Resenha: Vitória de Samotrácia
Trigal com Corvos
W. J. Solha
Palimage Editores – 2004
Auto-retrato de W. J. Solha inserido no “Tribal com Corvos” de Van Gogh
Diagramação/capa: José Hertz da Cruz
Trigal com Corvos, do escritor W. J. Solha, é sua única obra poética dentre peças de teatro, romances, exposição de pintura e até atuação no cinema. Pode-se denominá-la de Solhapedia pelo cabedal de conhecimento que se tem ao lê-la. Sem dúvida alguma, a wikipedia está aquém da gama de informação que tal obra traz no seu bojo. Observe:
“O mundo é uma enciclopédia que junta Moscou com mosca
pavão com Pávlova
ciclo com Ciclope
aceita – com igual isen-
ção - que “escatologia” tanto signifique doutrina te-
atologia do destino
final do homem e do mundo
se vem do grego éskhatos) p.54
Diz o autor que ficou nada menos que quatorze anos escrevendo a mesma. Não é pra menos! Na sua poética, é rico o leque de cultura que permeia toda a extensão. Desde filosofia, sociologia, psicologia, artes (de modo geral, teatro, cinema, tv, fotografia), literatura, dramaturgia, teologia, e história. Detalhe, bem ao estilo ‘uteriniano’.
ex:
“e de repente leio Borges afirmando que, a temporada dos grandes
autores e poetas já se foi
a que se segue o impacto de ver Mário Pedrosa dizendo em “Mundo
Homem Arte Em Crise” que estamos em plena crise da civilização verbal
pelo que me vejo recomeçando um trabalho já superado por si mesmo
e faço uma parada
total!” p.17
A Obra ‘Trigal com Corvos’ é mesmo de peso! Feita com simplicidade, clareza e fácil de ser lida; sem rodeios nem floreios. Quanto aos Corvos creio que o escritor fez uma homenagem ao poeta paraibano Augusto dos Anjos; como todo conterrâneo que se preze é caído de paixão por essa sumidade na literatura brasileira; além de sua intertextualidade com a pintura do Van Gogh. Já os Trigais; aparecem amarelhinhos, bem à época da colheita.
Pois pois os corvos estiveram à ronda:
“Jamais me droguei como Freud
Poe
Basquiat
Jamais briguei como Caravaggio
Nem fui homossexual como ele e Chaikowsky
Leonardo
Auden
Lorca
Miguelângelo
Fernando Pessoa
Warhol
Tenessee Willias
Whitman
Ou Shakespeare
Vai ver que por isso jamais fiz nada que preste.” P. 38
Valem outros:
“...
O suficiente
ainda
para ler Maiakowsky
Brecht
Gide Sartre Camus
Thomas Mann
Além de Faulkner Hemingway Pound Eliot Fitzgerald
Huxley
Hesse Steinbeck Cortázar
e para vê-los
todos
perdendo impacto prestígio e brilho
todos ficando cada vez mais sem...substância
na distância infinita que agora nos separa
como os corpos – no parto – de mãe e filho.” P.87
Mais:
“Daí que procuro sempre a essência
em meus textos
como que acaso e tempo chegara na Vitória de Samotrácia
ensinando-me que
na verdade
toda obra de arte tem pelo menos uma parte melhor que o todo
- como o segundo movimento do concerto número quarto
de Beethoven
no qual o tranquilo piano dialoga com a furiosa orquestra até
dominá-la
- e é só ela que me interessa.” ps. 87/88
Vale a pena conhecer essa paideia paraibana! O arieté W. J. Solha!
( todos em pé) B R A V O! B R A V O!
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