Peter Pan por Dona Benta- Monteiro Lobato.

Monteiro Lobato

Monteiro Lobato, natural de Taubaté (SP), nasceu em 18/04/1882. É uma das figuras excepcionais das letras brasileiras. Jornalista, contista, criador de deliciosas histórias para crianças, suscitador de problemas, ensaísta e homem de ação, encheu com seu nome um largo período da vida nacional. Com a publicação do livro de contos Urupês, em julho de 1918, quando já contava com 36 anos de idade, chama para o seu talento de escritor a atenção de todo o país. Cita-o Ruy Barbosa, em discurso, encontrando no seu Jeca Tatu um símbolo da realidade rural brasileira. Lança-se à indústria editorial, publica livros e mais livros — Onda Verde, Idéias de Jeca Tatu, Cidades Mortas, Negrinha, Fábulas, O Choque, etc. Fracassa como editor, ao lançar a firma Monteiro Lobato & Cia., mas volta com a Companhia Editora Nacional, ao lado de Octales Marcondes, e triunfa. Tenta a exploração de petróleo, e acaba na cadeia, perseguido pela ditadura de Getúlio Vargas. Não só escreve, como traduz sem pausa, dezenas e dezenas de livros, especialmente de Kipling. Precursor do realismo fantástico, deixou inúmeras cartas, obras infantis, ensaios, crítica de arte e literatura. Foi também pintor, jornalista, empresário, fazendeiro, advogado, sociólogo, tradutor, diplomata, etc. Faleceu na cidade de São Paulo (SP), no dia 04 de julho de 1948.

Peter Pan ( Publicado por Monteiro Lobato em Novembro de 1930)

A história do menino que não queria crescer.

Contado por Dona Benta, do Sítio do Picapau Amarelo.

Voltando às Reinações de Narizinho, na noite de circo no Picapau amarelo, em que o Palhaço havia desaparecido misteriosamente, e todos estavam em dúvida quem o havia raptado. Exceto o gato Félix, que afirmava que o rapto só poderia ter sido feito por Peter Pan.

Ninguém no sítio sabia quem era Peter Pan, inclusive Dona Benta, que foi repreendida por Emília por saber menos do que um gato, e foi convocada a tratar de saber. Assim, diante da vergonha de Dona Benta, ela tratou de conseguir o livro em São Paulo, em inglês e cheio de gravuras, escrito por James Mattheu Barrie.

Nota sobre o autor: James Matthew Barrie, (Kirriemuir, Forfarshire, 09 de maio de 1860 – 19 de junho de 1937) foi um jornalista, dramaturgo e escritor de livros infantis escocês.

Barrie se tornou famoso com sua peça e história sobre Peter Pan (1904), o menino que vivia na Terra do Nunca, que travou batalhas com o Capitão Gancho e que jamais cresceria. O primeiro nome de Peter Pan foi, com quase certeza, tirado de Peter Llewellyn Davies (1897-1960), um dos irmãos Llewellyn Davies, que Barrie Conheceu.

Quando o primeiro bebê riu pela primeira vez,o riso se despedaçou em milhares de partes e todas elas se espalharam, foram saltando. E assim nasceram as fadas. (trecho de Peter Pan)

Cada vez que uma criança diz "Eu não acredito em fadas" em algum lugar uma pequenina fada cai morta no chão. (trecho de Peter Pan)

A história ficou marcada para começar no outro dia, e o pessoal do sítio estava ansioso, conforme relata o livro de Monteiro, cada um com sua característica especial de comportamento.

Peter Pan.

No outro dia, com todos reunidos, inclusive Tia Nastácia, Dona Benta iniciou a história: “ Era uma vez uma família inglesa...” (p. 74). Ela começou falando sobre a família de Wendy, composta por pai, mãe e dois irmãos. Wendy era a mais velha, João Napoleão o do meio e Miguel o caçula. Narra como eram os quartos das crianças na Inglaterra, chamados de “nursery” onde todas dormiam juntas, e que eram feitos especialmente para elas, com pinturas engraçadas, brinquedos e móveis especiais. ( As interrupções enquanto a história se desenrolava eram comuns, já que todos queriam fazer comparações, entender a história, confirmar dúvidas etc)

Ela conta que Peter Pan era um menino que não tinha pai nem mãe, vivia solto pelo mundo, não sabia quantos anos tinha e que fugira de casa ao nascer. Ele não queria crescer e nem se tornar alduto, e que morava na Terra do Nunca, onde viviam os lobos, índios e sereias. Lá moravam Peter Pan, os seis meninos perdidos, a fada Sininho, o Capitão Gancho e seus piratas. Havia também um crocodilo, inimigo de Gancho, que por ter engolido um relógio, chamava-se Tic-Tac. Este crocodilo, tendo comigo a mão do Capitão, motivo pelo qual o capitão usava um gancho que a substituísse, vivia o perseguindo, mas sua presença era denunciada pelo barulho do relógio.

Na noite em que Peter Pan apareceu, o pais de Wendy saíram e deixaram as crianças aos cuidados da cachora Nana, como de costume. A Cachorra Nana os banhou, acendeu as luzes, colocou-os na cama. A Senhora Darling, após contar-lhes uma história, ao sair do quarto, viu uma sombra de menino do lado de fora, e fechando a janela, guilhotinou a sombra. Achando tudo muito estranho, dobrou a sombra e colocou-a na gaveta da Wendy, enquanto todos já dormiam.

Após os relatos do que acontecera no quarto, entre Peter Pan, Sininho e as crianças, Peter Convenceu Wendy e seus irmãos a irem com ele conhecer a Terra do Nunca. Ele joga um pó mágico em todos e os torna leves e capazes de voar.

A Terra do Nunca

Os amigos de Peter Pan eram os índios peles vermelhas e os meninos perdidos. Seus inimigos eram os lobos e o Capitão Gancho e seu piratas.

Gostavam de brincar na floresta de Pegador e Chicote queimado, à luz do luar. No entanto, com a chegada de Wendy e seus irmãos, a fada Sininho ficou enciumada, pois Peter já não lhe dava tanta atenção como de costume.

Wendy foi eleita a mãe de todas as crianças, já que nenhum deles tinha mãe. E passou a contar-lhes histórias à noite e remendar roupas durante o dia. ( No sítio, Dona Benta parava de narrar a história para irem dormir, e para o outro dia, a continuação falaria sobre A lagoa das sereias).

A Lagoa das sereias e a morada subterrânea

No dia seguinte, Dona Benta retoma a história, dizendo que os meninos perdidos haviam construído uma casinha para Wendy, e lá ela dormia todas as noites. Contou-lhes sobre as aventuras dos meninos no lago das sereias, do perigo de Wendy ter morrido afogada e o que Peter fez para salvá-la. Da sua luta com o Capitão Gancho, e de sua vitória, e do salvamento da índia Pena Branca das mãos dos piratas. E em mais um dia, relata também sobre a caverna subterrânea que serviu de abrigo aos meninos, após as brigas que arrumaram com o capitão e seu piratas no Lago das sereias.

A volta

Após todas as aventuras vividas pelos meninos na Terra do Nunca, e com a morte do Capitão Gancho, era hora de voltarem para casa. A Felicidade da mãe dos meninos era indescritível, e tudo parecia não ter passado de um sonho. No entanto, todos contaram-lhe as aventuras vividas, e, para provar que estavam falando a verdade, os meninos da Terra do Nunca, juntamente com Peter Pan, foram apresentados à mãe.

Apesar de combinarem que Peter Pan viria visitá-los, com o passar dos anos, ele desapareceu e só retornava quando os descendentes dessas pessoas que ele levara à Terra do Nunca eram crianças, para levá-las também. A História termina falando da eternidade de Peter Pan e de todos os contos de fadas, vivenciados apenas na infância.

Considerações: A história é contada por Dona Benta durante alguns dias, e como proposta do autor, a vida das personagens do Sitio do Picapau Amarelo continua como sempre fôra: Emília com suas bobagens e grosserias contra a Tia Nastácia, Narizinho e Pedrinho curiosos com as passagens que não entendiam, e a Tia Nastácia, sempre dando suas opiniões, como quem transformava em verdade em sua cabeça, o que eram apenas histórias fictícias. No entanto, o autor aproveita as características do ambiente também imaginário do Sítio do Picapau, onde coisas inimagináveis e fantasiosas viram realidade na vida dos personagens, e cria facilmente a intertextualidade entre a história da vida no Sítio com a outra história inserida no contexto e contada por Dona Benta. É fácil perceber nas interceções feitas pelos personagens do Sítio, a necessidade da pegagogia aplicada, que tenta, através da sátira, do bom humor, e dos conflitos, trazer informações históricas, gramaticais, comportamentais e subjetivas em relação aos personagens de ambas as histórias. É como se o Universo imaginário contado por Dona Benta, se entrelaçasse ao do Sítio, criando uma intertextualidade literária infantil, que compara obras de dois mundos diversos, mas com características peculiares.

Antonio Marques de O Santos
Enviado por Antonio Marques de O Santos em 21/11/2011
Reeditado em 06/06/2013
Código do texto: T3347529
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