O Nome da Rosa
A expressão "O nome da Rosa" foi usada na Idade Média significando o infinito poder das palavras.
No livro trata-se da antiga biblioteca de um convento beneditino, na qual estavam guardados, em grande número, códigos preciosos: parte importante da sabedoria grega e latina que os monges conservaram através dos séculos.
Muitas questões filosóficas, e temas históricos e teológicos, estão presentes no livro "O nome da Rosa": a baixa idade média (século XI ao XV), a desintegração do feudalismo, as influencias do movimento renascentista, a razão versus o dogma, em meio ao pensamento de Santo Agostinho e Aristóteles.
Quando tudo isso tem um peso especial na atmosfera daquela época, para influir de alguma maneira na história contada no livro.
O texto abaixo resume o artigo de Kledson Bruno Camargo, onde ainda cito outros autores. Esmiuçados por ele cada um destes aspectos e implicações. Sendo que mesmo para quem leu o livro, ou viu o filme, surgem informações novas que ajudam a entender melhor uma época, seus valores, influências e questões culturais que estavam em jogo.
Fonte: www.coladaweb.com/ literatura/analise-de-obras/o-nome-da-rosa)
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Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges tem acesso às publicações sacras e profanas.
A chegada de um monge franciscano incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.
Introdução a Baixa Idade Média (século XI ao XV) que é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental.
Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera econômica (crescimento do comércio monetário), social (projeção da burguesia e sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas. Para culminar com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.
Culturalmente destacava-se também o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI.
O renascimento, enquanto movimento cultural, resgata da antigüidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entravam em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja. Embora o monge franciscano represente o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.
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O Nome da Rosa pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação.
Guilherme de Bascerville, detive e frade fransciscano, é também o filósofo que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço.
Trata-se do ano 1327, ou seja, a Alta Idade Média. Lá se retoma o pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental que dará origem à filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e o neoplatonismo do cristianismo.
As teses de Agostinho nos ajudarão a entendero que se passa na biblioteca secreta do mosteiro, em que se situa o filme.
Neste tratado, Santo Agostinho estabelece precisamente que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã, desde que seja compatível com a fé (Livro II, B, Cap. 41).
Isto vai constituir o critério para a relação entre o cristianismo (teologia e doutrina cristã) e a filosofia e a ciência dos antigos. Por isso é que a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval.
O acesso à biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que pode ameaçar a doutrina cristã. Como diz ao final Jorge de Burgos, o velho bibliotecário, acerca do texto de Aristóteles: a comédia pode fazer com que as pessoas percam o temor a Deus e, portanto, façam desmoronar todo esse mundo.
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Entre os séculos XII e XIII tem-se o surgimento da escolástica, que constitui o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa.
A escolástica significa literalmente "o saber da escola", ou seja: um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época. A influência desse saber corresponde ao pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (mulçumanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim.
Essas obras continham saberes filosóficos e científicos da Antigüidade que despertariam imediatamente interesses pelas inovações científicas decorrentes.
A consolidação política e econômica do mundo europeu fazia com que houvesse uma maior necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico: na arquitetura e construção civil, com o crescimento das cidades e fortificações; nas técnicas empregadas nas manufaturas e atividades artesanais, que começam a se desenvolver; e na medicina e ciências correlatas.
O saber técnico-científico, do mundo europeu nesta época era então extremamente restrito. Quando a contribuição dos árabes tornou-se fundamental para este desenvolvimento: pelos conhecimentos de que dispunham em matemática, ciências (física, química, astronomia, medicina) e filosofia. Assim o pensamento agora (Aristotélico) será marcado pelo empirismo e materialismo.
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(O enredo do Nome da Rosa)
O enredo do Nome da Rosa desenvolve-se na ultima semana de 1327, num monastério da Itália medieval.
A morte de sete monges, em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita - um deles, num barril de sangue de porco - é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação. Os crimes são atribuídos a um suposto monge que na juventude teria presenciado os acontecimentos.
Trata-se de uma crônica da vida religiosa no século XIV, e relato surpreendente de movimentos heréticos. Para muitos críticos, o nome da rosa é uma parábola sobre a Itália contemporânea. Para outros, é um exercício monumental sobre a mistificação.
Na biblioteca do Mosteiro durante a Idade Média umas das práticas mais comuns era apagar obras antigas escritas em pergaminhos, e sobre elas escreve ou copiar novos textos. Eram os chamados palimpsestos: livretes em que textos científicos e filosóficos da Antigüidade Clássica eram raspados das páginas e substituídos por orações e descrição de rituais litúrgicos.
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O nome da rosaum livro escrito numa linguagem da época, cheio de citações teológicas, muitas delas referidas em latim. É também uma crítica ao poder, e esvaziamento dos valores pela demagogia - violências sexuais, mais os conflitos no seio dos movimentos heréticos, e mais a luta contra a mistificação e o poder. Numa parábola sangrenta e patética da história da humanidade
O pensamento dominante, que queria continuar dominante, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo os escolhidos.
Não à toa em o "O nome da Rosa" a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar no final era morto. Por isso só alguns tinham acesso.
A informação restrita a alguns poucos representava dominação e poder, á custa da ignorância de todos os outros.
A idade média assistiu, em sua agonia um grande debate Filosófico Religioso. Perdido o equilíbrio do tomismo, o homem medieval caiu em dois extremos opostos:
De um lado os humanistas, que cultivaram o antropocentismo e julgavam que graças ás ciências, e a técnica, o homem então seria capaz de vencer todas as misérias do mundo: até criar uma era de grande prosperidade material e de completa felicidade natural.
De outro lado haviam os místicos com visão extremamente pessimista da realidade.
Para eles o mundo era intrinsecamente mau e irredimível por ser obra de um DEUS perverso, distinto da divindade. Acreditavam que a razão humana era má e só seria desejável perder-se no nada divino.
Assim, no mosteiro, sete monges morrem estranhamente. Tema abordado com muita a violência e mesmo violência sexual, na qual mulheres se vendem aos monges em troca de comida e muitas vezes depois são mortas.
Um história ambientada em torno dos movimentos ecléticos do século XIV, em meio a luta contra a mistificação, o poder, o esvaziamento de valores pela demagogia. Tudo isso mostrados em um cenário sangrento sobre a política da historia da humanidade.