INICIAÇÃO

O método iniciático é próprio das disciplinas espirituais. Por isso todas as religiões têm a sua forma de iniciação: batismos, purificações, viagens simbólicas, etc. Todas essas práticas nada mais são que fórmulas ritualísticas diversas que visam abrir a porta da mente do iniciado para os conteúdos sutis do ensinamento que ele vai receber.
E seja qual for a forma de iniciação, ela contém elementos que são comuns a todas as religiões, pois elas provém de uma origem comum e servem a uma finalidade semelhante, que é impressionar o espírito do praticante, preparando-o para ser o recipiendário de um novo aprendizado.[1]
Todas as antigas iniciações começavam com uma morte ritual, que encerrava uma visita à escuridão total, para que dela o iniciando pudesse renascer como semente fecundada pelos raios solares, pronta para iniciar uma caminhada em direção à luz. Porque essa era a idéia, extraída da observação da natureza, que os antigos mestres do conhecimento arcano faziam do processo que dá origem à vida: uma semente é posta no útero da terra, como se fosse um corpo posto em sepultura; ali ela é regenerada pelos nutrientes da terra e a ação do calor do sol;  recomposta, ela atravessa a escuridão começando uma jornada em busca da luz. Brotar significa sair para a luz, reviver.
Segundo antigas tradições, a prática da iniciação começou em eras anteriores a atual raça adâmica, com os atlantes. Quando a degeneração da raça atlante ocorreu, os sábios daquele povo resolveram ocultar do vulgo os grandes segredos que fizeram o esplendor daquela civilização e somente comunicá-los a poucos escolhidos, que se mostraram dignos de compartilhar deles. Os grandes heróis dos mitos vedantas, gregos, babilônicos e outros, foram alguns desses escolhidos. Depois os Mistérios da Iniciação foram trazidos da Atlântida pelos ários e incorporados à tradição de vários povos, entre os quais os hindus, os egípcios, os caldeus e outros povos antigos[2]
Nos tempos pré-históricos, a iniciação não comportava nenhum dogma e não tinha qualquer relação com a escatologia.[3] No entanto, era a verdadeira religião daqueles povos, ou seja, uma disciplina metafísica e religiosa ao mesmo tempo, na qual se procurava reproduzir os processos naturais pelos quais a divindade se manifesta no mundo da matéria física. Era uma imitação da atividade dos deuses.
Externamente funcionava como escola, onde se ensinava ciências, artes, ética, direito, medicina, filantropia, justiça e principalmente respeito pela grande Mãe Natureza. Tudo quanto de bom, nobre e verdadeiro há na natureza humana, seja em termos de virtudes éticas e morais, seja como aspirações divinas, isso era cultivado pelas antigas sociedades iniciáticas em seus Mistérios. Daí o fato de essas antigas práticas, que eram religise tornarem verdadeiras instituições, venerada pelos povos e consagrada pelos estados onde eram praticadas.[4]
 
Em busca da Luz
 
Da mesma forma que a nossa existência como seres humanos tem o seu início com o nascimento, a vida do espírito também começa no momento em que os nossos olhos são feridos pela luz do seu contato com o mundo. Assim, a vida, tanto da carne, quanto do espírito, é o resultado do nosso encontro com a luz
Essa idéia está no centro das doutrinas que informam as religiões antigas. Por isso iremos encontrar em todas essas manifestações espirituais a busca desesperada pela luz, e como conseqüência desse anelo, o objeto de adoração é aquele que a gera, o Sol. Assim, o Sol torna-se a deidade central em todos esses os cultos, razão pela qual nós os chamamos de cultos solares. No Egito antigo, por exemplo, essa idéia envolvia não só as crenças religiosas do país, mas tinha implicações políticas e sociais importantes. O faraó era considerado o Filho do Sol. Seu poder não vinha de nenhuma relação temporal, mas do próprio astro rei, (o deus Rá), por isso não podia ser contestado. Daí o caráter teocrático do seu governo e a duração extremamente longa da instituição faraônica, que sobreviveu enquanto a crença nos poderes do Sol e na transmissão aos seus filhos na terra encontrou adeptos.
Nos Upanixades, um dos livros sagrado da religião vedanta se diz que o sol é o pai da vida e a lua a sua mãe. Da união dos dois nasceu a criação.  O filósofo Aristóteles também dizia que “o homem e o sol geram a vida”, emprestando assim a sua respeitada opinião ao mito solar. Até o Cristianismo, embora seus teólogos tentassem apagar os traços da sua origem solar, sofreu a influência dessas idéias arquétipicas. Jesus, para algumas seitas gnósticas, era considerado uma divindade solar. Sua identificação com o Sol se dava principalmente pelo Evangelho de João onde se afirma que Jesus era a Luz do mundo.[5] A própria Igreja Católica se aproveitou das tradições cultivadas pelas religiões solares para firmar alguns dogmas e datas do cristianismo. O dia 25 de dezembro, dado como sendo o dia do nascimento de Jesus, é uma data que tem correspondência em várias religiões solares, como por exemplo, o Mitraísmo, que tem essa data como sendo o dia do nascimento de Mitra.[6] Na religião egípcia essa data também corresponde ao nascimento de Hórus; na religião hindu, ela corresponde à data do nascimento do deus Krishna, etc. Todos esses deuses, coincidentemente, foram concebidos e nasceram de forma miraculosa, semelhante à de Jesus.
É oportuno também lembrar que em certos círculos teológicos antigos, Cristo era um ser solar e seus discípulos simbolizavam os doze signos do zodíaco. Assim, o arquétipo inspirador do personagem Jesus Cristo não era uma intuição puramente judaico-cristã, como comument se pensa, mas uma tradição compartilhada por quase todos os antigos povos. E foi essa identificação com o mito solar, e o fato de a figura do Cristo ser uma noção compartilhada pelo Inconsciente Coletivo da humanidade que ajudou os doutrinadores cristãos a fazer do Cristianismo uma religião muito popular no Império Romano.
   
O simbolismo da busca pela Luz também tem uma clara correspondência na prática da alquimia, onde a obtenção da pedra filosofal é a “iluminação” final do adepto. Na moderna ciência ele também se aplica, sendo o insight do cientista o seu momento de luz. [7]
Sendo a maçonaria a herdeira da promessa contida no escopo dessas antigas religiões, tanto em sua face moral, quanto em sua busca pela realização espiritual, iremos encontrar, no conjunto da suas tradições, uma profusão de referências a essas duas forças da natureza, geradoras da vida, que são a Luz e o Sol. [8]
Justifica-se, dessa forma, dizer do Irmão que procura iniciação nos Augustos Mistérios maçônicos, que ele é “um pobre candidato que caminha nas trevas, e despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz.” [9]
E a Luz lhe é dada em presença dos Irmãos como corolário de uma jornada, na qual o seu espírito venceu as trevas e despontou para um novo dia, pronto para trabalhar no canteiro de obras mais nobre da terra. Essa será a sua missão, a sua tarefa enquanto maçom. É dessa forma que nós também vemos a escalada do maçom pela Escada de Jacó.  Como uma viagem pelo Reino de Enteléquia, na sua busca pelo seu Vril particular.[10]


[1]Iniciação, aqui, significa a admissão de um neófito na Irmandade. Recipiendário é o irmão que está sendo iniciado.
[2] Hércules, Krishna, Gilgamés, etc. eram alguns desses heróis. Sobre o sentido iniciático dos Doze Trabalhos de Hércules, veja-se o capítulo XII da nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Biblioteca 24x7, 2010.
[3] Escatologia é a doutrina que trata da consumação do tempo e da finalidade da história humana.
[4] Daí os Antigos Mistérios serem cultivados pela maçonaria. Como herdeira dessas antigas tradições, a prática maçônica visa salvaguardar essa conquista cultural do espírito humano.
[5] “Eu sou a luz do mundo; o que me segue não anda nas trevas, mas terá aluz da vida.” João, 8,12
[6]Na verdade, essa data corresponde ao início do solstício de inverno no hemisfério norte, que se inicia no dia 23 de dezembro.
[7] Muito apropriadamente, o maçom e cientista Thomas Alva Edison, inventor da lâmpada elétrica, era chamado pelos irmãos da sua Loja como um “Irmão em busca da Luz.” 
[8] Jâmblico chamava o sol de “a imagem da Divina Inteligência, ou Suprema Sabedoria” Para Eusébio, o sol era o “Anjo Mestre”, expressão que equivalia ao Cristo, ou Verbo Divino. A palavra sol, em latim é solus, ou seja, Único. Em grego ele é Hélios, o Altíssimo.
[9] Como consta do ritual de iniciação á maçonaria.
[10] Vril é um conceito esotérico utilizado pela Sociedade ocultista de Thule para designar o poder que os seres humanos têm para eliciar a energia telúrica presente na natureza e utilizá-la para fins práticos. Essa sabedoria já teria sido utilizada por antigas civilizações, especialmente os atlantes. Pawels e Bergier, em seu livro “O Despertar dos Mágicos”, citado, afirmam que os nazistas teriam feitos várias pesquisas com a finalidade de obter essa fonte inesgotável de energia, mas não lograram êxito, tendo em vista principalmente o caráter espiritual que esse conceito envolve, que é semelhante à energia do Graal. Este, segundo os esoteristas, só pode ser utilizado para o bem, por isso só é alcançado pelos puros de coração. Para maiores informações sobre esse tema veja-se Paranhos, R. Bottini, Atlântida – No reino da Luz, Editora do Conhecimento, 2009.
__________________________


DO LIVRO "MISTÉRIOS DA ARTE REAL-NO PRELO 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/12/2011
Reeditado em 18/12/2011
Código do texto: T3395071
Classificação de conteúdo: seguro