Rio, 28/03/12
       

        Dona Januária ficou tão apreensiva quanto atordoada. E não conseguia satisfazer as necessidades do marido. Naquela terça-feira se aprontou e foi no terreiro de mãe Isaura.. Mãe Isaura amassava as ervas entre as mãos e o sumo daquelas plantas de aroma agradável eram jogados da bacia para o interior de um jarro de barro enorme:
     _ Bom dia, mãe Isaura. Sua abença.
     _ Meu pai oxalá que a abençoe filha. Que bons ventos a trouxe até aqui.
     _ Não foram os bons ventos, mãe. _ Olhava paras o enorme e bonito gongá que os filhos de santo estavam arrumando: _ O meu esposo insiste que eu lhe dê um filho homem. Como se isso dependesse de min.
     _ Você não consegue filha é isso, não é. Tem dificuldade de se relacionar com o seu esposo como se deve.
     Falou baixinho para ninguém ouvir. Pegou a bacia e a deixou próximo ao vaso contendo uma vela acesa e um copo com água. Levantou e a tomou pelo braço direcionando-a até o enorme jardim que se estendia pelos arredores do terreiro:
     Sim, era esse o problema. E o Sr. Sebastião andava com os nervos fora do sério. Não lhe dizia uma palavra sobre o assunto, mas demonstrava com atitudes exasperada e descontente que fez mal negócio se casando com ela. 
     _ O que eu faço agora, mãe Isaura? Percebe o tamanho de minha aflição. Não tive mãe e meu pai nunca falou nada dessas coisas.para min. Estudava no colégio de freiras e quando dei por min...
    _ Você não veio rica de berço filha? _ Queria saber a mãe de santo:
    _ Não. Meu pai era garimpeiro. E consegui estudar no colégio de freiras porque ele achou um diamante ás margens do rio e o cedeu a igreja de São josé em saber o valor que a pedra tinha.
    _ Mas, quem trabalha no garimpo conhece essas coisas.
    _ Acontece que meu pai conhecia ouro. E acreditava que era isso que ia tirar do rio e não o diamante. Segundo dizem, ele não conhecia a pedra realmente. Talvez nunca tenha visto uma. 
    _ Quanto a você. _ Mudou de assunto: _ Posso lhe ajudar se for de sua vontade.
    _ Como?
    _Aquelas ervas que você viu eu macerar. Elas têm um poder de cura muito grande. Espere aqui e a trarei para que voce se banhe nás águas desse riacho e possa se tornar atraente e sedutora para seu marido, assim como oxum se tornou encantadora para oxalá.
   _ Pode me contar como foi isso?
   Mostrou interesse agradando mãe Isaura que sentia pena daquela senhora. Embora fosse muito rica não tinha experiência de vida e se sentia solitária. Mãe Isaura nem sequer desconfiava como o destino poderia atravessar fronteiras e fazer coisas quais não somos capazes de impedir. E de repente, o começo de uma grande amizade podia significar a destruição de ambas as pessoas.
    
As mulheres que desejarem ter filhos dirigem-se a Oxum, pois ela controla a fecundidade, graças aos laços mantidos com Ìyámi-Ajé ("Minha Mãe Feiticeira)". Sobre este assunto uma lenda conta que:
"Quando todos os orixás chegaram a terra, organizaram reuniões onde as mulheres não eram admitidas. Oxum ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder participar de todas as deliberações. Para se vingar, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis. Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olodumaré e explicaram-lhe que as coisas iam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam nas assembléias. Olodumaré perguntou se Oxum participava das reuniões e os orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhe então que, sem a presença de Oxum e de seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo. De volta a terra, os orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que acabou por aceitar depois de muito lhe rogarem. Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizesresultados".
    Enquanto Mãe Isaura lhe contava a história do orixá Oxum Dona Januária tomava o banho com as ervas preparadas com amor e carinho. Ambas estavam desapercebidas da presença de Dona Salustiana que as observava por de trás de certa árvore frondosa. Dona Salustiana ficou perplexa com o que via e não podia ficar quieta. Na hora que Mãe Isaura oferecia o sumo das ervas ao tempo, para que este em sua sabedoria pudesse resolver a situação daquela triste mulher:
    _ Então é isso que você faz todas as vezes que sai as escondidas?
    Ambas as mulheres se voltaram para ela deveras surpresa.
Dyanne
Enviado por Dyanne em 28/03/2012
Reeditado em 28/03/2012
Código do texto: T3580492