OUTONOS E PRIMAVERAS:um trio poético de Marília Siqueira.


Os ciclos que determinam as estações sempre impresssionaram os estetas.Haikais são escritos com o olhar voltado para a atmosfera em torno do poeta,ou para a paisagemque ele contempla, imagina ou cria.

Para a mulher, os ciclos estão muito perto de sua vida.Quala lua e suas fazes, tem altos e baixos, abre oufecha a possibilidade,osonho, a ousadia.

E a mulher que escreve Poesia, mais ainda.

Na cidade de Ipatinga,Minas gerais, há um ninhal de bardos.Desde que ouvi falar do Clube de Escritores de Ipatinga, quando concorri e fui Menção Honrosa no CECON(Circuito Estadual de Contos), que entrei em contato com duas pessoas de prenome parecido:Marilda, Marilia.Uma,é poetisa e tem o nome da musa de Tomaz Antonio Gonzaga, o Dirceu.A segunda é a produtora dos eventos do CLESI.

No ano passado, fui a Ipatinga receber a linda antologia PRosa Gerais,que engloba cinco anos de concursos - os autores classificados e seustextos- onde está meu \"A Semente\" e receber otroféu lindo,pelo segundo lugar, com \"O Balão Amarelo\".

E somente então, conheci Marília,a dona da festa.Ela e a secretária do CLESI, Marilda são mais que companheiras e parceiras deeventos, conhecem-sehá muitos anos, são amigas.

Então, Marília presenteou-me com sua col~ção de Poesia chamada \"Outonose primaveras\", três volumes .O primeiro é \"Outono\", o segundo, \"Entre Estações\", o terceiro, \"Primaveras\".A orelha de Outono, escreve-a Marilda, que diz ter sido madrinha de casamento da poetisa.E pergunta:\"(...) \"as estações do ano são como os sentimentos ou estes é que se confundem com as estações?\"
Bemsabemos que se faz muita analogia com as etapas devida dealguém e elas:\'está na primavera da vida\", já é madura,outonal\",\"já estou no inverno de minha história, arde qual um sol de verão...

Psicóloga, acompanhei muitos pacientes com depressão sazonal,de estação:o humor muda deacordo com a cara do dia, da estação...De família nordestina, via mamãe mudar do vinho para a água quando esfriava ou chovia ou o dia estava ensolarado aqui nas Minas Gerais.Depois de mais madura,passei tambem a refletir o tempo, a paisagem,o sol, a chuva,a lua...

Li ,há uns seis anos,o primeiro livro da autora, \"Utopia\",onde a hipersensibiidade poética já se fazia anunciar.Este trio de livros, porém , revela fruto maduros,que crescem na árvore da inspiração para oferecerem-se ao leitor.Os versos são mais leves e garantem a humildade do questionamento revelador.

No pimeiro volume da delicada coleção, Outono,há pinceladas sutis, folhas de bambu apenas sugeridas:

\"Deslumbra-me
o outono!


mas

-como hei de reviver
as cores
das folhas
mortas?\"

As sutileza com que a autora fala da juventude perdida,e dos conflitos naturais da maturidade,estão aí,nesse adejar de folhas que flutuam oucaem , já longe do verde original...

Nesse volume, há uma repartição:\"Entre Outonos\",que dátítulo ao livro e \"Noturno\".Todos os versos enfeixam-se em signos.Na primeira parte, \"Sob o signo das Sombras\",depois dos próprios \"Versos Outonais\", a seguir \"Sob o signo das ausências\".

Já em \"Noturno\",ela os enfeixa sob três outros signos:o das Tempestades, o da Lua e o da Noite.

Elejo o apredileto:

\"Deixo os gestos
precederem o ato
onde as esperassem tréguas,
depositam
nas fohascaídas
os fantasmas
das noites sombrias.
A exist~encia preencher-se
com rascunhosperdidos
dentro de mim mesma
e,
nester vazio
viver um silêncio
implacável\".

No segundo,\"Entre Estações,a imagem de pequenas margaridas sobrepõem-se às folhas que pousam no primeiro livro.O subtítulo aponta para o momento vivencial:\"Flerte\".

O apresentador ,Roniere menezes,afirma que esse livro\"é leve e denso,é etéreo e carnal\"

O prefaciador .Wellington Fred Martins,instiga econvida oleitor:\"Bom flerte para você.\"


Ainda no terreno das sutilezas,Marília escreve :


\"Entretida
em vãos galanteios,
faz-me palpitar...
Arfar a renda
que me cobre
os seios

-cumpre
que agora
o mistério
desabroche.\"

No terceiro, já as margaridas anunciadas, tomam todo o pequeno retângulo que orna as capas.Aponto para esse projeto gráfico da VCS propagana.Percebe-se um cuidado extra em contextualizar também a imagem:folhas, flores,que representam a palavra poética.Busco dados e vejo que o trabalho é do\"Aldrava,Letras e Artes\",de Mariana.Já tenho entreaberto aqui as nuances do Movimento Aldravista, que agrega cultores do verbo e das formas.

Neste volume,ela fecha com:

\"O último poema
nunca existirá,
pois sempre haverá
um novo verso

...se não,por mimescrito,
certamente subtendido
por algum ávido leitor...\"

Nele, Nely Morato Ferreira,acentua o aspecto de catarse dessa poesia e o prefaciador,Romero Lamego Firmino aponta:
\"Nada fica parado à sua imaginação\"


Não foi à toa que o apresentador do volume I foi o premiado Gabriel Bicalho,que preside esse variado o grupo,movido pelo desejode ser sutil e leve no queproduzem, que edita o Aldrava, jornal literário.Ele mostra algo que eu própria diria da autora e sua poesia:

\"São versos de puro lirismo,de um romantismo exacerbado e amargamente contidos em curtos pulsares do coração desta mulher plena de graça.\"

É que o limiar entre a mulher que poetiza e sua lavra, é csutilíssimo.Ela inteira está ali,pulsátil,mas sem ruídos.A mineirice aparece na quase ausência de pronomes oblíqüos.E no prefácio, dela diz Jorofa Senaldoria:
(...)\"a beleza interior revela-se ávida por nova aurora\".


O compositor Vivaldi bem percebeu as diferenças sazonais quando compôs \"As Quatro Estações\", usando para cada uma, o tempo musical adeqüado.Marília arrastou suavemente uma echarpe sutil pelas páginas e ora saem pirilampos,ora estrelinhas de festões.

Verões e invernos talvez apareçam qualquer dia.

Clevane Pessoa Lopes

Belo Horizonte,09/02/2007
clevane pessoa de araújo
Publicado no Recanto das Letras em 10/02/2007
Código do texto: T375807