Missão de vida

Todas as pessoas têm uma missão na vida. Essa é uma generalização que parece não ter um contra exemplo no nosso modelo lingüístico. A falta de um propósito para as nossas ações e a ausência de um sentimento de missão torna a vida muito vazia e indigna de ser vivida. Cumpre a cada um de nós descobrir qual é a missão da nossa vida. Quem não a descobre é como aquele sujeito do famoso poema. .(1)
A finalidade do arquétipo Visionário é nos manter ligados aos nossos sonhos de vida, à nossa missão, ou o próprio significado da nossa existência, pois ninguém pode ser inteiramente feliz se sentir que não está alcançando esse propósito. Além disso, sem uma clara compreensão da nossa missão na vida, não é possível dar plena vazão aos nossos dons, talentos e recursos, pois estes só se manifestam plenamente quando aquilo que fazemos tem verdadeiro sentido. Esse sentimento é conseqüência da espiritualidade adquirida pelo homem no desenvolvimento natural das suas atividades psíquicas. Como bem assinala Teilhard de Chardin, o ho-mem é, ao mesmo tempo, um organismo em evolução e um espíri-to em marcha em direção a um Porvir.

Os dois vícios do Visionário

Nossa criatividade perde força quando o arquétipo Visionário se deixa envolver pelos dois padrões de negação que existem em seu aspecto Sombra. Esses padrões são aqueles que chamamos de negação e indulgência.
O padrão da negação nos leva a evitar determinadas pessoas ou problemas e a ver as coisas como queremos que sejam ao invés de como elas são realmente. É um padrão que induz temor e ilusão.
O padrão da indulgência nos leva a subestimar perigos, dificuldades e deficiências nos nossos planos, e assim somos levados a correr riscos além dos necessários. É um padrão que induz falsa segurança e vulnerabilidade.

Ferramentas de poder do Visionário

As ferramentas de poder do Visionário são estímulos que ele pode adotar para dar vazão aos conteúdos do inconsciente. São âncoras muito eficientes para a produção de visões. Esses estímu-los estão relacionados com:

1. Sons e canções de poder

Quem canta seus males espanta, diz o velho ditado. Fazer o indivíduo “cantar” é sinônimo de extrair a verdade, na gíria policial. Essa é metáfora que expressa uma verdade neurológica. O inconsciente, onde está armazenada a totalidade da informação, sem as deformações que os filtros da linguagem lhe fazem, reage muito espontaneamente a determinados tipos de som.
O som é uma forma de linguagem muito importante para a nossa programação neurolinguística. Sua entonação, sua extensão, sua modulação, suas características de duração e freqüência, são elementos neurolingüìsticos com os quais nossa mente codifica as informações sonoras.
Assim, o primeiro passo para acessarmos o nosso arquétipo Visionário é aprender a cantar. Nossas canções favoritas são nos-sas melodias de poder. Elas estão ligadas aos momentos mais marcantes da nossa vida, quando vivemos experiências realmente sig-nificativas, que a nossa mente registra com extrema emoção.
A música e a dança são manifestações arquetípicas por excelência. Não existe povo na terra que não tenha desenvolvido uma forma típica de canto ou de dança para dar vazão aos seus desejos, temores, esperanças e crenças. Essas manifestações estão, de alguma forma, ligadas às raízes mais profundas da nossa personalidade.
Os compositores de música sacra dizem que existe uma relação entre os sons das letras I, O, A com as três forças fundamen-tais da vida: o dinamismo, o magnetismo e a integração. Por isso esses três sons são sagrados.
O dinamismo é a força que impulsiona a representação das nossas experiências internas, facilitando a expansão e a criação. O magnetismo é a força que proporciona a abertura e a recepção de
49 Segundo a PNL, os filtros da linguagem são a generalização, cancelamento e distorção. Através desses filtros, a informação é adaptada para o entendimento da mente consciente, mas perde partes importantes do seu conteúdo.
novas experiências. A integração é a força que sintetiza, organiza e consolida a experiência, proporcionando a geração de idéias novas.
Todas as formas de canto religioso (hinos, salmos, mantras, canto gregoriano, bem como o som dos tambores indígenas, os atabaques nos terreiros de umbanda), são exemplos de experiências feitas com sons com o objetivo de alinhar nossas ondas men-tais nas freqüências adequadas para capturar os padrões energéti-cos capazes de intensificar a energia espiritual.
Da mesma forma, hinos e marchas são canções compostas com a finalidade comover e dirigir as pessoas para um determinado fim. Quem não se sente comovido ao ouvir o hino nacional do seu país ou uma canção em particular, que esteja associada com alguma experiência significativa em sua vida?
Os hindus têm na sílaba OM um mantra para acessar as par-tes mais profundas do inconsciente, onde se situam as raízes da nossa ligação com a divindade. Eles dizem que esse som, pelas suas características vibratórias, abre as portas da percepção e facili-ta o ingresso da mente em estados alterados de consciência, nos quais é mais fácil recuperar e modificar a informação que gera nos-so comportamento.
Em termos de PNL diríamos que essas manifestações são âncoras sonoras com as quais os estados internos propícios à cria-tividade são acessados com mais facilidade.

2. Âncoras sonoras ― os sinos

O sino é o instrumento da espiritualidade por excelência. Es-tá ligado ao arquétipo do Visionário pela sua capacidade de levar o ouvinte a acessar estados internos mais profundos. Não foi a igreja Católica que inventou o sino como instrumento para chamar os fiéis. Os padres apenas descobriram que eles atendiam melhor ao som desse instrumento do que de outro qualquer. O som de um sino, pela sua característica vibratória de alta freqüência, tem a propriedade de abrir caminho à nossa visão interior. É uma pode-rosa âncora sonora.

3. Meditação e contemplação

A meditação abre as três portas da percepção da nossa men-te, que são a porta dos símbolos, a porta das lembranças e a porta das associações.
Símbolos são representações pictóricas dos nossos conteúdos mentais. São os nossos desejos, temores, crenças e valores expressos em forma de imagens. É uma forma de linguagem neurológica visual.
Lembranças são acessos conscientes que a mente faz aos registros das nossas experiências.
Associações são ligações entre informações registradas na nossa mente. Podem ser conscientes ou inconscientes. A mente é una e nada do que ela manifesta é desvinculada do universo. Ela man-tém sempre uma relação com o todo, embora nem sempre essa relação seja evidente.
Meditar é diferente de raciocinar. Na meditação nós deixamos a mente trabalhar livremente para que ela, sem direcionamen-to nem controle, possa acessar os nossos registros mentais, consci-entes e inconscientes, e assim fazer associações sem constrangimento de nenhum tipo. É nesse momento que as intuições, a cria-tividade e as iluminações ocorrem.
O acesso ao arquétipo Visionário ocorre através da meditação, de preferência, caminhando. Outras formas de meditação que ativam esse arquétipo são as ações de cozinhar, fazer trabalhos de artes manuais, jardinagem, natação, etc. Neste caso o que importa é o movimento, pois ele inibe a razão e facilita a liberação dos con-teúdos inconscientes. Certos tipos de jogos, como o xadrez, dama, golfe, pela ludicidade e descontração que provocam, também facilitam o acesso ao Visionário. Da mesma forma, tocar um instru-mento musical nos leva aos mesmos resultados.

4. Preces e orações

Meditar é ouvir o que diz o nosso inconsciente. Orar também é uma forma de falar diretamente com ele. Em termos de religião isso equivale a uma prece, na qual podemos falar com Deus por que Ele está em comunicação direta com o nosso in-consciente.
Dizemos isso porque pensamos que Deus não se comunica com a nossa razão. A razão nos leva a duvidar, porque ela é fruto da lógica e a lógica é limitada ao tamanho da nossa linguagem; já a mente inconsciente nos leva a crer, por que ela admite a existência do maravilhoso, do bizarro, do incognoscível. Ela não precisa do recurso da linguagem para saber que além daquilo que a nossa mente consegue representar existem muitas coisas mais.
A mensagem de Deus e as fórmulas pelas quais Ele cria as realidades fenomênicas do mundo estão gravadas no nosso in-consciente na forma de símbolos, leis naturais, noção do certo e do errado, conceitos do bem e do mal, etc.. Decoficá-las e transfor-má-las em informações é o trabalho dos cientistas e dos profetas. Cada qual com seu método, mas ambos igualmente certos. Ou não.
A meditação é uma forma de acessar o inconsciente e recu-perar a integridade da mensagem. É um mergulho na nossa interioridade, para de lá emergir com novas informações que podem modificar o entendimento que delas arquivamos na Razão.
Há três tipos de oração: oração de pedir, de venerar e de agradecer. A de pedir é quase sempre uma prece dirigida, formulada pela consciência, pois se refere a um objeto definido e específico que temos em mente. É um desejo ou uma aspiração que quere-mos ver realizados, ou um agradecimento pelo que já se realizou.
A prece não dirigida não visa um resultado específico. Ela é um pedido para que o inconsciente (ou a divindade) nos ofereça uma orientação. O Pai Nosso que Jesus nos ensinou é uma prece não dirigida, pois embora haja um conteúdo específico na sua formulação – o pedido do pão nosso de cada dia – ela deixa a forma e o quantum de atendimento para a decisão da divindade. (seja feita a Vossa vontade).

5. Ludicidade

Jung acreditava que o nosso arquétipo Visionário poderia ser acessado com mais facilidade quando nos entregamos a atividades lúdicas ou infantis. Construir castelos de areia, casinhas, desenhar, brincar com coisas que nos façam regredir aos nossos “eus” anteriores é uma boa maneira de fazer isso. Uma de suas práticas tera-pêuticas mais comuns era fazer o cliente regressar aos primeiros anos da sua infância para recuperar a criança que havia dentro dele.
Nos anos sessenta a cultura hippie cultivou a prática de viver o máximo possível junto à natureza, na tentativa de recuperar a inocência e a criatividade que eles achavam que o ser humano havia perdido com seu exagerado amor pela tecnologia, pela lógica e pela materialidade. Hoje, os campings, as caminhadas na mata, os retiros solitários no campo e nas praias desertas, os passeios por lugares inóspitos, etc. são muito eficientes para abrir o acesso ao nosso arquétipo Visionário.
Da mesma forma, as grandes empresas hoje buscam ambientes naturais para realizar treinamentos, seminários e reuniões, pois da desvinculação física com seus ambientes de trabalho, a relação mais próxima com a natureza facilita a liberação da capacidade criativa dos participantes.
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DO LIVRO "CÓDIGOS DA VIDA"- CLUBE DOS AUTORES- 2011

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 06/07/2012
Código do texto: T3763711
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