Repórteres



    Se bem me lembro, o primeiro exemplar de jornal impresso que li foi sobre a chegada do homem á lua. Curiosa feito um vira-lata, escutei um dos meus tios lendo a notícia para alguns adultos incrédulos, achando que era o fim do mundo alguém achar que podia ir tão longe. Assim que ele largou o jornal eu li tudo, tudinho sobre a grande novidade e nunca mais olhei a lua do mesmo jeito.
    Muitos anos depois fiquei sabendo que em média 850 jornalistas de 55 países registraram o acontecimento. Era o ano de 1969 e eu tinha seis anos de idade. A menina que morava numa roça que nem energia elétrica tinha, ficou surpresa com tanta novidade e foi dormir cheia das caraminholas na cabeça. Então era aquilo, o mundo? E como era possível se saber tanto sobre ele? Quem eram aquelas pessoas tão especiais que contavam essas coisas todas para todo mundo ler e saber?
    Anos depois, frequentando a biblioteca da cidade onde fui estudar, voltei a ter contato com jornais e revistas, todos eles com datas bem atrasadas, mas isso em nada diminuía minha alegria. Eu gostava na verdade era das notícias, pois era um encantamento saber do mundo lá fora.
    Sempre tive uma admiração declarada pelos jornalistas, um tipo de gente que sempre achei que pensava, escrevia e criava livremente, ainda mais quando lia ou via na TV reportagens de grande repercussão nacional e internacional e foi com muita expectativa que li Repórteres, livro organizado pelo jornalista e querido amigo Audálio Dantas e dedicado ao jornalista Vladimir Herzog.
    Faço questão de ressaltar que Repórteres não é um livro só para jornalistas e estudantes de jornalismo, mas para quem se encanta com a boa escrita, o relato humano, emocionante, comovente até, das vivências, dos bastidores da notícia escritos por nomes brilhantes do jornalismo brasileiro, como Caco Barccellos, Domingos Meirelles, Ricardo Kotscho, Joel Silveira, Marcos Faerman
, Mauro Santayana, José Hamilton Ribeiro, o próprio Audálio e outros mais.
    “Repórteres, meu senhor, são pessoas que perguntam.” Diz Audálio na apresentação explicando que essa frase é quase a definição perfeita sobre o repórter. Diz ele também que a frase é do repórter Acácio Ramos um tipo que “tinha sempre engatilhada a segunda e terceira pergunta, caso a primeira falhasse.” E se é quase há de se pensar que outras qualidades deve ter um jornalista para o bom exercício da profissão. “De um bom repórter, desses que vão além das prescrições dos manuais de redação ou das receitas de pauta diária, exige-se muito mais. Ao contrário daqueles macaquinhos chineses, eles têm de ver, ouvir e contar- de preferência contar bem, em texto de qualidade.” Afirma Audálio, na busca para uma definição mais aproximada do que seja um repórter.
    Querer saber como funciona, pelo olhar do repórter, uma redação, um “front” de notícias, funcionou como estímulo para entender e saber mais dos bastidores, dos sentimentos e emoções que eu já imaginava ler em cada um dos textos.
    Dicas de como ser um bom profissional? Os relatos de cada um deles são verdadeiras aulas de estilo, de sagacidade, de ética na busca da boa informação, na busca incansável da verdade dos fatos. Nós, os leitores, os que mantêm acesa a chama da curiosidade para com a história do nosso país, temos a chance de conhecer um pouco mais dessa história através do olhar curioso, sensível e sério de cada um desses bravos aventureiros da notícia, dos fatos mencionados em cada um dos relatos.
    Li devagar, puxando da memória o que já havia lido sobre cada fato relatado. Memórias de guerra, investigação no mundo do narcotráfico, entrevistas com personalidades, bastidores do poder, cobertura do mundo cão do crime e outros temas são o pano de fundo para que esses homens abordem com rara sensibilidade e talento questões sobre liberdade de imprensa, ética profissional, as agruras e aventuras do ofício de repórter.
    Repórteres é o tipo do livro que certamente vou reler algumas vezes e vou recomendar outras tantas. Vale a pena.
 

O livro

REPÓRTERES, Editora SENAC, 1997. Organizador Audálio Dantas
 
Reunião de textos que trazem uma história dos fatos subjacentes à organização de reportagens que marcaram o jornalismo brasileiro. São dez textos de renomados repórteres que contam suas experiências, revelando aspectos técnicos para uma boa reportagem e emoção que a procura da objetividade acaba por sufocar. São textos que exemplificam as principais tendências e estilos de alguns dos melhores repórteres brasileiros surgidos na segunda metade deste século, trazendo características que marcaram a atuação desses profissionais e de suas reportagens. Audálio Dantas, Caco Barcellos, Carlos Wagner, Domingos Meirelles, Joel Silveira, José Hamilton Ribeiro, Lúcio Flávio Pinto, Luiz Fernando Mercadante, Marcos Faerman, Mauro Santayana e Ricardo Kotscho.
(in: http://books.google.com.br/books/about/Repórteres.)
 
O organizador:

Audálio Ferreira Dantas
Audálio Dantas é alagoano de Tanqued'Arca e um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Atuou em algumas das principais publicações do País, como a Folha de S.Paulo, as revistas O Cruzeiro (redator e chefe de redação), Quatro Rodas (editor de turismo e redator-chefe), Manchete (chefe de reportagem) e Realidade (redator e editor). Também escritor, tem vários livros publicados, entre os quais O Circo do Desespero (Editora, Símbolo, 1976), Repórteres (Editora Senac, 1997), O Chão de Graciliano (Editora Tempo D’Imagem, 2007), além da série infanto-juvenil A infância (Graciliano Ramos - prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil –, Maurício de Sousa, Ruth Rocha e Ziraldo). Lançou em 2009 O menino Lula– A história do pequeno retirante que chegou à Presidência da República (Ediouro). Recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de 2007, pelo livro O Chão de Graciliano.
Teve destacada atuação no sindicalismo e na política, como presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Federação Nacional dos Jornalistas. No sindicato, esteve à frente dos protestos contra ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, ponto de partida para reconquista das liberdades democráticas no País.Vladimir é também tema do seu próximo livro
Eleito deputado federal em 1978, foi considerado em várias pesquisas como um dos dez mais atuantes parlamentares brasileiros. Recebeu na ONU, em 1982 um prêmio por sua atuação em defesa dos Direitos Humanos.
Entre outros, exerceu os cargos de presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e do Conselho Curador da Fundação Casper Libero, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e conselheiro da UBE – União Brasileira de Escritores. Dirige a revista "Negócios da Comunicação", e a empresa Audálio Dantas Comunicação e Projetos Culturais. Autor dos projetos e da curadoria das exposições "100 Anos de Cordel" (Sesc Pompéia, 2001), "O Chão de Graciliano" (São Paulo, Fortaleza, Recife, Maceió e Araraquara) e "Na Terra de Macunaíma", Araraquara, Santos, Santo André). Organizou em 2007 o 1º Salão Nacional do Jornalista Escritor (São Paulo, Memorial da América Latina).
Adaptado de http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=129