Semiose e Primeiros passos para a Semiótica

CABUS. Lígia. Simiose. Online, 2011. SANTAELLA, Lúcia. Primeiros passos para a Semiótica. Disponível em O que é Semiótica. São Paulo, Brasiliense, 1985.

Resenha por Isaias Francisco da Silva

A professora Lígia Cabus do Nascimento e graduada em comunicação com habilitação em jornalismo pela faculdade de comunicação da Universidade Federal da Bahia. Ela aborda em seu pequeno texto de apenas três páginas, denominado Semiose (que a mesma diz ser “um fenômeno ancestral”) algumas indagações interessantes para a compreensão do que venha a ser a Semiose e os principais elementos que a constitui.

Para tanto, Cabus mostra que a Semiose liga-se diretamente ao “estado de ser e estar consciente de si mesmo” e que pretender entendê-la é, igualmente, pretender entender a si mesmo. Pois, segundo a professora “somente pesamos por meio de signos”, e para melhor exemplificar sua teoria faz uso das palavras do pensador René Descartes quando diz que: “penso, logo existo”; deixando claro que “pensar sobre Semiose é pensar sobre o pensamento”.

Em Cabus, aprendemos que “o signo só existe para alguém”, e que para haver significação é necessário que haja “estado de relação de mais de um”, sendo que “qualquer signo só existe em ação”, isso significa dizer, em outras palavras, que o enunciado de Descartes faz sentido porque o ser pensa, caso contrário, não seria signo, nem teria sentido.

Dando continuidade, o texto da professora Lígia Cabus mostra a Semiose vista, por muitos estudiosos, como “ação dos signos”, ou ainda, como “fenômeno da significação”. Mostra, também, que ela é formada de três elementos: o signo, o significado e o significante. Os quais ela explica, em outras palavras, da seguinte maneira: imaginemos uma pessoa diante de uma imagem (signo), a representação dessa imagem é o significado e, a capacidade que cada um tem de percepção é o que devemos chamar de significante. Assim, entendemos que todo signo é polissêmico (vários significados) e cada significado é, absolutamente, subjetivo.

Já o texto Primeiros passos para a Semiótica que tem como autora Maria Lucia Santaella Braga — nascida em Catanduva, no dia 13 de agosto de 1944, pesquisadora brasileira e professora titular da PUC-SP, com doutorado em Teoria Literária nessa mesma instituição, em 1973; e livre-docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP, em 1993. É também fundadora do "CS games", Grupo de Pesquisa em Games e Semiótica da PUC-SP, além de professora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas EESP-FGV, nas áreas de Novas Tecnologias e Novas Gramáticas da Sonoridade, Relações entre o Verbal, Visual e Sonoro na Multimídia e Fundamentos Biocognitivos da Comunicação. Ocupa-se, também, com o cargo de Coordenadora do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital na PUCSP. Coordenou, entre outros, do lado brasileiro, o projeto de pesquisa Probral (Brasil-Alemanha) sobre relações entre palavra e imagem nas mídias; possui aproximadamente 40 livros publicados — como o próprio nome diz, aborda as questões inicias referentes à Semiótica

O texto, (que é as considerações iniciais do livro O que é Semiótica) apesar de pequeno, é dividido em três partes principais. Inicialmente, a autora expõe algumas definições como: “ciência dos signos”; “ciência geral de todas as linguagens” para (não) definir completamente o que é Semiótica.

Em seguida, Santaella dá continuidade à busca pela definição do que é Semiótica de uma forma, inteligentemente, programada para que o leitor, como afirma a própria, não receba tudo pronto, mas tente martelar e encontrar-se nas definições possíveis para a Semiótica; deixando como suspense a indagação de que Semiótica é um “campo aberto a muitas possibilidades ainda não inteiramente consumadas e consumidas, [...] algo nascendo e em processo de crescimento, [...] uma ciência, um território do saber e do conhecimento ainda não sedimentado, indagações e investigações em processo.”

Após aguçar a vontade do leitor, pelo campo da Semiótica, Santaella leva o leitor a uma viagem pelas linguagens verbais e não-verbais, que é o segundo tópico do seu pequeno texto de apenas cinco laudas; onde, já, deixa explicita suas definições sobre Linguística e Semiótica. Aquela ela chama de “ciência da linguagem verbal; esta de “ciência de toda e qualquer linguagem”.

Depois de conceituar as duas ciências, a professora Santaella, mostra que estamos tão habituados com a “lingua nativa, materna ou pátria” – como normalmente é denominada ¬– que esquecemos a capacidade, que temos, de nos comunicar através de “leitura e/ou produção de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos”. E que somos, também, “leitores e/ou produtores de dimensões e direções de linhas, traços, cores, [...] imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes, [...] objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar do sentir e do apalpar”.

Em seguida, amplia a noção de linguagens não-verbal ao mencionar as formas como os grupos humanos sempre recorreram para expressar-se, relatando como exemplos: “os desenhos nas grutas de Lascaux, os rituais de tribos ‘primitivas’, danças, músicas, cerimônias e jogos, até as produções de arquitetura e de objetos, alem das formas de criação de linguagens que viemos a chamar de arte: desenhos, pinturas, esculturas, poética, cenografia etc.” Dando-nos uma ideia geral das linguagens não-verbal.

Por último, mas não menos importante, a autora aborda seu terceiro tópico, que é referente ao alcance da Semiótica. No qual é redundante ao dizer que “a Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, [...] e que seu campo de indagação é tão vasto que chega a cobrir o que chamamos de vida, visto que, desde a descoberta da estrutura química do código genético, nos anos 50, aquilo que chamamos de vida não é senão uma espécie de linguagem, isto é, a própria noção de vida depende da existência de informação no sistema biológico. Sem informação não há planejamento, não há reprodução [...]. No caso da vida, estes são necessariamente ligados a uma linguagem [...]. Sem a linguagem seria impossível a vida, pelo menos como a conceituamos agora: algo que se reproduz, que tem um comportamento esperado e certas propensões.”

Para definir o último tópico de seu texto, Lúcia Santaella alerta que “caracterizado o campo de abrangência da Semiótica, podemos repetir que ele é vasto, mas não indefinido. O que se busca descrever e analisar nos fenômenos é sua constituição como linguagem.” Embora a Semiótica tome proporções, até mesmo, inesperadas por muitos; ela não está “chegando para roubar ou pilhar o campo do saber e da investigação especifica de outras ciências. [...] a Semiótica busca divisar e deslindar seu ser de linguagem, isto é, sua ação de signo. Tão só é apenas e isso já é muito.”

Os dois textos têm em comum a escrita sem rebuscamento, sem gírias, neologismo ou algo do tipo. Ambos são de fácil entendimento e os exemplos facilitam ainda mais a interação dos interlocutores: escritores/leitores. É, com certeza, uma importante viagem para aqueles que desejam conhecer o encantador mundo da Simiose/Semiótica.

É claro que os textos, aqui referenciados, são apenas duas gotas d’água num oceano tão vasto. Mas, não deixam de trazer contribuições. Porém, em se tratando do primeiro texto, e por ser um texto para principiantes no mundo da Semiose, é carente de definições mais precisas e em maior quantidade, talvez o fato seja explicado pelo tamanho do texto que limita maiores, melhores e mais definições.

Ainda assim, são textos recomendáveis para trabalhos com alunos das últimas séries do Ensino Médio; e indispensáveis principalmente aos acadêmicos dos cursos que formam para a prática pedagógica.

REFERÊNCIAS

NASCIMENTO, Lígia Cabus do. Disponível em: http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/semiose.htm. Acesso em 18 de setembro de 2011, às 11h e 50 minutos.

BRAGA, Lúcia Santaella. Biografia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucia_Santaella. Acesso em 18 de setembro de 2011, às 12h e 28 minutos.

Isaías Francisco
Enviado por Isaías Francisco em 09/12/2011
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