Linguística Aplicada: área de investigação em pleno desenvolvimento e Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa
VENTURI, Maria Alice. Linguística Aplicada: área de investigação em pleno desenvolvimento. PORANGABA, Edna. Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa. Maceió, IFAL, 2011.
Maria Alice Venturi é uma professora que possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1992), mestrado em Letras (Língua e Literatura Italiana) pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo (2004). Ministra aulas para Graduação (desde 1999) e Pós-Graduação (desde 2002) em Cursos de Letras da Rede Privada de Ensino Superior. Pesquisadora na área de ensino-aquisição de linguagem, publicou o livro intitulado "Tópicos de aquisição e ensino de língua estrangeira", em 2008, pela Editora Humanitas. Outro de seus principais trabalhos é ´Aquisição de língua estrangeira numa perspectiva de estudos aplicados´, capítulo do livro "Aquisição da linguagem, uma abordagem psicolingüística", publicado pela editora Contexto, em 2006. Atualmente trabalha em projeto de leitura e aquisição lexical, enfatizando.
Em seu pequeno e bom artigo, de apenas sete laudas, ressalta a importância da linguística aplicada, que passou de uma área dominada pelas idéias dos linguistas, propriamente ditos, até a década de setenta, para uma área que se consolidou, já há alguns anos, como independente no Brasil.
A professora Venturi salienta que o número de linguistas aplicados, naquela época, era restrito. Dessa forma, é óbvio que os estudos em linguística aplicada ficaram sobre controle dos linguistas propriamente ditos. Mas, a autora destaca que os linguistas tiveram importância fundamenta para que a Linguística Aplicada sustenta-se por conceitos teóricos e métodos próprios da linguística.
A autora relata que foi a partir da década de setenta que alguns estudiosos passaram a se posicionar a respeito da “[...] necessidade de o professor de línguas conhecer a teoria da linguagem para sistematizar o assunto ensinado”. Com a saída da inércia, a LA começava aí, despertar um foco de interesse na realidade do ensino, voltada para a constatação das “[...] necessidades específicas do ensino e do aluno”.
O texto de Venturi mostra que o grande passo da linguística aplicada no Brasil se deu devido aos programas de pós-graduação que alicerçaram as pesquisas em LA, como foco nas investigações das leituras em língua estrangeira. Fato esse, que fez com que as dissertações de mestrados, na área da LA, aumentassem e estivessem preocupadas com o processo de aprendizagem. Venturi afirma ainda, que nessa época surgiram vários estudos sobre interlinguais, “[...] utilizando a análise do erro; estudos sobre aquisição de segunda língua, utilizando estudos de caso longitudinais, bem como estudos experimentais sobre leitura em língua estrangeira, caracterizando, portanto, o verdadeiro objeto da linguística aplicada, e não apenas os aspectos linguísticos do ensino e do aprendizado de línguas.”
A autora afirma que nessa época intensificaram-se dois tipos de pesquisas: a pesquisa-diagnóstico e a pesquisa de intervenção, as quais buscavam a valorização da pesquisa qualitativa. Segundo a autora, os estudos de questões aplicadas não são desenvolvidos por um grupo “a” para serem aplicados por um grupo “b”. Mas, caracterizam-se por métodos de investigação que são próprios dos estudos aplicados, nas palavras dela “[...] gerados e sustentados no próprio contexto de aplicação.”
Completando a linha de raciocínio de Venturi, o livro Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa, no qual a professora e autora Edna Porangaba expõe, especificamente no capitulo quatro, a importância da linguística aplicada ao ensino de língua portuguesa; levando em consideração que a maioria dos professores tem conhecimento de que é preciso mudar a forma tradicional de ensino e que para tanto deve-se considerar as abordagens da linguística aplicada. Mas, os docentes não estão conseguindo colocar em prática os conhecimentos em linguística aplicada devido à falta de propostas de trabalhos com a oralidade em salas de aula, que utilizem a produção e a recepção de textos.
Porangaba é professora de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL, professora de Língua Portuguesa do Colégio Marista de Maceió e professora da Rede Estadual de Educação. Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (2010). Mestre em Letras e Linguística pela UFAL (2001). Graduada em Letras pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió - CESMAC (1996).
Em sua continuação a explanação sobre a importância da linguística aplicada ao ensino de língua portuguesa destaca que os estudos realizados, nessa área, comprovam que são capazes de ajudar a desenvolver a produção e compreensão de textos, já que a gramática, popularmente falando pede socorro, não consegue desenvolver essas capacidades, no aluno.
O texto que é composto por sete laudas afirma que a fragmentação do ensino tem contribuído para que a escola não consiga fazer com que os alunos reflitam e ajam sobre a linguagem. Porangaba afirma que a linguística aplicada comprova que o ensino amplo de língua materna deve valorizar a língua falada, pois a mesma possui especificidades que precisam ser trabalhadas e estudadas. Até porque os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais propõem que as atividades de ensino em língua materna tenham o foco na linguagem.
Para a professora, aprender a refletir e agir pela linguagem requer entender e interpretar a realidade realizando atividades discursivas, que sejam capazes de dizer algo a alguém levando em conta as formas, contexto histórico e social e circunstancias de interlocução. Sem menosprezar o estudo de gramática, que também são importantes quando se trata em leitura e produção de textos levando em consideração que gramática, texto, e produção de textos devem estar em articulação.
Os textos de Venturi e Porangaba são elementos importantes na compreensão da LA. Ambas enxergam a linguística aplicada como uma área de investigação aplicada, mediadora, interdisciplinar capaz de auxiliar na resolução de problemas de uso da linguagem, por isso mesmo são indicadas a universitários que se preparam para a docência, já que trazem grandes contribuições ao modo de se realizar o ensino-aprendizagem de língua materna. Não que a linguagem seja rebuscada, contenha estrangeirismo ou algo do tipo, mas o fato é que foge do campo de abrangência das leituras de discentes da educação básica e média.
As professoras cumprem os objetivos a que se propõem com seus artigos: mostrar que a linguística aplicada é uma área que ainda está, de certa forma, engatinhando, ou seja, é uma área, que apesar de estar em pleno desenvolvimento, ainda tem muito a ser explorada. Mostrar também a importância da LA no ensino de Língua portuguesa e que seu estudo e compreensão são de vital importância ao auxílio do ensino-aprendizagem de língua materna.
As obras de Venturi e Edna facilitam o entendimento sobre LA, mas não posso deixar de alertar que são pequenas gotas num imenso oceano. Para aqueles que desejam mergulhar nesse imenso mundo é indispensável à leitura de obras como: Introdução à Linguística Aplicada de Robert Lado; Oficina de Linguística Aplicada de Moita Lopes; Linguística Aplicada ao Português Sintaxe de Ingedore G. Villaça Koch; Linguística Aplicada: reflexões sobre ensino e aprendizagem de Ana M. Barcelos; e outros.
Isaias Francisco da Silva, acadêmico do Curso de Letras Vernáculas do Instituto Federal de Educação e Tecnologia de Alagoas – IFAL, e do Curso de Letras/Inglês da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL.