R E S E N H A
Livro: Introdução à História da Igreja.
Autor: Marcel Chappin
Cidade: São Paulo, SP.
Ano: 1999
Editora: Edições Loyola
Páginas: 143
Em uma fábrica de automóveis, na linha de montagem, uma das peças importantes é o chassis. Sem ele onde será afixado o motor ? Onde será afixada a carroceria e os demais componentes do veículo ? Assim, guardadas as devidas proporções, entende-se que a História da Igreja é “peça fundamental” no estudo da Teologia Cristã.
O autor nasceu na Holanda, em 1943, estudou filosofia na Faculdade Jesuíta da sua cidade natal, cursou história em Amsterdã e teologia na Universidade Gregoriana onde doutorou-se nesta disciplina e onde é professor da cátedra.
O livro, como muito bem indica o seu título, é uma simples introdução dirigida, fundamentalmente, aos estudantes de teologia. Aos novatos que, obviamente, para poderem melhor entender o cristianismo precisam conhecer a história da Igreja, pois sem isso ficam sem compreender os movimentos que fizeram a Igreja chegar onde está. Imagine uma “roupa” mal costurada, sem estar alinhavada ? Ao tentar vesti-la, tudo cai. A disciplina de que trata o presente livro tem essa importante função, dar sustentação a história, mas não para estudantes de história e sim de teologia.
Chappin não se preocupou em mergulhar a fundo na história ou escrever tratados e mais tratados sobre os diversos pontos relevantes da história da Igreja, ele fez questão de manter-se fiel ao seu propósito de trabalho: escrever uma introdução à disciplina. Mas é exatamente o que se precisa no inicio de um curso de teologia cristã.
O que significa historicidade ? “É a qualidade da história de um fato”. E é isso que você encontrará neste livro. Pontos relevantes, bem costurados que dão compreensão contínua ao desenvolvimento do cristianismo ao longo de mais de 2.000 anos. E o que é mais importante, Chappin vai buscar a base de sua obra na legislação vigente na Igreja Católica, pois o estudo dessa matéria é “obrigatório”, tanto nos cursos de teologia quanto nos seminários e fundamenta isso nas linhas do Concílio Vaticano II sobre a educação cristã que solicita: “que se explore melhor o patrimônio da sabedoria cristã, transmitido pelas gerações passadas...”. É por isso que a história da Igreja é considerada matéria fundamental e não disciplina complementar.
O autor, apesar de profundo conhecedor do assunto, o que poderia com tranquilidade nos levar para discussões acentuadas de vários temas apresentados no livro, ele simplesmente faz uma apresentação dos “fatos”. Isto é, mesmo sem ser um livro voltado para a história, como disciplina, ele respeita a função da matéria: a história apenas registra os fatos, não emite juízo de valores !
Um dos momentos mais críticos da história do cristianismo, deve ter sido nos cinco primeiros séculos depois da morte de Jesus. Estudar essa religião, hoje, depois de 2.000 anos de história é fácil. Imagine as lutas, as discussões, a tensão, as crises que devem ter ocorrido naquele período de “nascimento” do cristianismo ? Como saber quem estava certo em suas interpretações e quem estava errado ? Como lutar contra as heresias e o gnosticismo que borbulhavam por todos os lados ? É preciso, então, conhecer bem a história da Igreja, pois ela nos leva, de volta, a todos esses momentos significativos e serve como se fosse um “farol” iluminando o caminho.
O livro é dividido em 4 capítulos, depois de uma breve introdução. No primeiro capítulo, Chappin fala do Estatuto Jurídico e as Raízes Históricas que direcionam a disciplina. E subdivide o capítulo em 4 itens. Neste momento, o autor discorre sobre a parte legal da matéria, faz ligações entre o Código de Direito Canônico, as instruções do Concílio Vaticano II sobre o tema e cita uma série de contribuições legislativas preciosas para a orientação do estudante. Ele fala sobre o processo histórico-positivo, da crítica interna, do nascimento da historiografia como ciência critica, etc.
No segundo capítulo, ele trata dos Fundamentos Teológicos e subdivide o capitulo em 6 itens. Ele fala sobre a história da Igreja e a formação teológica, sublinha a fundamental importância da Revelação como ponto central da reflexão cristã e de toda a evolução da crença. Passa pela historicidade da teologia, levanta pontos de heresias, mostra a dimensão teológica na cultura em geral, fala sobre os novos métodos teológicos, entra no estudo do progresso teológico e finaliza com a formação eclesial.
No terceiro capítulo, Elementos Historiográficos, subdividido em 15 itens, Chappin discorre sobre a importância das pesquisas no estudo da história da Igreja e destaca o valor desse conhecimento. O processo da pesquisa através de livros, documentos, arqueologia, tradições, etc. é fundamental no desempenho desta ciência. Ele vai mais a fundo, falando sobre a pessoa do historiador, o produto humano no procedimento, a individualidade e a socialidade do historiador, o historiador católico da Igreja, as fontes da historiografia, a qualidade e o caráter das fontes, a técnica da leitura, as estruturas da história, o processo histórico, a dignidade da pessoa humana, Deus e a história humana. Neste capítulo ele frisa:
“a história da Igreja é, sobretudo, a história da graça; graça aceita, graça recusada”.
No final, Chappin nos brinda com uma belíssima indicação bibliográfica dos mais expressivos nomes da teologia, rica em detalhes, extratos e informações importantes para um cuidadoso estudante de teologia.
Leandro Cunha