Ciberpoesia: uma leitura surpreendente
Ler José Fernandes em “Poesia e Ciberpoesia - Leitura de poemas de Antônio Miranda” confere ao leitor hodierno não só a oportunidade de deflagrar-se diante da poesia viva, cheia de formas, valorização do espaço, movimento, dinamismo, mas de se instaurar em um universo de surpresa, pois, em referência ao próprio autor “se qualquer poema realmente estético requer a leitura de luz e caverna, para nos encantarmos com o oculto silêncio escondido nos vãos das letras”, o poema visual é maná que alimenta os indivíduos ávidos pela magia da linguagem, mormente da literatura pós-moderna.
Segundo Saint-Beuve, “as únicas autênticas obras primas são os textos que jamais causarão tédio”, aplicação perfeita à obra do poeta goiano e crítico literário José Fernandes, ao considerarmos a fluidez e o encanto notórios em cada leitura, em cada página.
A simbologia das cores (vermelho, preto, azul) sendo explorada, bem como a concepção hieroglífica das letras nutre o leitor de novidade e cria fios que podem potencialmente culminar em teias hermenêuticas surpreendentes.
Se a letra [A] na concepção ideogrâmica do Sinai significa “esposo” e introduz masculinidade, operando o ato erótico, pode a obra “Poesia e Ciberpoesia”, no primeiro capítulo e primeira frase do livro “A arte literária, notadamente a poética, está sempre realizando movimentos bustrofédicos...” anunciar através do hieróglifo [A] a atmosfera de “reconhecimento” (Poética – Aristóteles) que a leitura sobre a poesia de Antônio Miranda proporciona.
Contrariando aqueles que pensam que poema visual fala por si só (mesmo que tal afirmação não seja inverdade), adentrar ao poema visual sob a luz de José Fernandes garante mobilidade e, na acepção de Barthes, prazer proporcionado pelo texto, seja a cada haicai (brincadeira harmônica e metalinguística) ou ato concreto da poesia.
Aquilo que é incrível, a partir da leitura da ciberpoesia e poema visual, passa ser possível, ganha crédito, crível. Admirável!