AINDA BEM! O MUNDO SÓ ACABARÁ EM 2019
Nos últimos anos, tem sido grande a discussão sobre o fim do mundo, baseada, sobretudo, nas previsões da civilização Maia. De acordo com os registros deixados por aquele povo indígena, com avançados conhecimentos de matemática e astronomia, o fim está previsto exatamente para o dia 21 de dezembro de 2012.
Os Maias tinham dois calendários, complexos e cheios de detalhes. Um deles, dividido em ciclos que se renovam a cada 5.124,4 anos. Eles acreditavam que a cada fim de ciclo haveria destruição. O atual começou em 13 de agosto do ano de 3.114 a.C e será concluído exatamente dentro de pouco mais de dez meses, em 21 de dezembro de 2012.
Estes relatos pré-históricos serviram de mote para a publicação de inúmeros livros e o lançamento de alguns filmes sobre o assunto. O direcionamento, os pontos de vista e os comentários dos autores são os mais diversos, um verdadeiro exercício ficcional. De verdade, mesmo, só especulações, conjecturas e o sucesso de vendas. Mas se as previsões Maia se confirmarem, será péssimo (também) para os autores das obras, que não terão tempo de gastar todo o dinheiro que arrecadaram.
Estardalhaços e especulações à parte, é bom ressaltar que os Maias, segundo os especialistas no estudo dos escritos deixados por aquela civilização pré-colombiana, não previram o “fim do mundo” no seu sentido literal. Nos documentos eles relatam que, ao término de uma era e o começo de outra, ocorrerá o retorno do deus Bolon Yokte, divindade vinculada à criação e à guerra. No livro de Chalam Balam está previsto que ao final deste ciclo a Divindade Suprema retornará à Terra para anunciar uma nova era. Será o dia do juízo final?
Aliás, livros conhecidos dos cristãos também relatam previsões semelhantes, de guerras, fim dos tempos e volta do Messias. A Bíblia, no Evangelho de Mateus (24: 4-14) fala sobre o princípio das dores: "Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. E ouvireis de guerras e rumores de guerras; não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não será o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes, e pestes, e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores".
Mais à frente diz que “...logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (Mateus 24: 29-30).
Na obra espírita “A Gênese” também há registro da “chegada dos tempos”: “Quando se vos diz que a humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra deve elevar-se na hierarquia dos mundos, não vejais nada de místico nessas palavras, mas, ao contrário, a execução de uma das grandes leis fatais do universo, contra as quais toda a malquerença humana se abate” (Capítulo XVIII, item 8).
MAS NÃO SERÁ EM 2012
As especulações sobre as supostas ”profecias do fim” em 21 de dezembro de 2012 foram rejeitadas e receberam uma nova interpretação – ou uma nova versão do médium brasileiro Francisco Cândido Xavier.
No livro “Não será em 2012”, de Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto, está o relato do médium aos autores, apontando que a data-limite (ou o “ano da grande abominação”) será, não agora, mas em julho de 2019.
O livro foi lançado no ano passado (2011), pela Fé Editora. Tem sete capítulos, distribuídos em apenas 79 páginas. É, na verdade, a compilação e reprodução de artigos e entrevistas publicadas no periódico Folha Espírita. O objetivo de Marlene e Geraldo é apresentar as revelações de Chico Xavier sobre o fim dos tempos e o futuro da humanidade, ouvidas por eles em momentos distintos. Acredito que a proximidade da data-limite prevista pelos Maias deixou os autores ansiosos, levando-os a apressar-se na divulgação da versão do médium, deixando de lado, até, uma revisão gramatical mais atenta do trabalho.
Os autores são espíritas. Marlene Nobre preside a Associação Médico-Espírita do Brasil. Trabalhou diretamente com Chico Xavier durante quatro anos (1958-1962), mas sempre manteve com ele um relacionamento estreito, chegando a entrevistá-lo, para matérias e artigos publicados na Folha Espírita, durante 23 anos. No livro ela reedita uma entrevista de 1992, quando o médium revelou a importância que terá o Brasil n(ess)a Nova Era.
Geraldo Lemos Neto fundou a Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo (MG) e foi editor de vários livros do médium, pela Vinha de Luz Editora. Segundo o próprio, conheceu Chico na juventude, quando passou a hospedar-se com regularidade na sua casa, em Uberaba (MG). Dele ouviu vários relatos, mas o que mais o impressionou ocorreu em 1986 e tratava justamente das mudanças que estão por vir, em 2019.
“Não será em 2012” fala um pouco do processo de transição da Terra, que terá culminância em 2019. Traz informações importantes e interessantes. Mas, para os não espíritas, a leitura pode ser um tanto cansativa, enfadonha, por conta do caráter, digamos, doutrinário com que Chico e o seu mentor Emmanuel relatam os fatos.
Entre outras, fala-se da luta do bem contra o mal; das profecias de Jesus, da necessidade dos homens de reorientar a maneira de pensar e viver e das responsabilidades individuais para a ascensão espiritual da humanidade, a partir da busca e manutenção da paz. Alerta que a situação será mais ou menos dolorosa, com mais ou menos sofrimentos, dependendo das escolhas de comportamento que fizermos – de hoje até lá.
O livro começa com “Os Maias e o ano de 2012”, relatando um pouco das previsões daquele povo (Capítulo 1). O Capítulo 2 nos fala da “Renovação Moral: a essência na nossa evolução”, baseada numa entrevista dada pelo espírito Emmanuel na década de 1950, onde dá ênfase às lições de Jesus e, em certo trecho, pede discernimento ao homem e afirma que a renovação moral é essencial à evolução. O teor do Capítulo 3 é “Bíblia tem explicações sobre momento de transição em que vivemos”, aberto com uma citação de Emmanuel, do livro Caminho da Luz. O Capítulo 4 traz “As profecias do Cristo” contidas em trechos dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
As “Revelações de Chico Xavier mostram que o futuro da Terra está nas mãos do homem” estão no Capítulo 5. No seu relato, diz que o destino da humanidade dependerá do caminho que escolhermos para trilhar: o da sabedoria e do amor ou o da ignorância e do ódio. No Capítulo 6 estão “Importantes testemunhos sobre o papel do Brasil na Nova Era”, a partir da visão dos espíritos sobre o país e a sua “missão espiritual”. Finalmente, o Capítulo 7 trata das “Revelações de Chico Xavier sobre o papel do Brasil na transição”. E aqui, um relato nada animador para nós, brasileiros: a divisão do país e cessão de terras aos estrangeiros.
O QUE ESTÁ POR VIR
Os capítulos 5 e 7 são, na minha opinião, os mais interessantes. No primeiro, a confidência do médium a Geraldo Lemos, em 1986, é importantíssima. Relata que em 20 de junho de 1969, quando o homem chegou à Lua, ocorreu uma reunião de entes superiores para definir o destino da Terra:
“o Governador Espiritual da Terra, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, ouvindo o apelo de outros seres angelicais de nosso Sistema Solar, convocara uma reunião destinada a deliberar sobre o futuro de nosso planeta; (...) depois de muito diálogo entre eles foram dadas diversas sugestões e, ao final do celeste conclave, a bondade de Jesus decidiu conceder uma última chance à comunidade terráquea; (...) Nosso Senhor deliberou conceder uma moratória de 50 anos à sociedade terrena, a iniciar-se em 20 de julho de 1969, e, portanto, a findar-se em julho de 2019” (p. 50).
Chico Xavier prevê, até lá, que a humanidade, dependendo da decisão que tomar, poderá sofrer com uma guerra nuclear. Tomando uma outra decisão experimentará avanços, terá total acesso à informação, haverá soluções para problemas de ordem social, como a fome e a pobreza; e a descoberta de cura para doenças do corpo físico através da manipulação genética. Irmãos de planetas mais evoluídos também terão permissão para se apresentar a nós e oferecer tecnologias novas.
Com relação ao Brasil o médium faz previsões nada animadoras e afirma que o país sofrerá com os efeitos das catástrofes que estão por vir e deixará de ter a atual extensão. A maior parte do território será dividido entre outras nações:
“Nosso Brasil, como o conhecemos hoje, será então desfigurado e dividido em quatro nações distintas. Somente uma quarta parte de nosso território permanecerá conosco (...) Os norte-americanos, canadenses e mexicanos ocuparão os Estados da região Norte do país, em sintonia com a Colômbia e a Venezuela. Os europeus virão ocupar os Estados da região Sul, unindo-os ao Uruguai, à Argentina e ao Chile. Os asiáticos, notadamente chineses, japoneses e coreanos virão ocupar o nosso Centro-Oeste, em conexão com o Paraguai a Bolívia e o Peru. Por fim, os Estados do Nordeste serão ocupados pelos russos e povos eslavos” (p. 54-55).
No Capítulo 7, Chico Xavier diz que o Brasil vai ficar limitado apenas a alguns Estados da região Sudeste, Centro-Oeste e Sul. O país será composto apenas de Minas Gerais, São Paulo, Goiás/Distrito Federal e um pedaço dos Estados do Rio de Janeiro e do Paraná (p. 74).
CONCLUSÃO
A obra dando publicidade à revelação feita por Chico Xavier e contestando a data da previsão Maia é interessante. Vem somar às discussões atuais sobre o tema. Acreditar em uma delas, ou desacreditar das duas, caberá a cada leitor.
Sem querer desmerecer ou colocar em dúvida a veracidade das informações contidas na obra, a mesma nos leva a pelo menos quatro questionamentos:
1) Por que o próprio Chico Xavier não fez a divulgação do que soube dos espíritos?
2) Qual ou quais motivos o levaram a manter essas informações, obtidas em 1969, em segredo?
3) Por que Geraldo Lemos, ao ouvir o relato do médium não o convenceu a divulga-lo?
4) Por que o autor somente agora, 25 anos depois de escutar tal relato, veio divulga-lo? Havia motivo para guardar o segredo por tanto tempo?
No início deste trabalho afirmamos que, talvez, a pressa (tardia) na divulgação da versão de Chico Xavier sobre o “fim dos tempos” levou os autores a deixar de fazer a revisão do texto. Além da pontuação também encontramos alguns equívocos de datas, como os da Profecia Maia (Citada como 22 de dezembro, quando o correto é 21 de dezembro) e da chegada do homem à Lua (20 de julho de 1969 e não 20 de junho, como foi citado). Mas de forma nenhuma esses erros prejudicam o trabalho.
Vale a pena a leitura!