MOISÉS-PRÍNCIPE DO EGITO

Moisés e Akhenaton
 
 
O nome egípcio de Moisés era Mos, que significa “filho das águas”. Segundo a Bíblia ele teria sido depositado, ainda recém nascido, num cesto de vime e lançado nas águas do Rio Nilo por sua mãe, a levita Iochabel, esposa do sacerdote Anrim. Isso ela fez para salvá-lo do decreto do faraó Amenhoteph III, o qual mandara as parteiras hebraicas afogar nas águas do Nilo todos os recém nascidos entre o povo de Israel, pois segundo uma antiga profecia, naqueles dias teria nascido no Egito o libertador dos hebreus, povo que lá vivia como escravo há mais de quatrocentos anos.
Mas o Grande Arquiteto do Universo o havia escolhido para uma missão e o salvou, conduzindo o cesto de vime onde ele foi posto até as mãos da irmã do faraó, que o criou como seu filho[1]
Uma antiga tradição, coletada pelo historiador Apião, sugere que ele se tornou príncipe do Egito com o nome de Osarseph, o qual teria sido vizir (governador) na terra de Gózen e aos vinte anos iniciado no alto cargo de sacerdote em Heliópolis. É com esse nome que ele aparece nos documentos, estelas e inscrições que os egípcios gravavam para registrar os acontecimentos importantes da história da sua nação, o que explica porque nunca foi encontrada nenhuma referência ao nome Moisés nos registros da história egípcia[2]
Assim, Moisés, como príncipe do Egito, tornou-se não só um nome poderoso em assuntos da religião, como também importante politicamente, já que exercia o cargo de governador de uma das mais importantes províncias do Egito.
Esses fatos ocorreram nos dias do faraó Amenhotep IV, conhecido na História egípcia como Akhenaton, o Reformador. Moisés, ou Osarseph, segundo se infere das especulações de Apião, teria se unido ao faraó Akhenaton na sua cruzada para implantar no país a religião de um único deus, o Deus Amon-Rá, divindade adorada em Tebas, sua capital. Esse deus, com o nome mudado para Aton, deveria ser a única divindade de todo o Egito e todos os demais deuses lhe deveriam ser sujeitos, da mesma forma que todos os egípcios deviam obedecer ao grande faraó.(3)
Depois de ter adotado Aton como único e verdadeiro Deus a ser adorado nas Duas Terras do Egito, e proibido qualquer menção ou adoração a outros deuses em todo o país, o faraó Akhenaton retirou dos Irmãos de Heliópolis todos os seus privilégios, confiscando-lhes terras e bens, declarando fora da lei seus ritos e cerimônias; e colocando-os sobre a sujeição do Sumo Sacerdote Moisés. Com isso ele atraiu o ódio dos membros daquela poderosa Confraria e dos demais sacerdotes do Egito, os quais fundamentavam seu poder na religião e obtinham suas riquezas através das doações feitas aos templos, e pelo comércio que eles praticavam com esses bens.
Os sacerdotes não concordaram com esse estado de coisas, nem aceitaram Moisés como seu superior e logo conclamaram aos principais chefes de estado egípcios para que reunissem os seus exércitos e fizessem guerra contra aquele faraó, a quem chamavam de herege e cultor de deuses estrangeiros. Pois o deus de Moisés, segundo os sacerdotes de Heliópolis e outros santuários, era o deus de Israel. E Aton, o deus que ele adotara, era o mesmo deus dos hebreus.[4]
Esse deus era chamado de Adonai pelos hebreus, por isso se acredita que seja o mesmo Aton, adorado por Akhenaton. Akhenaton, para torná-lo palatável para os egípcios, fundiu a idéia metafísica que os hebreus tinham de Deus, com os atributos de Amon-Rá, o deus de Tebas, que era representado pelo disco solar. Assim, nasceu a idéia do Deus único, que os hebreus, mais tarde, iriam disseminar pelo mundo e mudar completamente a história das religiões.
Os hebreus, como mandava sua tradição, não podiam escrever nem pronunciar seu nome, por isso se referiam a ele como “O inominado” e grafavam o seu nome com quatro letras, IHVH, que os gregos, mais tarde, chamaram de Tetragrammaton.[5]  
Todavia, os sacerdotes egípcios não aceitaram pacificamente essa mudança radical nas suas tradições religiosas e insuflaram o povo dizendo que se o Deus de Israel reinasse sobre os corações e mentes do povo do Egito, logo os israelitas estariam dominando o país, pois eram grandes em número e muito fortes em corpo e espírito. 
Na verdade, havia muitas pessoas influentes no Egito, que eram oriundas do povo de Israel. Isso mostra que os hebreus nem sempre foram escravos no Egito. Nessa época, provavelmente, eles viviam em liberdade no Vale do Nilo e eram muito respeitados como comerciantes, artesãos e pequenos proprietários agrícolas, como sugere as especulações de Apião. Essas condições favoráveis teriam começado com a ascensão de José, o filho de Jacó, o qual teria se tornado um poderoso Vizir, cujo nome egípcio seria Yuya( sua tumba foi encontrada no Vale dos Reis em 1905). Assim, durante muito tempo, os hebreus viveram em paz e se tornaram muito prósperos no Egito, tanto que a própria Bíblia se refere a esse fato dizendo: “Entretanto, se levantou no Egito um novo rei que não conhecia (aceitava) José e que disse ao seu povo “Vós bem vedes que os filhos de Israel estão muito numerosos e mais fortes do que nós. Oprimamo-lo, pois, com manha, para não suceda que, sobrevindo alguma guerra, ele se una com os nossos inimigos, e vencendo-nos, saiam depois do Egito.” [6]
Mostra-se, com isso que os egípcios temiam os hebreus e não os tinham como escravos, mas que a opressão sobre eles começou quando as próprias condições políticas do país sofreram uma violenta modificação. Essa modificação, como se infere pelas informações de Maneto e Apião, devem ter se iniciado com a revolução religiosa de Akhenaton.[7]
Com sua revolta, os sacerdotes colocaram uma grande parte do País em guerra contra Akehnaton e Moisés. E naqueles dias houve uma grande conflito por todo o Egito, que durou mais de dez anos; muitos foram os que morreram porque o povo se dividiu; e em todas as cidades, as pessoas lutavam com fúria e coragem pelos deuses que adotaram, pois os homens combatem com mais ardor pelas coisas em que acreditam do que por suas famílias ou bens. [8]
Perdida a guerra, porque foram muitos os que se levantaram contra aquele faraó e seu vizir Moisés (ou Osarshep), logo foi morto aquele Akhenaton e no seu lugar subiu ao trono seu filho Tut-Ank-Amon, um menino de dez anos de idade, cujo governo procurou restabelecer a paz no país revivendo a religião nacional de muitos deuses. Mas ele não conseguiu fazer as pazes com os Irmãos de Heliópolis, e estes, (porque Tut-Ank-Amon se recusou a perseguir e prender os seguidores de Aton e condenar Moisés á morte), envenenaram o jovem rei no nono ano do seu reinado.[9]
Este Tutankamon é aquele que foi sepultado em uma suntuosa tumba no Vale dos Reis, com um enorme tesouro e todos os seus serviçais.
E depois disso aconteceu que os egípcios fizeram rei a um general de nome Horemheb, que logo começou a perseguir e massacrar os seguidores da antiga religião, devolvendo os privilégios da Irmandade de Heliópolis, a qual se fez novamente muito poderosa e voltou-se contra Moisés e os hebreus, seus patrícios. Este, para salvar a vida, fugiu para o deserto do Sinai, onde se refugiou no oásis de Madian, que fica nos pés do Monte Horeb, na península do Sinai. Data, portanto, dessa época, a opressão que os egípcios começaram a submeter os israelitas.[10]
     
(continua)

[1] Êxodo, 2:,3,5. 
[2] O nome Moisés deriva da raiz egípcia mos, que quer dizer “filho”. Seu nascimento, origem e adoção por parte de Bithia, irmã do faraó, (Amemhotep III) é contada em Êxodo  2: 1a 8. Já a identificação de Moisés com o vizir Osarseph foi proposta por Apião, escritor egípcio do primeiro século antes de Cristo. Sua especulação, entretanto, não tem bases históricas e foi  veemente combatida por Flávio Josefo em sua obra “Contra Apião”, como já registramos neste trabalho As demais conclusões aqui expostas são um resultado das nossas especulações.
(3) Ahemed Osmam- Moisés e Akhenaton- Madras, 2008  
[4] Esse é nome grego dado as quatro iniciais do nome de Deus, segundo os hebreus, que o soletravam como Iavé (Jeováh). Porém, Jeová é apenas um dos nomes de Deus, pois o seu Verdadeiro Nome era um segredo só revelado a muito poucos escolhidos.
[5].Êxodo “1: 8,9,10
[6] Essa também é a tese de Sigmund Freud em seu trabalho sobre Moisés e Akhenaton, onde o famoso criador da psicanálise identifica o legislador hebreu com o próprio faraó herege.
[7] Essa guerra foi retratada no romance de Mika Waltari, “Sinouê, o Egípcio”, mas também é um dos mais bem documentados episódios da história daquele povo, graças aos documentos recuperados nas escavações feitas em El Amarna.
[8] O jovem rei Tut-Ank-Amon foi assassinado aos dezoito anos de idade e sua história era pouco conhecida até sua tumba ser encontrada por Howard Carter em 1928. Os tesouros que ela continha constituem o maior achado arqueológico de todos os tempos e encontram-se hoje no museu do Cairo.
[9]A Bíblia diz que os hebreus viveram como cativos durante quatrocentos anos no Egito. Não sugere uma data, entretanto, para sua imigração da Palestina para o Vale do Nilo. Pelas especulações de Apião e Maneto, entretanto, essa imigração deve ter ocorrido entre 1780 e 1580 a C, época que o Egito foi dominado pelos hicsos, povo semita oriundo da Palestina.  Maneto, segundo informações de Flávio Josefo, apresenta os hicsos como um povo que imigrou pra o Vale do Nilo e conquistou o Egito sem luta, mas por ter religiao e cultura diferente dos egipcios, acabou destruindo cidades e "os templos dos deuses", provocando grande matança e devastação no país. Por cerca de duzentos anos governaram o Egito com seus “reis pastores”. Sua capital era no Delta do Nilo, sediada na cidade de Aváris. Por volta do,1580 a C. os egípcios, comandados pelo faraó Amósis, atacaram Avaris e expulsaram os hicsos de volta para a Palestina. Maneto informa que eles se fixaram na Judéiaa e construíram Jerusalém. (Flávio Josefo, Contra Apião, Vol. I, pág. 73-105 § 14-6; pág. 223-232 § 25-6).  Máneto também informa que um grande grupo de 80 mil leprosos e doentes recebeu permissão para se estabelecer em Aváris, depois da partida dos Hicsos. Esses mais tarde se rebelaram, chamaram de volta os "rei pastores", que destruíram cidades e aldeias, e cometeram sacrilégio contra os deuses egípcios. Por fim, foram derrotados e expulsos do país. Esses últimos, segundo infere Apião seriam os hebreus. (Contra Apião, Livro I, Cap. 26, 28)
(10) Ahemed Osmam, idem op citado. 

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DO LIVRO - MISTÉRIOS DA ARTE REAL- NO PRELO
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/01/2012
Reeditado em 23/01/2012
Código do texto: T3456805
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