nascerão de nós, nós somos os frutos dos nossos ancestrais. Honremo-los, pois, com nossa saudade, com o nosso afeto e até com oferendas materiais, como fazem algumas culturas. Mas sem o apego mórbido que algumas pessoas demonstram quando seus entes queridos deixam esta vida.
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DO LIVRO CÓDIGOS DA VIDA- CLUBE DOS AUTORES, 2011