O Lirismo de Wagner Ribeiro em Coroas de Sonetos

O Lirismo de Wagner Ribeiro em Coroa de Sonetos

A magnífica obra literária “Coroas de Sonetos”, do poeta Wagner Ribeiro, publicada em 2010, pela SERCORE Artes Gráficas, 1ª edição, Aracaju/SE, surge para enriquecer o manancial da literatura em Sergipe, uma vez que, ousadamente, o autor desafia os limites dessa modalidade poética, compondo três coroas em uma única obra. Assim, o referido produto cultural é tecido cautelosamente pela rede de coroas: A Criação, Tributo aos Deuses Lares e Sic Transit.

É oportuno salientar que, a coroa de sonetos é uma das espécies poemáticas mais complexas da família deste gênero, quer pela exigência da forma fixa e pela lapidação literária, pois a mesma estrutara-se a partir de quinze sonetos onde cada soneto funciona como estrofe, sendo que o último verso do soneto inicia a estrofe subsequente. Acrescentamos ainda que, o último soneto tem como objetivo condensar uma síntese das estrofes anteriores. As estrofes abaixo foram extraídas da segunda coroa Tributo aos Deuses Lares, as quais comprovam a afirmação recém mencionada.

À pobre humanidade, o que lhe resta.

Esquecidos os Deuses da Floresta,

Esquecidos, de há muito, os Deuses Lares?

Esquecidos, de há muito, os Deuses Lares,

Pequeninos, solícitos – humanos

A quem a morte desvelou arcanos

Para fazê-los deuses tutelares.

Ribeiro, sonetos 3 e 4, páginas 35 e 36

Nesse contexto, o baiano radicado em Sergipe, professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe e membro da Academia de Letras, mais uma vez, vem presentear o público leitor com um trabalho sedutor e singular por excelência, comprovando novamente sua competência literária na poesia brasileira, pois a composição textual Coroas de Sonetos é apenas mais uma obra que complementa seu acervo de publicações bem sucedidas: Cantar do Minotauro ( ), Cantar de Ariadne ( ), A Vida Cheia de Véu ( ), Memorial do Aedo ( ) e a Angústia de Zeus ( ).

Em Coroas de Sonetos, Wagner não economizou artifícios literários para lapidar sua obra-prima totalmente tecida por uma malha poética delicadamente ornamentada de vocábulos rebuscados, esquemas de rimas suaves burilados por uma expressividade musical, promovendo para o receptor uma epifania ímpar que só o gênero poético bem construído pode oferecer. Não podemos esquecer, ainda, da magnitude de sua abordagem temática bem alinhavada pela coesão e coerência textual, e consequentemente arrematada pelo ineditismo de sua síntese sobre a origem do universo, a evolução humana, seu relacionamento com os deuses e sua própria catástrofe.

Nesse prisma, permeando a primeira coroa de sonetos A Criação, nos deparamos com quartetos e tercetos de quinta grandeza que não contrapõem a nossa afirmação:

Corcel em magma, de fogoso passo,

No vácuo, cego e louco peregrina,

Deixando rastros de fúlgida crina

Até que se acomoda de cansaço.

Ribeiro, soneto 1, p. 15

A musa se reserva algum segredo,

E a arte que mais excele num aedo

É o quanto evola a palvra fria.

Ribeiro, soneto 3, p. 17

Conforme as estrofes apresentadas acima, o artífice da palavra segue a feitura da sua composição tecendo, pontilhando, encadeando e entrelaçando rimas sublimes, versos singulares, estrofes rítmicas e audíveis como uma sinfonia lírica e paradisíaca.

Explorando vulcões, águas, terras e seres, o autor prossegue com sua incansável trajetória de lirismo, para exprimir a essência e a metamorfose da vida que instiga o homem em quase todas as culturas do mundo : a evolução, decadência e destruição do universo. Vejamos algumas estrofes da terceira coroa Sic Transit:

O peito opresso, a voz me entibia.

Procurando a razão dessa orfandade,

Teme o estro que à Musa desagrade

Todo o quadro de horror do último dia.

Ribeiro, soneto 1, p. 51

Eis ... é chegado o tempo que esboroa.

E o ruído da grande profundeza

Traz aos homens em pânico a certeza

De que a hora fatídica já soa.

Ribeiro, soneto 5, p. 55

É relevante observar que, a espécie poemática coroa de sonetos não é um trabalho literário de fácil elaboração pelas exigências aqui já apresentadas. Desse modo, encontram-se poucos autores que se arriscam por essa trama subjetiva, destacando-se em solo sergipano, o inesquecível Mário Cabral que singrou por esse oceano complexo, instigante e atrativo.

Assim como na obra de Mário Cabral, a Coroa de Sonetos de Wagner Ribeiro é digna de permear espaços múltiplos: culturais, educacionais, intelectuais, e, sobretudo, alcançar voos que excedem solos sergipanos e brasileiros. Nessa perspectiva, os amantes da arte literária ao se debruçarem sobre esta produção, não estarão diante de um livro comum, mas diante de um banquete apetitoso de sabor inigualável.

G Aguiar
Enviado por G Aguiar em 02/10/2011
Reeditado em 17/07/2012
Código do texto: T3254286
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