Ainda o País das Neves
O nome da mulher personagem central da trama do livro, Komako, estranhamente deixei de mencionar na resenha récem publicada. País das Neves, de Kawabata, gira em torno de mulheres, suas alegrias, encontros, desencontros, e a paixão em viver a vida em plena intensidade. A mulher e o homem, pois são mulheres que vivem em função do homem, as gueixas, embora uma gueixa tenha o direito de recusar qualquer homem, assim como elegê-lo.
Lendo a orelha do livro, escrita por Marina Colassanti descubro, alegremente surpreendida, que o escritor japonez, apoiando-se sempre em pessoas históricas, para escrever seu romance ao longo de 14 anos, revelou ser Komako, que na vida seria a senhora Kiku Kotaka, casada com um alfaiate, gueixa por ele conhecida quando ainda rapaz.
Ao saber do remio Nobel concedido a Kawabata, teria dito a senhora Kotako: "Agora nossas conversas e seu trabalho se tornarão conhecidos no mundo inteiro."
Na contra capa há a foto de alguém que a princípio tive como homem, delicado e frágil, envelhecido, testa grande e um cabelo que me parece curto e grisalho. Mas a foto poderia ser a de uma mulher magra e ossuda, olhos expressivos, mãos grandes, não propriamente bela, caso da gueixa Komako. Se Kawabata cria uma identidade feminina e desmancha a sua, ou se seria realmente uma mulher não importa, pelo contrário, é a sutileza e o mistério que se encontra na obra do grande escritor da Língua Portuguesa, mestre criador de heterônimos, Fernando Pessoa. Um brinde à Literatura.