O MESTRE

Princípio Orientador, Habilidades  e Virtudes

Estar aberto aos resultados e não preso a eles
Clareza
Desapego
Discernimento
Objetividade
Flexibilidade
Aprender com tudo o que lhe acontece e estar sempre disposto a compartilhar o que aprendeu.

“Nada torna o homem mais semelhante a Deus do que o desapego impassível. Deus repousa no desapego impassível. Daí decorre a sua pureza, sua simplicidade e sua imutabilidade (...).
                                                    Mestre Eckhart – Do Desapego.

A garantia de sobrevivência da humanidade é dada pela sua capacidade de transmitir de geração para geração o seu aprendizado. Isso é o que se chama cultura. É através da transmissão do conhecimento acumulado pela mente humana que a vida da espécie tem continuidade, num processo sempre crescente de alternativas de procedimentos, em face dos desafios cada vez complexos que a tarefa de viver nos apresenta.
Nas antigas culturas orientais o homem idoso era o depositá-rio da sabedoria, e respeitado como símbolo do conhecimento acumulado pelas sucessivas gerações. Na China, a doutrina de Confúcio se fundamentava no respeito aos ancestrais. No Japão também se cultivava a tradição de buscar no ancestral a sabedoria necessária para as decisões mais importantes da comunidade.
Essa ainda é uma tônica na cultura dos povos orientais e tem sido saudada como um dos elementos que mais concorrem para fazer desses países nações estáveis, onde as mudanças políticas, sociais e econômicas só tocam nas relações externas que elas mantêm, mas intimamente pouco mudam no espírito do povo.

Os romanos cultivavam os “deuses lares”, espíritos dos an-tepassados. Eram os “manes”, cujas memórias eram honradas e conservadas através de pequenas estatuetas que eram consultadas sempre que se queria obter conselhos e previsões de acontecimentos futuros.
Na primitiva cultura de Israel, por exemplo, que nos legou a literatura sagrada que conforma a maioria das nossas crenças religiosas, o poder, durante milhares de anos, foi conservado por um Conselho de Anciãos, o qual escolhia seus líderes para a guerra e seus juízes em tempos de paz. Iremos encontrar essa estrutura ainda nos tempos de Cristo, quando o Sinedrin judeu era o centro do poder no país. Essa tradição sobreviveu através dos tempos na tradição da Cabala e nos Comentários do Talmude, onde a sabedoria está associada à idade proveta. Tanto que a própria divindade, na tradição cabalística,  é chamada de "Ancião dos Dias".
Essa tradição também é muito forte entre os povos ligados à natureza. De tal forma que na maioria das tribos indígenas da América do Norte e mesmo nos povos pré-colombianos da América do Sul e Central, o poder comunitário era, e ainda é, nas tribos onde a primitiva cultura foi conservada, exercido por um Conselho de Anciãos.

Na experiência do homem idoso está a sabedoria que inspira confiança, porque quem chega a esse limite da vida sabe que não deve se apegar a nada. E ele sabe, principalmente, que a vida humana é fugaz e os nossos desejos e conquistas são como as águas do rio que passam, matam a nossa sede e nutrem a vida de cada dia, mas jamais voltam, e um dia o rio também seca.
Doutra forma, é com a sabedoria natural da pessoa que con-vive com a natureza e observa o seu processo de criação, na sua simplicidade espontânea e milagrosa, que o homem experiente, na tradição xamânica, se torna Mestre. Ele é, como diz o Mestre Aurobindo, “um ser ligado à natureza, que busca nela a sua própria perfeição”.
____________________

DO LIVRO " CÓDIGOS DA VIDA"- CLUBE DO ESCRITOR, 2011


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/07/2012
Código do texto: T3803844
Classificação de conteúdo: seguro