E de Espaço - de Ray Bradbury

No meio do feriado de setembro tive em minhas mãos um livro de contos surreais chamado E de Espaço, nele podemos ver descritos claramente os anseios de qualquer ser pensante que viveu na década de 70.

Diga-se de passagem que o autor do livro é conhecido como o maior contador de histórias da America.

Um dos temas mais recorrentes nos contos do livro é a preocupação com a juventude eterna, a eternidade dos momentos de um passado distante. Em alguns momentos os personagens tornam a distância minimizada do passado visto de um futuro.

O descascar da humanidade ao longo do tempo e suas tecnologias que jamais disfarçam o medo ainda latente do desconhecido é um fio dourado que permeia bem as historias seletas do pequeno livro.

É uma leitura de momento, para ser feita de mente aberta, humor bem composto, relaxado. Não adianta ler este livro esperando grandes revoluções literárias, que você irá se desapontar. A obra tem seus momentos bons dependendo de seu ponto de vista. Posso dizer que o livrinho é uma pequena máquina do tempo para matar a saudade até dos que não viveram na época em que ele foi escrito.

Muitos assuntos tecnológicos tratados na obra são antigos, muita coisa descrita ja está descontextualizada e, incrivelmente enquanto isso ocorre, os assuntos sociais são o ponto crucial.

Meu conto favorito é entitulado “ Saudações e Adeus”. Nele é narrado a história de um menino que não envelhece sempre permanece em sua tenra idade de 12 anos. Dá um aperto no coração saber que a opção da vida dele é semanter e agir como se tivesse essa idade, mesmo ja estando nela há 40 anos. A descrição sensorial e olfativa desse conto é fora do comum. É fantasticamente delicada.

Inclusive a visão da criança sobre as mudanças do mundo é algo muito narrado em quase todos os contos. O autor mostra que o adulto se desgasta enquanto a criança recria o momento ao mesmo tempo em que são obrigadas a envelhecer. A figura infantil é pintada como salvadora e destruidora do mundo ao mesmo tempo, graças a cegueira dos adultos, descamados e descoloridos pelo tempo, mas mesmo assim amedrontados por envelhecer, por modernizar demais, por desumanizar demais.

Ao longo de todos os textos há um “que” especial de Kafka, um quase surreal de Poe, merecidamente citados em alguns textos. O ser humano adulto descrito nos contos junto com toda a sua necessidade de reconstruir, refazer, recriar e renomear, deixa sempre transparecer sua saudade pelosolhos e sentidos descritos das crianças.

As crianças do livro mostram maior sensibilidade e entendimento do que os adultos, talvez esse seja o real motivo do titulo do livro, ja que ele parece ser tão infantil, ao mesmo tempo que é estranho... E de Estranho.