Um copo de cólera.
 

O título do primeiro e do último capítulo é o mesmo – A chegada – o que leva ao círculo que se inicia com a chegada dele em sua própria chácara já encontrando ali a amante e termina com a chegada dela ao mesmo lugar depois de ter saído dali em desabalada carreira após o copo de cólera ter sido totalmente derramado, e encontrado ele dormindo, ele, o amante, depois de ter colocado para fora de si todos os seus demônios, conscientes ou não, dormindo o sono dos justos, embora não fique claro se isso é no dia seguinte ou se ela deixou passar alguns dias para que os sentimentos de ambos se arrefecessem, porque a primeira  idéia que tive foi que o autor,  Nassar fosse usar no livro a mesma técnica usada por James Joyce em Ulisses, que era contar a história em tempo real, já que os primeiros capítulos, assim fazem parecer, pois primeiro tem a chegada, logo depois vão para a cama e aí já no terceiro percebo que não pois estão a se levantar, logo depois vão para o banho, tomam o café da manhã e eu pensei, agora voltaram ao tempo real para contar a história e é aí que começa o esporro, a cólera a encher o copo, e esse parágrafo é grande, imenso e a gente vai lendo e sentindo cólera aumentar, até que chega o clímax, ela em desabalada carreira e ele derreado sendo levantado, melhor diria içado pelos por dois empregados e eu exausta dessa leitura veloz pensei também preciso descansar, mas não descansei porque  ainda havia um parágrafo, é isso mesmo, nessa novela só existem os parágrafos, cada parágrafo um capítulo e era o parágrafo final quando mais uma vez ocorre a chegada, dessa vez a dela e eu então pensei que a única forma de homenagear esse magnífico escritor da língua portuguesa seria escrever como ele, tudo em um único parágrafo e pensei ainda na sacanagem que seria um professor de literatura mandar seus alunos encontrarem o sujeito da frase.
                                                                         
Um Copo de Cólera - Raduan Nassar