A Família Moskat

Terminada a leitura de “A Família Moskat” de Isaac Bashevis Singer a sensação é de impressionante espanto, com todos os personagens diante da morte em Varsóvia bombardeada pela aviação nazista, no início da Segunda Guerra Mundial.

A vida dos judeus, e também suas alegrias, está todo estampado nas páginas de “A Família Moskat”. Como tema principal o livro trás a vida na comunidade judaica de Varsóvia, na Polônia, na primeira metade do século XX. O autor descreve também no campo familiar um conflito de gerações muito bem construído. Nele os jovens tentam se destacar de todo o sistema social e religioso em que vivem, tentam fazer suas escolhas e tomar suas decisões. Isso ocorre com o passar do tempo e principalmente após a morte do patriarca Meshulam Moskat.

Ficamos perplexos indagando sem respostas como seres humanos foram capazes de tamanha maldade contra seres humanos, no extermínio em massa de judeus na Europa nos anos quarenta do século XX.

Qual seria a origem de tanta discriminação, tanto ódio contra um povo?

Não seria tudo originário da rivalidade e hostilidade que os cristãos experimentaram contra os judeus?

Não seria tudo inspirado em escusos interesses econômicos e inveja?

Diante de tamanha iniqüidade as perguntas chegam a perder o sentido.

Está claro que toda esta iniqüidade, injustiça contra os judeus culminou com a monstruosidade praticada pelo nazismo, por seres humanos embriagados pela paixão do ódio, página de vergonha que a humanidade jamais apagará. Ao final da Segunda Guerra Mundial estima-se em seis milhões o número de pessoas que foram exterminadas.

O escritor Isaac Singer foi hábil ao descrever todo sentimento dos personagens, toda a atividade dos judeus, mundo rico de tradições e rituais, a inteligência dos jovens e seu espírito de renovação. Foi hábil em marcar o valor dos judeus dissociando este valor do destino trágico que lhes ocorreu. Foi hábil também em não idealizar, santificar o comportamento dos judeus, mas sim descrevendo todos os seus atos e crenças sem a preocupação de julgá-los.

Este livro muito bom é uma preciosidade a ser guardada para a memória da humanidade.

Coincidentemente no dia nove de março último, a TV Escola exibiu um documentário sobre o extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra. O documentário explica que os líderes nazistas contaram com sentimento preconceituoso arraigado em setores da população para iniciar assim a matança dos judeus em cada país europeu. Os nazistas estimularam nacionalistas a apontarem os judeus e executá-los, propagaram a idéia de que os judeus eram bolcheviques comunistas que trabalhavam pela Revolução Russa recém-iniciada. Propagaram a fantasia delirante de que os judeus tramavam uma conspiração para dominar o mundo. Compreendemos assim que os nazistas não praticaram sozinhos estes crimes, mas se aproveitaram de todo o antissemitismo vergonhoso que vibrava na Europa a anos e anos, desde a idade média.

Já em 1923 Hitler afirmava que exterminaria até o último judeu e cumpriu parcialmente esta promessa sem ser contido e com colaboração de pessoas das mais diferentes nacionalidades, não só da Europa como do mundo inteiro. É, por exemplo, sabido que o governo brasileiro na época se recusou a receber judeus e que o ditador Getúlio Vargas e seus alguns de seus colaboradores manifestavam simpatias pelo nazismo.

Os nazistas na verdade não exterminaram comunistas disfarçados ou capitalistas donos do dinheiro, mas sim homens, mulheres, idosos e crianças. Pessoas que tinham corpos que sustentavam suas vidas. Vidas que uma ideologia, crenças absurdas destruíram. Este fato precisa ser lembrado diariamente, explicado aos jovens para que não cometamos o mesmo erro as mesmas atitudes diariamente. É preciso educar crianças e jovens para que vivam em convivência e que as diferenças entre eles não os tornam superiores ou inferiores uns aos outros.

Preconceitos e perseguições, qualquer forma de discriminação a negros, mulheres, homossexuais, estrangeiros etc devem ser rechaçadas e se possível evitadas pela educação nos lares e nas escolas.

O livro “A Família Moskat” e o documentário da TV Escola nos mostram a trajetória de um povo que poderia ser qualquer povo e o absurdo dos comportamentos preconceituosos e destrutivos de outro povo, que também poderia ser qualquer outro povo.

Dênis Duque
Enviado por Dênis Duque em 20/03/2012
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