Memorial de Aires - Machado de Assis
Memorial de Aires (1908)
Personagens:
Conselheiro Aires – viúvo, aposentado, bom ouvinte e narrador do romance.
Aguiar - Casado com Carmo, gentil e bom marido.
D. Carmo – senhora educada, não teve filhos e trata a todos com carinho. Vive para o marido e para os filhos “emprestados”.
Fidélia – viúva, bonita, de pouco riso; briga com os pais por amor, fina e educada.
Tristão – Jovem que foi estudar na Europa; à volta apaixona-se por Fidélia. È educado, fino, cortês e tem pretensões políticas.
Rita - além de boa pessoa, é curiosa, viúva, fina, irmã de Aires.
Resumo
Ao chegar da Europa, Conselheiro Aires é recebido por sua irmã Rita, que faz festa com sua volta. Aires pergunta-lhe sobre tudo e Rita vai respondendo o que sabe. Ao ver Fidélia, viúva e muito distinta, pergunta-lhe se ela não pensa em se casar novamente. Rita responde que é muito difícil, pois a viúva se entregou ao luto. Aires fala que ela ainda há de mudar de idéia. À primeira vista, Aires pensa estar apaixonado por Fidélia, mas... Rita o leva para a festa de bodas do casal Aguiar e D. Carmo e Aires logo se faz íntimo; começa a visitar Aguiar constantemente e se encanta com o casal (Aguiar / Carmo), dois idosos cheios de vida e amor no coração. Descobre que os dois nunca tiveram filhos e por isso transferiram seu amor para um jovem que foi estudar na Europa. D. Carmo conta que Tristão era como um filho, vivia entre eles, mas certo dia, teve que viajar com os pais e por lá ficou. Mandava sempre notícias e dizia que formara em medicina. Fidélia supriu a falta de Tristão e era para o casal como uma filha; vivia com sua viuvez entre eles e levava alegria. Fidélia era muito reservada, calada e pouco sorria, cultivava ainda a saudade do marido já falecido. Aires soube que Fidélia havia brigado com os pais para se casar com o finado e que não se falavam há muito tempo. Aires freqüenta a casa de Águia e D. Carmo quase que cotidianamente e, quando volta para a sua casa, escreve em seu diário os fatos e relatos que sucederam durante o dia/ noite mais relevantes. Fidélia era tratada como filha pelo casal, que passava horas elogiando a viúva e ela os respeitava e passava horas na companhia de D. Carmo. Aguiar e D.Carmo souberam que Tristão viria visitá-los e a alegria enchia o coração do casal. Aires relatava tudo em seu diário, cada detalhe de vida e cada emoção exposta. Tristão chega e parece que tudo são flores para o casal, que não gerou filhos, mas que tem agora dois de coração. Tristão é um homem bom, educado e servil, trata os pais postiços com muito carinho. Diz que a demora é pouco, pois sua intenção é a política e que todos os esperam lá em Lisboa para fazê-lo deputado. Isso deixava o casal triste, pois sabia que o “filho” logo retornaria à Europa. O pai de Fidélia falece e deixa a fazenda como herança. Há escravos alforriados e Fidélia vai até a fazenda herdada no intuito de vender. Os libertos (escravos) adoram a sinhá ( Fidélia) e quase que imploram que ela não venda a fazenda. A viúva é muito carinhosa e caridosa, por isso, tem a estima de todos, até dos escravos alforriados. Tristão começa a ceder aos encantos da viúva e desabafa com Aires a intenção de casar com Fidélia. Aires sente-se feliz com tal confissão e pensa que Aguiar e D. Carmo também ficarão muito felizes. A viúva que tinha o talento de tocar piano e de pintar e este mesmo talento havia morrido com o defunto, parece que agora ressuscitara. Tristão também toca piano e parece que o casamento começa por aí. Num jantar, Tristão fala de suas intenções e todos ficam felizes, inclusive a futura noiva. D. Carmo era só alegria. Talvez agora, pensou ela, Tristão case-se com Fidélia e fique por aqui mesmo. Tristão escreve para os seus pais na Europa contando que pretende se casar e recebe a aprovação. A data é marcada e D. Carmo e Aguiar são só preparativos. Casam-se e passam a lua de mel em Petrópolis. Tristão volta com Fidélia e a viuvez dá lugar agora a uma senhora feliz. Mas a felicidade não é perene e... Parece que a intenção de Tristão de ser deputado não foi esquecida. Ele recebe uma carta da Europa dizendo que sua vitória é certa e que ele deveria vir para tomar posse. Conta a Aires sobre a carta e sobre a viagem, mas pede que ele não conte nada ao casal. Tristão conta ao casal sobre a viagem e chama os dois para que os acompanhe. Mas Aguiar e D. Carmo estão muito velhos e não aceitam a tal viagem. Tristão e Fidélia deixam transparecer que a viagem é rápida, mas Aires sabe que não voltarão mais. No dia do embarque, todos estavam e todos choravam. Parecia uma despedida e para sempre, certamente. As cartas que vinham da Europa falavam da felicidade de Tristão e Fidélia. Aires prometeu para Tristão que cuidaria do casal de idosos e mesmo, também, estando velho, assim faria. Certo dia visitara e encontrou os dois sentados em frente à casa, um consolando a saudade do outro e se fazendo companhia até o fim dos dias. Assim Aires encerrou o seu diário romance.
Conclusão
O romance é feito em primeira pessoa, narrado pela personagem Conselheiro Aires, que ao fim do dia vai escrevendo em seu diário suas observações. Aires é praticamente um interlocutor que ouve e jamais tem uma opinião. D. Carmo e Aguiar são dois velhos cheios de amor, que não tiveram a sorte de ter filhos. Tristão, homem valoroso, casa-se com Fidélia e neste último romance de Machado de Assis, vimos que as personagens são fieis e amorosas. O enredo fala simplesmente de companheirismo e irmandade; de amizade e devoção. Aires relata em seu “diário” a ternura de todas as personagens, e as lágrimas derramadas por amor. É possível sentir nesse derradeiro romance de Machado de Assis, a sua despedida da vida. Ele transfere para esse papel, toda a solidão que estaria vivendo. É um romance sem uma trama, tal quais os seus anteriores, mas com o ensinamento de como devemos conviver amorosamente e como amar o próximo. Mostra que a velhice e a juventude caminham por estradas diferentes e, que, a frivolidade de uma, nem sempre combina com a experiência da outra. Esse diário/ romance não mostra os achaques da vida e nem os pecados de que o homem é capaz de cometer, mas sim, mostra a vida pelo lado do idílio. Apesar da ida de Tristão e Fidélia para a Europa e de ter deixado os velhos sozinhos, o romance mostra que a vida é sempre uma continuação e que nada tem que ficar estagnado.
Frase
Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular
O acaso também é corregedor de mentiras.
Tudo é fugaz neste mundo
A maledicência não é tão mau costume como parece.