Padrões de manipulação na grande imprensa *
 
 
A manipulação da informação é praticada pela maioria da grande mídia brasileira, não refletindo a realidade, que é distorcida, portanto a realidade é artificial, nesse processo. A manipulação é feita de diversos modos, porém não em todo o material, pois se assim fosse seria autodestruidor.
 
1 – Padrão de ocultação – Ausência e presença dos fatos reais. Silêncio deliberado em determinados fatos da realidade. Segundo o jornalista Perseu Abramo “A ocultação do real está intimamente ligada àquilo que (...) se chama“fato jornalístico”. Ou seja, na pauta existem fatos e não-fatos jornalísticos. Uma concepção seletiva dos fatos.
 
2 – Padrão de fragmentação – “O todo real é estilhaçado (...) fragmentado em milhões de minúsculos fatos particulares (...), desconectados entre si (...) sem vínculos com o geral...”, prossegue Abramo. O fato, portanto fica fora do contexto.
 
3 – Padrão da inversão – Descontextualizados os fatos, opera-se a inversão, com o reordenamento das partes e a troca de lugares com a destruição da realidade original e a criação artificial da outra realidade”.
Na inversão da relevância dos aspectos, o secundário é tratado como principal e vice-versa.
Na inversão da forma pelo conteúdo, o fato é menos importante que o texto. E na inversão da versão pelo fato, o fato tem importância, mas de acordo com a versão do órgão que o divulga.  No lugar do fato, apresenta declarações suas ou alheias, com versões de opiniões nebulosas. Significa que, se o fato não corresponde à versão de quem o divulga, o fato deve estar errado (sic).
A inversão do fato se dá, também, por meio do oficialismo, no sentido de indicar a fonte oficial, que pode ser uma autoridade do Estado ou do governo, ou de qualquer segmento da sociedade.
A inversão da opinião pela informação substitui a informação pela opinião. A informação serve, portanto, apenas para ilustrar a opinião que se quer impor à sociedade.
 
4 – Padrão de indução – O leitor/espectador é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja.
 
5 – Padrão global ou padrão específico do jornalismo de televisão e rádio – Segundo Perseu Abramo, divide-se em três momentos básicos, como espetáculo, jogo de cena em que o 1o Ato é o da exposição do fato. Fato esse apresentado de forma sensacionalista, menos racional, com imagens e sons. No 2o Ato é o momento em que a sociedade fala. Com pessoas dando seus testemunhos, expondo alegrias e dores, críticas, queixas e propostas. O 3o Ato é o da autoridade que resolve. Reprime o mal e enaltece o bem. Tudo será resolvido. É o papel alienante da autoridade.
Temos então uma realidade substituída por outra realidade, artificial, irreal. Nesse espaço o cidadão se move, sem agir, de preferência!  
 
 
“Porque o jornalismo manipula a informação e distorce a realidade?”, pergunta Abramo, acrescentado que é deliberada, tem um significado e um propósito. Em seguida fala sobre interesses econômicos (ambição de lucro) e a lógica do poder. “Para exercer o poder e recriar a realidade, precisam manipular a informação, tornando-se, portanto uma necessitade”, que a leva a se transformar em um partido político.

Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com os seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. A Folha de S. Paulo, o Jornal do Brasil, a Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência.
        
Perseu Abramo, tivesse vivido os avanços da internet, dos blogs e das redes sociais, constataria o quanto a grande imprensa perdeu em credibilidade. As manipulações veículadas na grande imprensa são desmascaradas por jornalistas éticos em suas páginas na internet.
                     
* Perseu Abramo foi jornalista e sociólogo. Trabalhou no Jornal de São Paulo, na Folha Socialista, A Hora, em O Estado de S. Paulo (Estadão), na Folha de S. Paulo, entre outros, além da Rádio Eldorado e TV Globo. Faleceu em São Paulo, em 6 de março de 1996, aos 66 anos.