"O Lugar do Escritor"
"O Lugar do Escritor"
Eder Chiodetto labutou com esmero invejável para mostrar ao mundo o mundo tangível/intangível dos escritores. A casta que figura no livro, por sua vez, constitui o sonho dourado de legiões vezes legiões de ilustres desconhecidos, talentosos ou não, que adorariam integrar o círculo descrito por Eder. Os que estão ali, sem tirar nem por - e assim exatamente, chegaram lá.
É bem verdade que para um autor, qualquer um, o "lá" equivale ao estágio da conclusão da obra. Se a mesma vai para a gaveta ou para as prateleiras da livraria, e daí para o gosto do leitor são outros incalculáveis degraus.
A lista de Eder contempla o “lá” equivalente ao topo da montanha, seus integrantes tornaram-se nomes, marcas, qualidade/sucesso, vivem da palavra, estão rodeados de pilhas de papéis, se expressam com maneirismo esguio, inteligente, por fim, tornaram-se pilares, o que eles fazem o dinheiro não compra e o que construíram não se destrói.
Nesse nosso campo minado de famosos com uma tendência oscilante entre o árido e o hilário, deparar-se com essa obra equivale a um mergulho no reino antônimo ao do sofisma.
“O Lugar do Escritor” conta com meia década de pesquisa, onde o jornalista, que assina fotografia e texto, travou contato direto com 36 medalhões da literatura brasileira, esteve em seus recônditos e deslizou pela interface de “Uma obra com ritmo de reportagem, ancorada na percepção e sensibilidade de seu criador”. (Boris Kossoy – autor do prefácio).
O livro de Eder é um tributo dos mais preciosos aos que enriqueceram a linguagem e a língua, a nossa língua, essa coisa etérea que só ganha sua verdadeira forma e força na Ânima de quem empunha a pena longe das canastrices de plantão e dos surfistas do mero acaso pecuniário, sem contar os duvidosos escondidos nos morretes da gramática&ortografia.
Integram o rol Adélia Prado, Haroldo de Campos, Lygia Fagundes Telles e mais 33 “personagens”.
Editado pela Cosac&Naify e com projeto Gráfico de Pinky Wainer, o garimpo apresentado em 192 páginas versa pelo equilíbrio colocando cada talento com seu quinhão muito bem dimensionado ao longo do livro, e com isto estamos tratando de dinamismo.
James Lovelock, biólogo, atesta que a evolução nos ensina que ser verdadeiro em relação ao que somos é algo essencialmente nobre e que, a longo prazo, é útil para todos nós. “Vá atrás da sua bem-aventurança”, disse Joseph Campbell.
Ora, essas equações se aplicam em qualquer campo, da dança à pintura, da encenação ao canto, daí por diante.
Quando se folheia “O Lugar...”, por uma boa fração de segundos, pensa-se por outras vias exatamente nisso - na aventura do artista.
Toda a idéia da escrita e da figura do escritor sofreu uma intensa revolução com o advento da Web e seu conseqüente incremento (Web 2.0) nos últimos 10 anos. Diante desse digamos, portal, a possibilidade de falsificação na arte – qualquer arte, nunca esteve tão galopante. E aqui entra um dado a ser considerado – o livro de Chiodetto foi lançado em outubro de 2003, uma eternidade em termos digitais e, apesar de estarmos tratando de um livro físico, o mundo digital nos envolve cada vez mais - se por um lado o leque se abre, por outro propicia trilhões de gatos por lebres a todo instante.
Entretanto – aqui não. Não com esses nomes, pela simples e talvez um tanto sagrada realidade de que não são apenas nomes, mesmo que o leitor torça o nariz para um ou outro. Em suma, Eder Chiodetto fez um livro sobre o Relativo Intocável, aquele que diz – mesmo mentindo, a escrita não mente jamais. E fez como manda o figurino.
Como esta página tem limitações no quesito imagem, e com a esperança de transmitir algo que fale mais por si do que este temerário testemunho, segue abaixo uma pequena lista de autores e depoimentos.
Adélia Prado – “Acho que o livro é sempre melhor do que eu. Estou sempre no encalço do meu próprio livro. (...). Estou buscando aquilo que o livro consegue antes de mim”.
“Se você tem um dom, a coisa mais agradecida que pode fazer em relação a ele é aceitar, cuidar disso como um operário”.
Moacyr Scliar – “Não faço questão de silêncio. Pode ter barulho, movimento de pessoas, telefone que toca. Atendo e retomo a escrita sem perder a concentração. Consegui superar essa compulsão pelo isolamento que assola a maior parte dos escritores”.
Ferreira Gullar – “Em certas circunstâncias, prefiro escrever à mão. Poesia em geral escrevo à mão. (...). A poesia é intempestiva, é coisa que ninguém controla. Ela me acorda no meio da noite ou leva um ano sem aparecer. (...). Às vezes leio compulsivamente e, de vez em quando, fico dias e dias sem ler, pintando...Porque tem períodos em que estou mais intelectual, e outros, mais sensorial”.
Jose J. Veiga – “Quando estou preparando um livro acordo cedo, tomo café, me arrumo como se fosse sair para a rua e entro no meu escritório, aqui mesmo, ao lado do meu quarto. Esse ritual me ajuda a encarar a escrita como um ofício diário e faz as pessoas respeitarem mais o meu espaço”.
Ariano Suassuna – “Quando me fecho no gabinete, ninguém me aperreia. Consegui impor esse respeito pelo meu trabalho. Outro dia um dos meus netos começou a chorar enquanto eu escrevia. Não havia mais ninguém em casa, então o peguei no colo e fiquei brincando com ele. Foi bom. Percebi que aquela invasão da realidade era mais bonita que a ficção que eu tentava escrever”.
Augusto de Campos – “Livros são almas. Não posso deixar que Gertrude Stein e Ezra Pound se misturem. Ficam em lados opostos na estante. Eles são irreconciliáveis, nunca se entenderam”.
”Sou macinttóshico” – (referência ao trabalho com poemas visuais desenvolvidos num Macintosh).
“A informatização, sobretudo da parte de impressão e de artes gráficas, possibilitou-me ter o domínio completo das minhas poesias e das infopoesias, com animações, inclusive. Antes, tinha que ficar explicando metaforicamente determinadas cores que imaginava”.
Lygia Fagundes Telles – “Me fotografar hoje? Não, hoje não. Me confundi com a agenda. Volte na segunda, por favor. Prometo não envelhecer mais até lá...”.
“Ontem precisei trocar a fita da minha Olivetti e me sujei toda... Preciso esconder as unhas. Moro nesta casa desde 1980. O escritório, no inverno, é num dos quartos, mas com o calor do verão me mudo aqui para a sala. Fico deprimida no frio. Se morasse na Europa seria uma alcoólatra.”
“Invento, mas invento com a secreta esperança de estar inventando certo”.
"O Lugar do Escritor"
Eder Chiodetto labutou com esmero invejável para mostrar ao mundo o mundo tangível/intangível dos escritores. A casta que figura no livro, por sua vez, constitui o sonho dourado de legiões vezes legiões de ilustres desconhecidos, talentosos ou não, que adorariam integrar o círculo descrito por Eder. Os que estão ali, sem tirar nem por - e assim exatamente, chegaram lá.
É bem verdade que para um autor, qualquer um, o "lá" equivale ao estágio da conclusão da obra. Se a mesma vai para a gaveta ou para as prateleiras da livraria, e daí para o gosto do leitor são outros incalculáveis degraus.
A lista de Eder contempla o “lá” equivalente ao topo da montanha, seus integrantes tornaram-se nomes, marcas, qualidade/sucesso, vivem da palavra, estão rodeados de pilhas de papéis, se expressam com maneirismo esguio, inteligente, por fim, tornaram-se pilares, o que eles fazem o dinheiro não compra e o que construíram não se destrói.
Nesse nosso campo minado de famosos com uma tendência oscilante entre o árido e o hilário, deparar-se com essa obra equivale a um mergulho no reino antônimo ao do sofisma.
“O Lugar do Escritor” conta com meia década de pesquisa, onde o jornalista, que assina fotografia e texto, travou contato direto com 36 medalhões da literatura brasileira, esteve em seus recônditos e deslizou pela interface de “Uma obra com ritmo de reportagem, ancorada na percepção e sensibilidade de seu criador”. (Boris Kossoy – autor do prefácio).
O livro de Eder é um tributo dos mais preciosos aos que enriqueceram a linguagem e a língua, a nossa língua, essa coisa etérea que só ganha sua verdadeira forma e força na Ânima de quem empunha a pena longe das canastrices de plantão e dos surfistas do mero acaso pecuniário, sem contar os duvidosos escondidos nos morretes da gramática&ortografia.
Integram o rol Adélia Prado, Haroldo de Campos, Lygia Fagundes Telles e mais 33 “personagens”.
Editado pela Cosac&Naify e com projeto Gráfico de Pinky Wainer, o garimpo apresentado em 192 páginas versa pelo equilíbrio colocando cada talento com seu quinhão muito bem dimensionado ao longo do livro, e com isto estamos tratando de dinamismo.
James Lovelock, biólogo, atesta que a evolução nos ensina que ser verdadeiro em relação ao que somos é algo essencialmente nobre e que, a longo prazo, é útil para todos nós. “Vá atrás da sua bem-aventurança”, disse Joseph Campbell.
Ora, essas equações se aplicam em qualquer campo, da dança à pintura, da encenação ao canto, daí por diante.
Quando se folheia “O Lugar...”, por uma boa fração de segundos, pensa-se por outras vias exatamente nisso - na aventura do artista.
Toda a idéia da escrita e da figura do escritor sofreu uma intensa revolução com o advento da Web e seu conseqüente incremento (Web 2.0) nos últimos 10 anos. Diante desse digamos, portal, a possibilidade de falsificação na arte – qualquer arte, nunca esteve tão galopante. E aqui entra um dado a ser considerado – o livro de Chiodetto foi lançado em outubro de 2003, uma eternidade em termos digitais e, apesar de estarmos tratando de um livro físico, o mundo digital nos envolve cada vez mais - se por um lado o leque se abre, por outro propicia trilhões de gatos por lebres a todo instante.
Entretanto – aqui não. Não com esses nomes, pela simples e talvez um tanto sagrada realidade de que não são apenas nomes, mesmo que o leitor torça o nariz para um ou outro. Em suma, Eder Chiodetto fez um livro sobre o Relativo Intocável, aquele que diz – mesmo mentindo, a escrita não mente jamais. E fez como manda o figurino.
Como esta página tem limitações no quesito imagem, e com a esperança de transmitir algo que fale mais por si do que este temerário testemunho, segue abaixo uma pequena lista de autores e depoimentos.
Adélia Prado – “Acho que o livro é sempre melhor do que eu. Estou sempre no encalço do meu próprio livro. (...). Estou buscando aquilo que o livro consegue antes de mim”.
“Se você tem um dom, a coisa mais agradecida que pode fazer em relação a ele é aceitar, cuidar disso como um operário”.
Moacyr Scliar – “Não faço questão de silêncio. Pode ter barulho, movimento de pessoas, telefone que toca. Atendo e retomo a escrita sem perder a concentração. Consegui superar essa compulsão pelo isolamento que assola a maior parte dos escritores”.
Ferreira Gullar – “Em certas circunstâncias, prefiro escrever à mão. Poesia em geral escrevo à mão. (...). A poesia é intempestiva, é coisa que ninguém controla. Ela me acorda no meio da noite ou leva um ano sem aparecer. (...). Às vezes leio compulsivamente e, de vez em quando, fico dias e dias sem ler, pintando...Porque tem períodos em que estou mais intelectual, e outros, mais sensorial”.
Jose J. Veiga – “Quando estou preparando um livro acordo cedo, tomo café, me arrumo como se fosse sair para a rua e entro no meu escritório, aqui mesmo, ao lado do meu quarto. Esse ritual me ajuda a encarar a escrita como um ofício diário e faz as pessoas respeitarem mais o meu espaço”.
Ariano Suassuna – “Quando me fecho no gabinete, ninguém me aperreia. Consegui impor esse respeito pelo meu trabalho. Outro dia um dos meus netos começou a chorar enquanto eu escrevia. Não havia mais ninguém em casa, então o peguei no colo e fiquei brincando com ele. Foi bom. Percebi que aquela invasão da realidade era mais bonita que a ficção que eu tentava escrever”.
Augusto de Campos – “Livros são almas. Não posso deixar que Gertrude Stein e Ezra Pound se misturem. Ficam em lados opostos na estante. Eles são irreconciliáveis, nunca se entenderam”.
”Sou macinttóshico” – (referência ao trabalho com poemas visuais desenvolvidos num Macintosh).
“A informatização, sobretudo da parte de impressão e de artes gráficas, possibilitou-me ter o domínio completo das minhas poesias e das infopoesias, com animações, inclusive. Antes, tinha que ficar explicando metaforicamente determinadas cores que imaginava”.
Lygia Fagundes Telles – “Me fotografar hoje? Não, hoje não. Me confundi com a agenda. Volte na segunda, por favor. Prometo não envelhecer mais até lá...”.
“Ontem precisei trocar a fita da minha Olivetti e me sujei toda... Preciso esconder as unhas. Moro nesta casa desde 1980. O escritório, no inverno, é num dos quartos, mas com o calor do verão me mudo aqui para a sala. Fico deprimida no frio. Se morasse na Europa seria uma alcoólatra.”
“Invento, mas invento com a secreta esperança de estar inventando certo”.