A moto Amazonas - Trecho do livro: DUAS PAIXÕES

          –– Perdoe-me se eu estiver errado, gente, mas é que li em revistas dedicadas a assuntos de moto que os construtores da Amazonas foram dois empresários de São Paulo, o Daniel Rodrigues e o Durval Rente, donos de negócios relacionados à indústria de autopeças e revenda de veículos –– disse eu, um tanto confuso.
          –– Não é bem assim –– esclareceu Alemão, amigo chegado de Luizão. –– Repare que nos depoimentos sempre mencionam que a ideia não foi deles, e sim, de dois mecânicos, um deles o meu amigo aqui.
          –– É verdade –– confirmou Luizão, ajeitando o galhinho de arruda preso em sua orelha. –– Na época eu tinha um fusca e uma Harley que vivia quebrando, lembra, Alemão?
          –– Pois é. E como não se achava peças para consertar, o Luizão se virava com as peças do fusquinha...
          –– Todas as vezes que eu saía de Harley dava problema. Sabe como é, entupia carburador, quebrava corrente, descarregava bateria... E sempre quem ia socorrer era o meu fusquinha. Ai eu pensei, vou colocar o motor do fusca na Harley... Ele nunca quebra.
          –– E colocou? Perguntou Luiza, curiosa. Ela, sentada ao meu lado, tinha sua coxa colada à minha e eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo jovem. Tinha uma vontade enorme de tocá-la, mas retraía-me.
          –– Sim. Mas aí, eu e o Zé Biston, um amigo da época, resolvemos construir uma moto inteira. Juntamos pedaços da Harley, de uma Indian, peças de fusca, de Ford Corcel... Muita coisa foi feita por nós mesmos, moldando, dobrando, soldando, até que a frankestein ficou pronta.
          –– A bitela ficou tão boa que foi aprovada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, acredita? –– completou Alemão para os amigos presentes, alguns desconhecendo esses detalhes, inclusive Luiza e eu.
          –– Aí melhoramos a oficina e montamos mais três. O pessoal começou chamar a moto de Motovolks. Essa bicheira que está aí na frente é uma delas. As outras duas vendemos e nunca mais soubemos delas.
          –– Foi quando apareceram os irmãos Ferreira Rodrigues e o Rente. Gostaram da moto e ofereceram uma gaita boa pelo direito de fabricá-las. Não deu outra. Vendemos a ideia. Eles fundaram a empresa AME e começaram a fazer as motos à qual deram o nome de Amazonas...
          –– Na época falava-se muito do estado do Amazonas, do Rio Amazonas, da Rodovia Transamazônica, da Floresta Amazônica, tudo grande, daí o nome também para a maior moto do mundo na época. Tinha até marcha-ré.
          –– Mas não parei por aí. Com esse novo capital associei-me ao Jacinto Del Vecchio, abrimos uma empresa, a Tepama, e passamos a pôr em prática a ideia de construir o protótipo de outra motocicleta. Maior do que o Amazonas é o Brasil. Construímos então a moto Brasil. Mais moderna, mais leve, e mais confortável. Infelizmente não conseguimos parcerias e não havia grana suficiente para levar a coisa adiante. Vendemos tudo que tínhamos, o Jacinto e eu, vendemos apartamentos, terrenos, carros, e no fim tivemos que abandonar o projeto. Acabou nunca sendo produzida. Enfim, não deu certo –– concluiu Luizão, pensativo, abrindo o colete surrado do Abutre’s, deixando a repentina brisa refrescar-lhe o torso nu.
          –– Tempos difíceis –– murmurou Ana Thunder.
          –– Mas que deixou saudades –– completou o Alemão da Harley
          
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Obs. Caro leitor, faça um comentário ou, pelo menos, deixe seu nome para que eu, em contrapartida, possa também ler o seu trabalho. Obrigado.
HFigueira
Enviado por HFigueira em 18/11/2011
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T3343014
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