Lendo Lessa
Leio Lessa em Londres. Ivan Lessa, cronista da BBC Brasil. Ando lendo muito cronista, gente que eu nunca havia lido. E Ivan Lessa foi uma das boas surpresas que tive nesses últimos meses. Arrisco citá-lo entre os nossos grandes cronistas vivos - ao lado de gente aclamada como o Veríssimo (não pare de escrever, Veríssimo!), e outros menos, como o Ruy Castro, o Affonso Romano, o Humberto Werneck, o David Coimbra, e provavelmente outros que eu me esqueci agora, ou que ainda não li.
Antes de mais nada, é preciso dizer que Lessa escreve pra internet - ou Anete, como ele chama. Isso é curioso, muito curioso. Outro dia, eu entrevistei por e-mail o Affonso Romano e ele cogitou justamente isso: "Vai ver que a crônica, no Brasil sobretudo, pode desgarrar-se do jornal". É claro que estamos falando de cronistas profissionais - para nós, os mortais, ela nunca precisou do jornal. Mas é interessante como a a crônica para internet, ou a crônica publicada em blogs, continua influenciada pela imprensa.
Isso se vê tanto na escolha temática quanto no estilo. Vejamos o caso de Lessa. O tema de suas crônicas surge, parece-me que sempre, do noticiário. Em "O Luar e a Rainha" revemos notícias que pipocaram na imprensa internacional entre 2000 e 2004 - ou seja, revemos os atentados do 11 de Setembro e passamos pela Guerra do Iraque, para ficar nas notícias mais importantes.
Em meio a isso, mergulhamos nos fait divers, nas pesquisas e estatísticas absurdas e nos episódios insólitos - pois eles também acontecem em Londres. E deles Lessa extrai textos divertidos que só aos mais desavisados pareceriam superficiais. Está lá o questionamento da imprensa, suas escolhas, seus métodos e suas lógicas - e especialmente na "imprensa impressa", não na Anete.
Seus textos não são muito longos - ou, antes: são curtos mesmo. Eu viro a página e a crônica acaba na outra. Não poderia ser maior do que isso, já que originalmente são publicadas em um sítio - como o do Pica Pau Amarelo, lembra Lessa. Isso facilita a fluência, mas não seria nada sem o estilo do autor: há concisão, domínio das palavras, leveza e, não menos importante, visão crítica.
Somado a isso, temos a visão de um brasileiro que há uns 30 anos não volta ao Brasil. Está lá, em Londres, mas tão estrangeiro como antes - seus amigos, amigos mesmo, são outros brasileiros. E nos oferece a visão que só alguém de fora pode dar de nós mesmos - e, naturalmente, corrige (ou não) a nossa visão do mundo britânico, suas realezas e seus escândalos.
Se nada disso o convenceu a ler Ivan Lessa ainda, eu poderia citar alguma pesquisa, alguma coisa que os cientistas estão falando, que 87% dos leitores que leram o livro pela manhã, tomando café, numa quarta-feira de novembro, consideram o livro ótimo, bom, ou regular, e que 78% dos que acompanham seus textos na Anete conseguiram ler até o final sem sentir vontade de mudar de sítio.