Nos passos de Hannah Arendt
Laure Adler
Editora Record


“ Nos passos de Hannah Arendt”, biografia escrita pela historiadora francesa Laure Adler, descobre-se que Arendt era apaixonada por poesia e que, em seus momentos de fúria e tormentos, se expressava escrevendo poemas. A biografia de Adler não só é muito bem escrita como também meticulosamente precisa no delineamento da personalidade de Hannah Arendt.
     Os anos finais da década de 1920 foram, em particular, “tempos produtivos” para Hannah Arendt, poeticamente falando. Nesse período, a jovem estudante atravessava um momento conturbado de sua vida, marcado pelo fim do romance com seu ex-professor e amante, Martin Heidegger, e pela elaboração de sua tese sobre o “conceito de amor em Santo Agostinho”, bastante criticada pelo próprio orientador, Karl Jaspers, que chegou a afirmar que a jovem estudante fizera Agostinho dizer coisas que nunca disse.
     Algum tempo após Heidegger ter-lhe aconselhado a deixar a Cidade Universitária, em Marburg, como quem quisesse se livrar de um peso após a ruptura no romance, Hannah Arendt escreve o poema “Canção da Noite” (p. 72):

E se profundamente nos cansamos,
No colo noturno da noite
Esperamos por um suave consolo.

Esperando, podemos perdoar
Toda dor, toda aflição.
Nossos lábios começam a se fechar –
Sem som o dia inicia sua ascensão.