TERNA SACANAGEM
TERNA SACANAGEM (resenha escrita por Silvério da Costa, escritor-menbro da Associação Chapecoense de escritores.)
Depois de algum tempo de espera li o interessante livro “Terna Sacanagem”, do chapecoense Afonso Martini. Digo interessante, não só pelo investimento em diversas temáticas, como a condição humana, a existencialidade e a natureza, com a exaltação da ecologia, da fauna e da flora e da tranquilidade do campo, mas também pela riqueza interpretativa, aberta a diversos sentidos e entendimentos.
É um livro que se sobressai pela força da palavra através de uma linguagem descomplicada e de caráter rememorativo, já que é um retrato candente do passado, levando em conta a dialética do tempo presente e do futuro, fazendo aguçadas e percucientes reflexões metafísicas, principalmente no conto “Um Conflito no Céu”, que fala da reencarnação. Há neste conto uma postura filosófica e religiosa, que não só insinua mas também situa as personagens Cissa e Celisse, duplamente, aqui e além, na fronteira do real e irreal, ou seja, no plano terreno e metafísico, através de um narrador (3ª pessoa) onisciente que vai além da palavra, para falar da morte com a mesma grandeza que fala da vida, talvez porque a duas sejam irmãs gêmeas do mesmo bem, ou do mesmo mal, até pórque a marte não se identifica e não revela os seus mistérios.
Enfim é um documento que vale tanto como um documento humano, quanto como objeto estético, cujos textos vêm impregnados com o viço da espontaneidade e o timbre de um escritor maduro que sabe pó que faz e que tem o domínio pleno da arte de narrar. Segue um conto do referido livro:
VIOLÊNCIA (crônica) Houve um assassinato. Mais um entre tantos. Morte fria e premeditada; invejável na perfídia de sua execução; execução que foi calculada passo a passo, instante a instante, nos seus mínimos detalhes.
Um tremor percorre-me o corpo ao constatar que um ser humano pode ser tão frio: matar
pelo simples prazer desse esporte.
O assassino, sim, o assassino evadiu-se. Transpôs a orla da mata e por ela adentrou. Evadiu-se do local do crime não por medo das consequências de seu ato. Evadiu-se, simplesmente, porque seu prazer já fora satisfeito, e a presa, de frágil e pequenina, não lhe interessa mais, não lhe rende mais glória, nem, lhe dá lucros.
E eu, que a tudo assisti, incréu e estático, vi-me pregado ao solo como uma estátua de pedra.
Sequer um grito de alerta ou de revolta liberou minha garganta intumescida. Lívido e pesaroso presenciei à distância a queda de um corpo no meio do matagal. Partículas de sua alma, de sua vida, de seu adeus e de sua saudade esvoaçam ainda ao sabor do vento cálido da tarde triste e moribunda.
E essa chuva de plumas paira titubeante no ar sombrio da floresta até quedar-se no chão como pétalas desfalecidas.
Cai mais um artistas – o artífice da liberdade. Um poeta dos sons alegres do canto sem versos. Um músico sem instrumento. O cantor que despolui a poluição sonora com seu canto jovial.
Morre o “simples” que infiltra esperança nos corações aprisionados pela descrença. O peregrino perseguido que adoça o amargor do cárcere. O letrista, cujos versos escritos na natureza, têm o poder de despertar amor e honestidade. O emissário da paz.
Morre, varado por uma bala certeira, mais um ser inocente e inofensivo, nas mãos de um vândalo malvado. Cai com um gemido de protesto contra a agressão à fauna; um gemido de protesto contra a extinção da sua espécie; contra a derrocada final do equilíbrio ecológico.
Morre mais um pássaro.
TERNA SACANAGEM (resenha escrita por Silvério da Costa, escritor-menbro da Associação Chapecoense de escritores.)
Depois de algum tempo de espera li o interessante livro “Terna Sacanagem”, do chapecoense Afonso Martini. Digo interessante, não só pelo investimento em diversas temáticas, como a condição humana, a existencialidade e a natureza, com a exaltação da ecologia, da fauna e da flora e da tranquilidade do campo, mas também pela riqueza interpretativa, aberta a diversos sentidos e entendimentos.
É um livro que se sobressai pela força da palavra através de uma linguagem descomplicada e de caráter rememorativo, já que é um retrato candente do passado, levando em conta a dialética do tempo presente e do futuro, fazendo aguçadas e percucientes reflexões metafísicas, principalmente no conto “Um Conflito no Céu”, que fala da reencarnação. Há neste conto uma postura filosófica e religiosa, que não só insinua mas também situa as personagens Cissa e Celisse, duplamente, aqui e além, na fronteira do real e irreal, ou seja, no plano terreno e metafísico, através de um narrador (3ª pessoa) onisciente que vai além da palavra, para falar da morte com a mesma grandeza que fala da vida, talvez porque a duas sejam irmãs gêmeas do mesmo bem, ou do mesmo mal, até pórque a marte não se identifica e não revela os seus mistérios.
Enfim é um documento que vale tanto como um documento humano, quanto como objeto estético, cujos textos vêm impregnados com o viço da espontaneidade e o timbre de um escritor maduro que sabe pó que faz e que tem o domínio pleno da arte de narrar. Segue um conto do referido livro:
VIOLÊNCIA (crônica) Houve um assassinato. Mais um entre tantos. Morte fria e premeditada; invejável na perfídia de sua execução; execução que foi calculada passo a passo, instante a instante, nos seus mínimos detalhes.
Um tremor percorre-me o corpo ao constatar que um ser humano pode ser tão frio: matar
pelo simples prazer desse esporte.
O assassino, sim, o assassino evadiu-se. Transpôs a orla da mata e por ela adentrou. Evadiu-se do local do crime não por medo das consequências de seu ato. Evadiu-se, simplesmente, porque seu prazer já fora satisfeito, e a presa, de frágil e pequenina, não lhe interessa mais, não lhe rende mais glória, nem, lhe dá lucros.
E eu, que a tudo assisti, incréu e estático, vi-me pregado ao solo como uma estátua de pedra.
Sequer um grito de alerta ou de revolta liberou minha garganta intumescida. Lívido e pesaroso presenciei à distância a queda de um corpo no meio do matagal. Partículas de sua alma, de sua vida, de seu adeus e de sua saudade esvoaçam ainda ao sabor do vento cálido da tarde triste e moribunda.
E essa chuva de plumas paira titubeante no ar sombrio da floresta até quedar-se no chão como pétalas desfalecidas.
Cai mais um artistas – o artífice da liberdade. Um poeta dos sons alegres do canto sem versos. Um músico sem instrumento. O cantor que despolui a poluição sonora com seu canto jovial.
Morre o “simples” que infiltra esperança nos corações aprisionados pela descrença. O peregrino perseguido que adoça o amargor do cárcere. O letrista, cujos versos escritos na natureza, têm o poder de despertar amor e honestidade. O emissário da paz.
Morre, varado por uma bala certeira, mais um ser inocente e inofensivo, nas mãos de um vândalo malvado. Cai com um gemido de protesto contra a agressão à fauna; um gemido de protesto contra a extinção da sua espécie; contra a derrocada final do equilíbrio ecológico.
Morre mais um pássaro.