Senhora - José de Alencar

Aurélia Camargo era uma moça pobre, já tinha perdido o irmão e o pai, sua mãe temendo morrer e abandonar a filha desamparada insistia para que ela fosse ficar na janela pra ver se arrumava um casamento. Realizando tal desejo, conseguiu muitos admiradores e um grande e único amor, Fernando Rodrigues Seixas.

Este tinha apenas a mãe e duas irmãs e levavam uma vida pobre, viviam do aluguel de dois ecravos, da costura e da pequena ajuda que Fenando dava com seu emprego público. Frente ao amor de Aurélia lhe pediu a mão em casamento, mas logo desanimara do feito, pois sabia que casando com ela teria uma vida pobre e perderia sua liberdade deixando assim de frequentar a sociedade.

Assim o romance esfriou até que o noivado foi rompido. Fernando aceitou casar-se com Adelaide, pelo menos receberia um dote de trinta mil contos de réis. Nesses tempos o avô paterno de Aurélia lhe apareceu, mas rapidamente veio a falecer quase ao mesmo tempo em que sua mãe, no entanto seu avô lhe havia deixando sua rica herança, agora ela era uma moça rica. Sua tutela foi entregue a seu tio Lemos, que há muito havia cortado as relações com a mãe de Aurélia. Mas ela prefiriu viver em uma casa com D. Firmina uma amiga viúva que a tinha amparado quando ficara sozinha no mundo.

Fernando viajou para Recife na esperança de escapar do casamento. Com sua ausência Adelaide e Dr. Torcato Ribeiro se reaproximaram. Aurélia lhe havia devolvido cinquenta mil contos de réis que a muito lhe devia e assim o pai de Adelaide lhe consentiu a mão da filha. Quando Fernando voltou já estava livre do casamento, foi então que Lemos lhe prôpos casar-se com uma moça em troca de um dote de cem mil contos de réis, ele acabou por aceitar e recebeu um adiantamento de vinte mil contos de réis, depois veio conhecer que a moça era Aurélia. Alegrou-se pois sempre a amara.

Casaram. No quarto de núpcias quando Fernando se declarava Aurélia friamente entregou-lhe o resto do dote e declarou que ele a pertencia, afinal acabara de comprá-lo. Nessas condições passaram a viver um falso casamento, dormiam em quartos separados e sempre se tratavam intimamente com sarcasmo e ironia. Com o decorrer do tempo Fernado se dedicava ao trabalho de servidor público e Aurélia passou por um longo tempo se isolando de todos. Depois de tal isolamento dediou-se a festas, visitas e pequenas reuniões contínuas.

Ao voltarem de um baile quase houve uma reconciliação, no entanto essa não se fez. Então durante uma valsa em um baile próprio, Aurélia desmaiou e acabram ambos sozinhos no quarto dela. Nesse momento quase houve novamente uma reconciliação, mas Fernando sem querer disse palavras que ofenderam a sua esposa. Voltaram para o baile, ainda vivendo em farsas.

Quando o baile acabou cada um foi para seu quarto, Aurélia baseando-se nos recentes acontecimentos concluiu que Fernando realmente a amava, quase foi ao encontro dele, mas precisava ter certeza e abandonou assim a idéia.

Nos dias seguidos Fernando recebeu o diheiro que havia ganhado através de um investimento, pediu para conversar com Aurélia. Após o jantar foram para o quarto dela, ele entregou a ela um cheque com o valor que ela havia pagado pelo dote e mais os outros vinte mil contos de réis, conquistados no trabalho na repartição e pelo lucro do investimento. Declarou-se livre, pois havia lhe devolvido o dinheiro com o qual ela o havia comprado.

Considerando-se dois estranhos despediram-se. Nesse momento Aurélia confessou todo o amor que tinha por Fernando, afirmou que sendo eles agora estranhos o passado havia sido esqueçido e assim podiam viver o amor que sentiam. Fernando ao ouvir tal confisão beijou sua esposa e assim reconcilhiaram-se. Ele de repente hesitou, o dinheiro de Aurélia lhes empedia de amarem-se, ela então pegou em uma gaveta um documento, era seu testamento onde deixava tudo para Fernando, nessas circunstâncias uniram-se no “amor conjugal”.

Jose, de e Alencar
Enviado por Lari Siqueira Honorio em 20/02/2012
Código do texto: T3509901
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.