REI ARTUR - ALLAN MASSIE
Nestas férias venho me dedicando a escrever sobre o que defino como o meu gênero de literatura mundano, já que habitualmente minhas publicações, em sua maior parte, versam sobre temas espíritas ou espiritualistas. E o meu principal assunto corrente, neste sentido, é o universo de livros, filmes e obras relacionadas ao rei Arthur e a seus Cavaleiros da Távola Redonda.
Há poucos dias publiquei aqui mesmo, no Recanto, a minha resenha do que considerei - contrariando muitas opiniões, que se diga! - a pior coisa já vista de tudo o que acessei sobre o tema até hoje: a obra de Bernard Cornwell, intitulada O Rei do Inverno! Porque nos apresenta uma versão arthuriana completamente desvirtuada daquilo que os amantes das lendas e estórias tradicionais já leram, resumindo: um rei Arthur que não foi rei. Um Lancelot que fora o mais completo farsante e patife, e um Galahad que não fora nada para muito além de um intrigante na corte... Claro, e faça-se justiça, em meio a toda uma narrativa de fôlego de mais de quinhentas páginas muito bem construída, descrevendo com competência indiscutível cenários de batalha, ligações amorosas espúrias e contextos de época pintados com cores de fato bem realistas para o que consistia aqueles tempos perdidos entre brumas cinzentas...
Todavia, e como dito no texto anterior, para mim, uma adepta de estilos arthurianos mais tradicionais, como o contido no clássico As Brumas de Avalon, dentre outras obras, o livro de Bernard me desagradou grandemente! Sobretudo, por ter cometido o sacrilégio de destruir impiedosamente a faceta encantadora do conto de fadas e da reputação do principal Cavaleiro de Arthur, Lancelot - uma autêntica heresia!
E agora, refeita do choque, decidi prosseguir no aquecimento literário das minhas férias, desta vez apresentando aos apreciadores do tema breve resenha sobre - e esta sim! - uma obra digna, que aborda a lenda de dentro de um estilo nem tanto ao mar nem tanto à terra, a partir da narrativa de Michael Scott, um sábio medieval, ao seu aluno Frederico II de Hohenstaufen (1114 - 1250), Imperador do Sacro Império Romano: Rei Arthur - de Allan Massie - Ediouro.
No contexto, a história de Massie nem se abandona totalmente às minúcias lendárias fantasiosas da tradição, que envolvem o suposto perfil mago de Merlin, - o que desagrada a muitas mentes pragmáticas contemporâneas - sem desprezar a fácies realista de personagens e da época descritiva de ligações humanas e amorosas clandestinas, nem rejeita por completo a necessária sedução do imaginário, incluindo, aí, a intervenção das fadas na história de vida de Lancelot, os episódios de feitiçaria, e o simbolismo que gira em torno de questões como a do Graal, porque é apresentado ao leitor, ao mesmo tempo que a Frederico, e em vários trechos, percepções e abordagens conflitantes de vários destes assuntos, deixando-nos a liberdade de escolha para qual versão nos inclinamos mais a aceitar interiormente.
É, portanto, narrada ao leitor, a história de Arthur desde a sua meninice, quando foi compelido por Merlin a disputar com outros barões a retirada da espada Excalibur da pedra, e conquistando, a partir deste feito, tido como muitos despeitados como efeito de magia, a sua soberania, depois de muita humilhação e maltratos sofridos como mero servo desconhecido em castelos de soberanos carrascos da época. A sua trajetória de conquistas desde então, bem como, e desde o princípio, a origem dos seus envolvimentos amorosos com Morgan Le Fay e Guinevere.
Detalha a obra, também, a chegada de cada Cavaleiro no seu enredo de vida, e a encantadora origem da formação da Irmandade da Távola, de cujos desdobramentos, mais tarde, se originou o mito dos Cavaleiros Templários e a busca do Graal. Sugere-nos, de acréscimo, versões mais acalentadoras para a verdadeira procedência de Mordred, o infame traidor de Arthur, e para o seu enigmático papel como sendo o seu filho com Morgan, considerando a possibilidade de tratar-se, aquele Cavaleiro abjeto, de um filho trocado. E sendo o seu real herdeiro, neste caso, o digno Galahad, ou Parsival, os dois Cavaleiros talvez que mais honrados para a busca do cálice sagrado - dada a incompreensível deserção de um Lancelot que, sempre fascinante, todavia era dado a surtos de loucura a cada crise existencial, o que acabou distanciando-o em definitivo da fidelidade a Arthur.
Nestas férias venho me dedicando a escrever sobre o que defino como o meu gênero de literatura mundano, já que habitualmente minhas publicações, em sua maior parte, versam sobre temas espíritas ou espiritualistas. E o meu principal assunto corrente, neste sentido, é o universo de livros, filmes e obras relacionadas ao rei Arthur e a seus Cavaleiros da Távola Redonda.
Há poucos dias publiquei aqui mesmo, no Recanto, a minha resenha do que considerei - contrariando muitas opiniões, que se diga! - a pior coisa já vista de tudo o que acessei sobre o tema até hoje: a obra de Bernard Cornwell, intitulada O Rei do Inverno! Porque nos apresenta uma versão arthuriana completamente desvirtuada daquilo que os amantes das lendas e estórias tradicionais já leram, resumindo: um rei Arthur que não foi rei. Um Lancelot que fora o mais completo farsante e patife, e um Galahad que não fora nada para muito além de um intrigante na corte... Claro, e faça-se justiça, em meio a toda uma narrativa de fôlego de mais de quinhentas páginas muito bem construída, descrevendo com competência indiscutível cenários de batalha, ligações amorosas espúrias e contextos de época pintados com cores de fato bem realistas para o que consistia aqueles tempos perdidos entre brumas cinzentas...
Todavia, e como dito no texto anterior, para mim, uma adepta de estilos arthurianos mais tradicionais, como o contido no clássico As Brumas de Avalon, dentre outras obras, o livro de Bernard me desagradou grandemente! Sobretudo, por ter cometido o sacrilégio de destruir impiedosamente a faceta encantadora do conto de fadas e da reputação do principal Cavaleiro de Arthur, Lancelot - uma autêntica heresia!
E agora, refeita do choque, decidi prosseguir no aquecimento literário das minhas férias, desta vez apresentando aos apreciadores do tema breve resenha sobre - e esta sim! - uma obra digna, que aborda a lenda de dentro de um estilo nem tanto ao mar nem tanto à terra, a partir da narrativa de Michael Scott, um sábio medieval, ao seu aluno Frederico II de Hohenstaufen (1114 - 1250), Imperador do Sacro Império Romano: Rei Arthur - de Allan Massie - Ediouro.
No contexto, a história de Massie nem se abandona totalmente às minúcias lendárias fantasiosas da tradição, que envolvem o suposto perfil mago de Merlin, - o que desagrada a muitas mentes pragmáticas contemporâneas - sem desprezar a fácies realista de personagens e da época descritiva de ligações humanas e amorosas clandestinas, nem rejeita por completo a necessária sedução do imaginário, incluindo, aí, a intervenção das fadas na história de vida de Lancelot, os episódios de feitiçaria, e o simbolismo que gira em torno de questões como a do Graal, porque é apresentado ao leitor, ao mesmo tempo que a Frederico, e em vários trechos, percepções e abordagens conflitantes de vários destes assuntos, deixando-nos a liberdade de escolha para qual versão nos inclinamos mais a aceitar interiormente.
É, portanto, narrada ao leitor, a história de Arthur desde a sua meninice, quando foi compelido por Merlin a disputar com outros barões a retirada da espada Excalibur da pedra, e conquistando, a partir deste feito, tido como muitos despeitados como efeito de magia, a sua soberania, depois de muita humilhação e maltratos sofridos como mero servo desconhecido em castelos de soberanos carrascos da época. A sua trajetória de conquistas desde então, bem como, e desde o princípio, a origem dos seus envolvimentos amorosos com Morgan Le Fay e Guinevere.
Detalha a obra, também, a chegada de cada Cavaleiro no seu enredo de vida, e a encantadora origem da formação da Irmandade da Távola, de cujos desdobramentos, mais tarde, se originou o mito dos Cavaleiros Templários e a busca do Graal. Sugere-nos, de acréscimo, versões mais acalentadoras para a verdadeira procedência de Mordred, o infame traidor de Arthur, e para o seu enigmático papel como sendo o seu filho com Morgan, considerando a possibilidade de tratar-se, aquele Cavaleiro abjeto, de um filho trocado. E sendo o seu real herdeiro, neste caso, o digno Galahad, ou Parsival, os dois Cavaleiros talvez que mais honrados para a busca do cálice sagrado - dada a incompreensível deserção de um Lancelot que, sempre fascinante, todavia era dado a surtos de loucura a cada crise existencial, o que acabou distanciando-o em definitivo da fidelidade a Arthur.
Massie, doutra feita, apresenta-nos, ainda, uma Guinevere mais coerente do que a açucarada amante eterna do Mestre de Armas da Irmandade: uma saxã volúvel, comilona, e infiel do início ao fim - e que, por esta sua mesma característica, não poderia ter sido leal ao rei devido ao contexto meramente político de sua união; e menos ainda fiel a Lancelot, Cavaleiro sempre inconstante amorosamente pelo fado que lhe fora imposto, durante a sua criação, pela fada Vivian (detalhe inteiramente fabuloso, difícil mesmo de se digerir, diga-se; mas que Massie conserva, mantendo a natureza lendária e tradicional dos fatos!)
Para os leitores afins aos temas espiritualistas, como no meu caso, há também a grata surpresa do sábio Michael ainda oferecer explicações de cunho místico e espiritual a Frederico, em alusões a determinadas passagens e personagens, e, mesmo ao final, ele promete abertamente contar, noutra oportunidade, acerca de ter sido Carlos Magno a própria reencarnação do rei Arthur!
Enfim, este Rei Artur, de Allan Massie - e esta obra, sim! - haverá de deliciar o leitor arthuriano, tanto iniciante, quanto o mais conservador, mas ao mesmo tempo flexível o bastante para, inserido no contexto de época atual, exigir de uma releitura da lenda algo das possíveis realidades daqueles tempos, o que é mais frequente, hoje, em filmes magistrais como o fora o Rei Arthur de direção de Antoine Fuqua e escrito por David Franzoni, em 2004.
Fica, portanto, registrado o comparativo e a sugestão!
Desejando a todos uma boa entrada de 2012 - e belas viagens através das leituras desta maravilhosa saga, que um dia compreenderemos ser nada mais do que a de todos nós!