Escrito em Porto Alegre, em 1986, com publicação da editora Globo, o livro de Poemas do escritor gaúcho retrata sua vida, seu modo de pensar, já na reta final de sua vida (Quintana nasceu no Alegrete, em 1906 e faleceu na capital do estado em 1994), em uma descrição do cotidiano como nunca abriu mão, como nunca neglicenciou ou alterou no estilo. Como citava o próprio Quintana, jamais escreveu uma linha que não fosse uma confissão. 
O enredo é múltiplo e versátil, fala do poeta, do velho poeta e suas impressões, do clima, das delícias mundanas, das pequenas ruas por onde passava, até as poças de água em final de outono formadas em Porto Alegre, iluminadas pelo letreiro de néon (alusão que gostava muito), enfim, tudo era motivo para poetar, já que Quintana suspirava, dormia e sonhava com poesia, era a única coisa que sabia fazer, citou certa vez em entrevista. Nunca demonstrou sua instisfação em não ter entrado para a Academia Brasileira de Letras (ABL), mesmo após três tentativas, em nenhum de seus livros ou traduções de grandes escritores europeus. A prova é este livro, alegre, despojado, muitas vezes descrente e solitário, todavia, como descrevem os poemas que seguem (parte integrante):

QUEM SOMOS?

Este estranho que me olha no espelho
Olha-me de um jeito
De quem procura recordar quem sou...

A RECORDAÇÃO

A recordação é uma cadeira de balanço
embalando sozinha...


O amor é descrito em vários momentos, mesmo não se tendo notícias de casamentos ou amores concretos em sua vida:

LUAR

O luar é a luz do sol que está sonhando...

CORAÇÃO

Coração que bate-bate,
Antes deixes de bater!
Só num relógio é que as horas
Vão passando sem sofrer...


A morte tem sua etapa derradeira no livro, onde o autor retrata um alívio, um sentimento profundo de vitória ao alcançar o caminho dos céus, ao poder descansar finalmente, à longa viagem que irá percorrer para tanto. Afirma que só se deve morrer de puro amor...
Descreve o deleite da leitura, o prazer. Um dia de chuva para ler, creio que um dos maiores prazeres de Quintana, o que retrata um homem livre, dotado de sentimentos naturais, adepto de passeios ao ar livre, do prazer de observar a sociedade. As vezes se depara indiferente a vida e retorna a seus poemas, retratando atitudes reparáveis, em sua concepção, ou que possam conduzir a bons versos, a uma racionalidade febril, abarcada no ímpeto de poeta. Afirma que o verso é um doido cantando sozinho... o que ele mesmo inventa (citação poema O Verso, parte integrante). Encerra com A Imagem Perdida (último poema) onde busca incessantemente a sua imagem distorcida pelo tempo.
Ficaria por horas descrevendo a obra deste mestre dos versos, que traduziu toda a sua vida nessa expressão artística, mas o mesmo fala por sí e dispensa maiores comentários. Esta obra ora relatada tem os originais de todos os poemas em manuscritos digitalizados, donde de percebe as linhas, a precisão das letras e a desenvoltura do poeta, além da alegria de parecer compartilhar cada minuto dessa escrita como se fosse agora. É, sem dúvida, uma verdadeira emoção.

Mensagem final
Os livros de Quintana era comemorativos da vida...
"Tudo é sempre outra coisa...segredo da poesia".

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imagem: netogolias.zip.net (base google)