Sem nome
Suspiro - Ah! noite bela.. que traz em seu âmago uma tristeza insolente, que perpetua um ar lúgubre e frio em minha face, fazendo com que me estremeça..
Caminhando por ruas estreitas e escuras de um bairro qualquer.. que fora a luz do luar obscurecido pelas nuvens.. pouco se enxergava do local.. apenas as casas de estilo barroco, um tanto deterioradas pelo tempo.. Ao fundo, pequenos sons que variavam entre insetos e gatos a cantarolar sua felicidade/tristeza.. enfim, fazia-se coro por todo o bairro.. As vozes das pessoas eram quase imperceptíveis.. Tinha que me esforçar para conseguir distinguir alguma coisa..
Eu permanecia caminhando.. passos firmes e elegantes por esta rua.. Logo a minha frente.. uma pequena praça.. e ao seu centro uma modesta fonte.. mas de beleza extrema.. Um anjo.. ou seria arcanjo? Não importa.. segurando um vaso.. por onde transbordava a água.. lembrava muito a carta Temperança do Tarôt cigano.. Sua expressão era triste.. quase chorosa.. Me lembrava muito os artistas impressionistas.. Mas.. a mesma já estava bem velha.. mas sem que isso lhe fizesse perder todo a beleza.
Sentei-me em um dos poucos bancos que la haviam.. todos eram envoltos por uma fina penumbra.. uma penumbra agradável..
Me vi sozinho nesta praça.. nem sequer os fantasmas ousariam estar naquele local.. soturno demais.. até mesmo para seres espectrais.. Mas o que estava fazendo lá? E ainda mais em altas horas da madrugada? Ah! sou um ser noctívago.. vivo ao brilho do luar.. Sou um monstro que vive do desespero dos demais.. Mas bem.. não vim dizer nada a meu respeito.. ou vim? Todavia, tratarei a respeito disso mais a frente..
Sem notar.. bem atrás de mim havia um pequeno lago.. passivo, imóvel.. apenas refletindo o brilho turvo da lua.. um brilho mágico e encantador.. que faria qualquer ser parar horas para encantar-se com o mesmo..
Ao longe.. senti uma presença avassaladora.. senti calafrios.. Senti que os fantasmas ousaram desfrutar da mesma beleza que eu.. talvez algo mais.. não saberia dizer..
Em meu interior.. um galgar de sentimentos irrefreáveis tomou conta.. Toda a alusão de um amor que jamais vivi veio me frustrar.. Todo o amor que deixei de oferecer veio me causar espanto.. Junto a isso.. quase que automaticamente.. Comecei a cantar Si Volvieras a Mi.. E lágrimas furtivas molharam meu rosto.. elas me deixavam belo.. lágrimas tem este poder..
Meu rosto gélido.. banhado por lágrimas que me faziam lembrar de que por tanto tempo que vivi.. Jamais consegui viver realmente...
Posto-me sentado a beira do lago a soluçar..
Mas por quê??
(continua)