Ulisses - James Joyce

Ulisses é um nome que inspira desconfiança, pois é um nome megalomaníaco (todo homem chamado Ulisses parece ser megalo/maníaco. Certamente é reflexo da errância e das façanhas do grego que chegou até nós desde aquele porre homérico chamado Odisséia. Um livro apesar da linguagem não fluente).

Talvez seja pela vogal “u” sozinha na pole-position. Também porque é um nome breve e vocálico: u, i, sis.

Jaimes Joyce urbaniza, exorciza, desarma Ulisses, palavra e personagem.

Primeiro chamou-lhe por um nome comum, e sem nenhum som especial: Leopoldo. Segundo, revelou que nos bastidores e enquanto aguardava seu regresso, sua mulher alojou delicadamente alguns dos seus pretendentes em sua casa. Terceiro, descreveu-o na batalha, mas não por Tróia ou por Helena. A guerra travada pelo Ulisses de Joyce era por vender alguns anúncios para um jornal que talvez não era o principal jornal da cidade e conservar ao seu lado a sua estranha esposa. O livro de Joyce é uma obra bem sucedida de renovar este mito que inspirou o progresso da civilização ocidental ao destacar o valor da técnica, da negociação, da linguagem, da mulher e da pátria. Joyce nos apresentou um Ulisses urbano e civil, empenhado em assuntos familiares, profissionais e sociais; fazendo um paralelo com o épico Ulisses de Homero. Suas questões e suas metas não são mais as da destruição e fuga, mas sim da construção e da adaptação. E ciente de que esta construção jamais seria terminada, apresenta-nos o humor e a razão como reação ao precário existir.

Joyce, na figura de Bloom, nos apresenta o Ulisses que lembra com carinho a filha e com paixão a mulher. O Ulisses que trabalha com humor e que reserva um tempão para bater papo com os amigos. Para Bloom, o Ulisses de Joyce, felizmente tempo não é apenas dinheiro e poder. Joyce constrói neste livro um personagem despido da vaidade e grandeza dos grandes mitos e das narrações épicas.

O escritor irlandês nos propôs um Ulisses que nunca partiu de sua cidade, que nunca quis partir angustiadamente, mas ainda assim vive situações novas e que parece um estrangeiro. Para o Ulisses de Joyce a cidade é o mundo, suficiente para viver e deixar viverem os outros. O Ulisses de Joyce vivia com os outros, embora nunca tenha se confundido com ninguém. Não era um ser na multidão apenas. Ele foi o sujeito urbano e democrata que muitos não conseguem ser. Aqueles a quem os ditadores detestam!

Joyce trouxe o Ulisses de Homero de volta a sua vida comum, mas não menos interessante. Levou-o a comparecer ao enterro de um amigo, a suportar uma suspeita de traição e a não resistir a trair também.

Enfim, trouxe o cidadão comum e contemporâneo para os centro das preocupações da literatura.

Dênis Duque
Enviado por Dênis Duque em 08/04/2012
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