R E S E N H A
Livro: A Autoridade da Verdade.
Autor: José Ignácio G. Faus.
Cidade: São Paulo, SP.
Ano: 1998
Editora: Edições Loyola.
Páginas: 283.
O autor, José Ignácio González Faus, nascido em Valência, 1933, é doutor em teologia pela universidade de Innsbruck, na Áustria, em 1968 e licenciado em filosofia pela universidade de Barcelona, em 1960. É professor de teologia sistemática na Faculdade de Teologia da Catalunha e é responsável do centro de estudos “Cristianisme i Justicia” também em Barcelona. Autor de vários outros livros de grande contribuição para a reflexão teológica.
Corajoso ! Poderíamos, assim, definir em apenas uma palavra o conceito dessa obra marcante e profunda muito bem escrita por Faus. Excelente trabalho de pesquisa, detalhado e com grandes subsídios não só para a história da Igreja, mas também para a eclesiologia e para a teologia em geral. Falar sobre a infalibilidade papal e/ou do magistério da Igreja é algo bem delicado, são mais de 2.000 anos de história em analise.
Tema “espinhoso” para ser tratado e divulgado, mas de suma importância para o desenvolvimento da Igreja em uma época em que esta tem a coragem de abrir o seu coração e expor as suas entranhas. Valoroso trabalho que sustenta a decisão do papado em pedir desculpas à humanidade por erros cometidos no passado. Afinal de contas, para falar de “momentos obscuros do Magistério eclesiástico” é preciso ser, não só corajoso, mas principalmente autoridade no assunto e sustentá-lo com um trabalho de pesquisa e subsídios muito bons.
O autor nos conduz a uma constatação da eterna luta entre o argumento de autoridade x o argumento de alteridade. Infelizmente, o primeiro sempre se destaca, sobressai. A autoridade sempre se impõe, é radical, é excludente, olha tudo e todos de cima para baixo, não dá espaço ao diálogo. Por outro lado, em se tratando de assuntos de “fé”, deveria prevalecer o argumento de alteridade. Pois esta é includente, coloca as pessoas em nível de igualdade, de respeito, de consideração, o outro está sempre em primeiro lugar. Enquanto a autoridade “fala” e raramente ouve, a alteridade primeiro ouve para depois falar.
A obra é dividida em duas partes :
A primeira trata com atenção dos “textos” marcantes que nos conduzem aos “momentos obscuros do magistério”. Nesse tocante, Faus não economizou na busca de assuntos palpitantes e que colocaram a nossa Igreja em situações delicadas, quando prevaleceu o argumento de autoridade. Podemos citar alguns, apenas para instigar o leitor : o poder temporal absoluto do papa; Santa Joana D'Arc; antissemitismo; a escravidão; fim dos jesuítas; a Igreja contra a vacina, a democracia, o ecumenismo e outros temas marcantes e que confirmam que a verdade de hoje poderá ser a mentira de amanhã.
Na segunda parte, Faus provoca uma profunda reflexão teológica sobre o que ele chama de “itinerário anterior”. Desce a analises e comentários que nos conduzem a compreender que, em muito desses momentos, a nossa Igreja esteve muito mais “preocupada” com aspectos de “segurança” do que com aspectos da “verdade”, que é o princípio básico da espiritualidade cristã.
Todos esses equívocos levaram a Igreja a um enorme atraso em termos gerais, o que acabou contaminando o “rebanho”. A “autoridade” eclesiástica deve estar atenta ao fato, pois isso se transforma em fator de desconfiança contra a própria Igreja e quantos fieis ela perdeu ao longo da história por causa disso ?
Faus constatou em sua pesquisa que o magistério da Igreja cometeu equívocos com maior frequência nos últimos dois séculos, isso em razão dos significados teológicos desses erros. E por que ? A resposta você encontrará lendo essa brilhante obra de história da Igreja que nos confirma que tudo deve ser visto levando-se em consideração o “contexto” da época. Caso contrário, você, leitor, certamente, também cometerá profundos equívocos e não será justo com a história !
Leandro Cunha